Duas Vogais E Duas Consoantes ( Ó , Cruz, Ai , Me ! )
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Duas Vogais E Duas Consoantes ( Ó , Cruz, Ai , Me ! )
Do poema basta-me ... o último !
aquele que não escrevo , de súbito !
a retroceder para a manjedoura
onde nascem as crianças condenadas
pelos nomes que o peso do passado histórico , condena !
e , como por milagre , os reis , abraçam-me !
iluminados por aquela bela estrela , estilhaçada !
pelas mãos sujas dos sacerdotes , hipócritas !
ai que de mim nem quero ouvir o nome , na vossa boca , conspurcada !
podeis comprar a praça , podeis comprar os homens ,
podeis pagar aos pobres que nome não têm ,
podeis cobrar dos sem-terra , que indigentes são ,
mas jamais podereis curvar-me as costas , flagelo !
e eu aceno-vos os povos que atravessaram os mundos , por este dia !
que me cega , que me estripa ! Mas não me veda , à razão !
que me eleva no templo onde as vossas trombetas , vendem !
deuses , orações , profetas , no tilintar cunhado , das moedas !
quem sois vós , afinal ? Sois o êrro de toda uma humanidade , sofrida !
que das bestas com vestes d´anjos todos sabemos , nojentas !
mas , ah , rides-vos e dais cambalhotas d´alegria , ó tolos !
porque acreditais que em breve , muito brevemente , num instante !
de mim , que vos aponto a mentira que pregais , vos livrais !
ó como vos enganais , exército d´impotentes , cabeças vossas , prémio !
para o primeiro daqueles que vos apunhalará , fielmente !
mas que sim , se vós o dizeis , porque eu não o digo ? também !
e , deixai o galo cantar que são três os seus toques , anunciação !
deixai o meu irmão negar , que são três os dele , perdões !
mas dos vossos êrros, nem de um esquecerei , anotai !
que importa se minha mãe me chama , não é ela o que eu sou ?
que importa se Madalena me segue , não é ela que me ama ?
que quereis mais ? se tudo tenho com quem no tudo me tem ?
ah , julgais que não aguento , a cruz !
que me pregais às costas , que me subis aos montes , através
e ao meio duma multidão de mutilados que jogaram fora , o cérebro !
eis-me aqui vazado de sangue , rasgado de povo que são povos , amados !
não , não me renegarei , não me submeterei ao sim de vós , lei !
"Pai , Pai , porque me abandonaste ? Em Tuas mãos entrego o meu , espírito ! ..." ...
que são três , três são , tal como o canto do galo , tal como o não do irmão ,
três são os dias da minha mais sofrida provação , vencida !
e , sabeis , quem me espera na saída , dela ?
ela , sim , ela !
Maria - dela vim ; Madalena - a ela me entrego ...
teimo porque sou para além daquilo que vós enxergais , cegos !
teimo e jamais voltareis a escutar o que vos ensurdece , palavra !
Sim ! podeis levar-me ...
Luíz Sommerville Junior , Eu Canto O Poema Mudo
Ao Trabis, admnistração, colaboradores, poetas e leitores apresento os meu votos dum Natal Muito Feliz.
Tudo de bom
Jorge