As tuas (inertes) palavras
Mentes à Palavra
Como se súplica fosse o teu verso
Decadente, com que presenteias
O teu (in)fiel seguidor
Cuja cegueira se cura
À velocidade da luz.
A falsidade engolir-te-á
E os espelhos reflectirão
A podridão da tua alma
E a inconsciência do teu verbo.
A face da crueldade brilha no escuro
E as evacuações contínuas
Com repetições de limpezas
Do que te suja o mural
Já fede e os olhos abrem-se
Vendo, finalmente, a luz!
Imbróglio
Se arrependimento queimasse…
Já estaria em câmara ardente
Embora da morte me desembarace
Nunca vou aprender a ser gente
O seguro tem perna curta…
E às vezes sai lesionado
A mentira não chega a velha
Não vai ao fim do reinado
Quem tem medo compra um gato…
Arrependo-me de ter cão
É um imbróglio danado
Até já nem eu me entendo
No meio desta confusão
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
“Intransferível...”
Quando solícita, permiti que adentrasse
E que nosso pensar fosse uma só alquimia
Dei a senha para que em meu íntimo entrasse
E invadisse meus portões com tua fantasia
.
Sem medo, lhe confessei minha intimidade
Deixei que minha vida, dissecada no breu
Por teu sorriso largo inundasse de claridade
E matizasse meu sorriso, cada gesto teu.
.
Teu receio é miragem, já que sou incomum.
E desafiando o vulgar, asseguro fidelidade.
Não brinco com emoção, só sei amar de verdade.
.
O segredo que é teu, não divido com nenhum.
Se me olhasse veria, tua dúvida me amofina.
E a confiança que busca, escrito em minha retina.
Glória Salles
-Registro na Biblioteca Nacional
-Ministério da Cultura
-E.D.A. —
No meu cantinho...
O ruído da mentira
Nos teus olhos vejo
O ruído da mentira
Minimizando o valor real
Da verdade
Para que possas dormir
Com alguma tranquilidade.
Pintas de claro cinzento
A escuridão dos actos
Para te convenceres
(porque já não convences ninguém)
Que o que foi escrito
Não era para ofenderes.
Defendes a maldade
(Na vergonha perdida)
Na tentativa de camuflar
A importância da história
Que viveste e de que não queres
Memória.
Fuga na imagem distorcida
Duma realidade não suportada
Pelos teus mais profundos valores
Resultando numa desgastada
Cobardia sem arrependimento
De vítima mascarada.
Negação
Hoje decidi que não te amo mais.
Não quero um coração partido
a gemer-me no peito,
não quero memórias de vidas passadas
nem esperanças subtis
do que nunca viverei.
Não quero ver através dos teus olhos
que tantas vezes me beijam
e me atraem a precipícios de loucura.
Temo apenas por ti...
Que farás quando souberes
desta decisão
(que bate falsa dentro de mim)?
Não quero saber-te assim tão perto,
quando longe está teu corpo
e tua boca.
Não te quero aqui
agora que não te amo mais
(muito mais, muito mais hoje).
ALMAS VAZIAS
Esse teu mundo é uma fantasia ,
Dia a dia a verdade já é mentira ,
Adição , subtração, o que me dás, o que me tiras ,
Já estou cheio destas almas vazias
Será que andas perdido? Os teus ideais , teus valores ,
Vês alguma saída , ao sabor do vento...
É assim a vida sem razão , Quanto maior a altura maior o tombo pois então…
Esse teu mundo é uma fantasia ,
Da euforia directo á melancolia ,
Adição , subtração , gente feia ou gente gira ,
Já estou cheio destas almas vazias
Será que andas perdido? Os teus ideais , teus valores , vês alguma saída , ao sabor do vento …
Sujeito passivo , alienado , só, preso aos teus temores
É assim a vida sem razão , Quanto maior a altura maior o tombo… pois então
É assim a vida sem razão , Quanto maior a altura maior o tombo… pois então
Não há bem nem mal que nunca acabe, nem bela sem senão ,
Do alto da tua queda alguém que te dê uma mão...
Porque és uma vitima, um objecto , deste circo em directo
SEMEANO OLIVEIRA
Maledicência
Maledicência
Quando a calunia profanada,
for difundida pelos cantos,
caminhará a tempo eterno,
brotando mares de tantos prantos.
Falso profeta desta palavra,
me visto belo, pela oratória,
colada a água é minha máscara,
minha atitude é probatória.
Somente o tempo é sabedor,
desvenda encantos de minha fala,
se é profano e causa dor,
o "Júri" ouve o que me cala.
O tempo eterno já não dura,
de breve passo chega a verdade
boca doente, recebo a cura,
envenenado por tal maldade.
Foi mentira servida em cálice,
sorvi aos goles por persistir,
Assim pude chegar ao ápice
do gozo ao vê-lo desmentir.
Mentiras e meias verdades
Ainda não perdôo mentiras
nem verdades cortadas em tiras
que nem bem tapam as partes pudendas
não suporto verdades em rendas
que enfeitam o viver sem vestir
não consigo admitir
a diferença entre mentir e omitir
não consigo entender a necessidade
de fantasiar a verdade
para ludibriar e conseguir
dizem-me que devo perdoar
mesmo sem ensinar
o quanto mentir pode matar
mas não consigo achar o perdão
em meu pobre coração
se quem mente persevera em errar
se quem mente não tem compaixão
se pisa em crédulo coração
que abusa sem pensar do verbo amar.
Como posso eu assim perdoar?
CARTAS
Tantos são os caminhos em que me posso hoje perder
Que acabo sempre ficando só para não ter de escolher
Tu sabes que essas palavras escritas com tão cuidada letra
Foram-se elas mesmas anulando apagadas pelo pó do dizer
Ou pela minha vaga convicção da mão fraca na caneta
Eu nunca amei aquilo que disse ter amado
Somente errei ao ter-me assim enganado
Sim porque tu certamente sempre soubeste
Sempre conheceste a minha mentira
Então não me peças agora o que nunca tiveste
Ou o que nunca te dei na hora em que frio te beijei
Eu não vou escrever mais uma dessas cartas
Que te diga amo-te e que alguma vez te amei
Pois tu sabes que não seria verdadeira
Poderia até ser a minha derradeira carta
Mas eu nela mentiria como o fiz na primeira
Minha alma tombada na estrada já se farta
E a vida está quebrada quase por inteira
Hoje eu vou apenas ficar
Vou rasgar todos os compromissos que contigo eu assinei
Estou a tentar meu corpo deixar
À sombra do boneco que ontem te dei
Vai andando sem olhar para trás
O que ouves é apenas o eco da voz
De um grito que não quererás ouvir
Ele não chama por ti nem chama por nós
Apenas grita nada importante que te possa importar agora
Apenas imita
Uma alma que chora
www.meraspalavrasammc.blogspot.com
deus-fogo
espero que o deus-fogo
rangendo os dentes
lance à solidão da rua
uma lua fulminante aos ídolos!
porque toda a vida menti
e minha felicidade hipócrita ri
ciosa da minha pobreza.
acordo a blasfémia,
uma criança exuberante lambe
bonecos de guloseimas,
incansavelmente,
é a sua língua
o mundo profundo, mais profundo
do que a dor.
lamina enferrujada
rasgando o corpo.
bebo o vinho
e desprezo o deus-fogo.
o equilibrista dança,
é o ser mais solitário, o mais melancólico
antes de nascer o sol.
e se alguma vez duvidei
percebi que
é esta a estrela mais brilhante
da noite negra.
Noite negra,
nuvens metamorfoseadas
do desejo de mil seios.
prefiro ainda assim a criança
hálito do vinho
sussurrando ao ouvido
porque śo assim
desmascaro os sete rostos da mentira
e só o tempo
me fará encontrar o mais naíf instante
em que fui verdadeiro.