Depende do Poeta...
Nasce na noite perversa de frio
Um ínfimo arco-íris de fogo
Fazendo na neve branca
Um rio
(Quase invisível)
Que corre na alma branca
Da paz monótona
(indescritível)
Que era sentida.
Nasceu uma flor
Minúscula e rubra
Para ser regada
Sem dor…
Se algum dia será vista?
Só depende do poeta
E do seu amor…
Ausência
Na manhã que te levou
Na tarde que não se cala
No beijo que não te esquece
No abraço que ainda aquece
Na noite que te esperou
Na cama onde agora dorme o frio
Na tua ausência doída
Num quarto vago e vazio
Minha saudade deita seu corpo
Junto ao teu corpo macio
Faço das palavras
Faço das palavras, a minha voz
das insubmissas lágrimas, o meu (a)mar
do meu inquieto olhar, a certeza
da vontade louca… de te tocar
mesmo sem te contemplar
Do tempo, faço um quadro
que escorre ainda, a frescura
com que pincelo a noite
de cintilante luar
e de ponticulos estrelas
remanescentes
do teu fulgente olhar
No céu paira o estranho pulsar
do sangue em reboliço, ardente
na longitude do além…
pujante na imensidão
do permanecer crédulo
nos limites ilusórios
da mente vivente,
em união
SER SÓ A BATIDA DO CORAÇÃO
SER SÓ A BATIDA DO CORAÇÃO
De manhã a luz reluz, sempre...
Às vezes em sol beligerante
Às vezes com chuvisco na rua
Têm o café, o pão em fatias, o mamão
Vez em quando têm à mesa, alegrias...
Em seguida é a noite que vem...
Às vezes nesga de céu nas nuvens
Às vezes meia lua, vezes outras, lua cheia
Tem a penca de estrelas, o piscar de vaga-lumes...
Tem tu, ávida, nua... Tem sim, quando em vez...
Quisera poder ser eu, de vez, noite e dia
Às vezes só onda de calor que irradia
Às vezes só calmaria ou bruto furacão
Ser um fogo que alumia, o sereno que esfria
Quando em vez, talvez, só batida de coração...
Gê Muniz
...deito-me com as palavras
Este querer mais forte
que o próprio querer
apenas próprio de quem ama
aos dedos que espelham a alma
sob o silêncio etéreo da madrugada.
Está fria esta cama
mais fria que o próprio frio
que se derrama lá fora
apenas sintoma deste vazio
sob o latejar insano da alma.
Deito-me com estas palavras
que dedilho ao lusco-fusco
ainda escondido
ao despertar longínquo a horizonte.
Adormeço ao enlevo
do encanto em que me afagas
na mansidão do teu doce murmúrio.
sigo caminho
há nuvens que pairam no céu
sem saber para onde caminhar
só os ventos o sabem!
tal como os ventos da vida
a quem me deixo confiar
no meu lento desagregar
despreocupada a noite cai
tal como eu a ver chegar
o outono,
amanhã anuncia-me a velhice
e eu sem um ai
consola-me a lua e as flores
também elas ao abandono
a um só tempo
chegará a primavera
e os meus cabelos brancos,
a noite a cair,
eu sem saber, se há amanhã
estou pra ficar, ou é dia de partir
no meu coração
nunca se quebra o fio
sigo o caminho das espigas,
esgueiro-me por entre o orvalho
levo frio, e palavras antigas
que são, migalhas de pão
de que me valho.
natalia nuno
imagem pinterest
ESTRELAS NO FUTURO
ESTRELAS NO FUTURO
- anoitece -
alvorecer do escuro
no meu olhar
estrelas no futuro
dão a luz
(pelos furinhos do muro)
PINGA-FOGOS DE LUZES E SONHOS
PINGA-FOGOS DE LUZES E SONHOS
n’um arfar de peito que se esvai
n’uns olhos sobejos de palidez prata
n’uma sombra soturna e inútil de árvore
na brisa fria e baralhada que me contrai
no alvoroço das nuvens ao compasso da noite
no manejo das almas a ombrearem a lua...
singra uma nau insensata
de orbitar emoções
pelos mares sensoriais da galáxia...
e há morte contente ao tombarem estrelas
e há pinga-fogos de luzes e sonhos
sobre as folhas orvalhadas da cerca viva
do quintal encandeado da minha casa
A noite cavalga no meu peito
A noite cavalga no meu peito
Neste peito prensado de luar
Galopando o meu corpo vagueia
Na arrojada essência de ficar
Percorro as areias movediças
Em equilibrados saltos mortais
Sinto-me um mero saltimbanco
Em plenas acrobacias sequenciais
Voo no prolongamento do tempo
Nos braços da divina loucura
Estonteando o meu corpo sedento
Orvalhado-o de suave ternura
A noite morre à beira do sol
Nas madrugadas sequiosas de cor
E nos meus olhos impregnados
O gosto salgado do teu sabor
Escrito a 15/06/09
NOITE DA NOITE
A NOITE DA MINHA NOITE
A noite irrompeu na janela.
Aconchegou-se ao sofá.
Queria me beber,
Queria me ceiar.
Estendeu seu olhar amalgamado
A piscar um enluarar ávido.
Passou a língua suada de orvalho
Sobre o cerne de meu peito pálido,
Esquálido, cansado, pendido ao fado.
Deitei-me, tomado, à sesta baldia
Da madrugada feita aos passos
De raios de dentes reluzentes
De intermitentes celestes esguias.
Sem desfeita, fui mastigado...
Primeiro fendi-me em planeta,
Depois fraturei-me em cometa.
Enfim consumei-me em estilhaços
D'um violeta meteoro grávido
Povoado de cristais baços...
Plácido, deixei-me trombar de frente
Com minha estrela-guia
Astro frágil de lastro indulgente
Que, em mim, se esbatia
Pelo céu ruço que se insistia
A banhar-me o dossel vago da mente
Riscado ao espaço em hipérbole cadente...
A treva, carente, nutria
Com as fibras do ser que esgotou-se
A boca-da-noite esfomeada
Que, ardente, desavisada,
Sem suplício ou açoite,
Devorava minh’alma que dormia.