Inês de Portugal
..
Inês de Portugal - Nesse Lago Tão Quieto
Tu
que és tão grande
que eu não consigo ver-te
que és por cima
dum céu
vermelho de flores que chora
o verde vida das pétalas em ferida
neste silêncio
em que
"todos os barquinhos
cansaram de nadar"
dizes-me
por que dormes
eternamente
nesse lago tão quieto
por baixo
deste mar?
Luiz Sommerville Junior, in memorian
01 de Setembro 1929 - 04 Junho de 2013
Alinhando as estrelas
Saiu da sala de jantar. Ninguém reparou.
Desceu alguns degraus e baixou-se para tirar os sapatos de salto alto. Então, desceu o último degrau e sentiu a areia seca tomando-lhe os pés.
Deu alguns passos seguindo o chamamento das ondas.
Sentou-se, pousou os sapatos e abraçou os joelhos.
A noite estava quente e húmida. O vestido branco agarrava-se à pele, do mesmo modo que, a espuma branca das pequenas ondas, se vinha agarrar à areia.
Ainda conseguia ouvir a música tropical vinda da sala e as vozes sem palavras definidas. Tinha sido um jantar muito agradável. Tudo era bom e bonito. Perfeito, se não fosse a sua fome de silêncio e de solidão.
Sentia-se bonita naquela noite, Sentia-se em paz. Mais ainda, ali sentada sozinha. Num ímpeto deixou-se cair para trás e ficou deitada. Olhou o céu azul escuro e viu milhões de estrelas. Definiu algumas constelações.
Tentou definir caminhos de estelas. Complexos caminhos que lhe fizeram lembrar as estradas da vida. Viu as estrelas desalinhadas e iniciou um árduo trabalho de tentar alinhá-las. Pareceu-lhe possível. Mas, nessa noite sentia-se cheia de força. Uma força interior que nem sempre conseguia ter. Com a ajuda do mar, conseguiu mesmo alinhar alguns caminhos. Caminhos seus. Caminhos irreais.
Talvez tenha adormecido. Decerto que sonhou e, só acordou, quando sentiu a presença de alguém perguntando o que fazia ali, tão só.
Não era uma voz conhecida. Não era alguém que a procurava mas sim, alguém que a encontrou. Simplesmente respondeu que estava a alinhar estrelas. Ele sorriu e sentou-se ao seu lado. E só perguntou se podia ajudar…
Por vezes, também gosto de escrever em prosa.
Mar e guitarras
Se o fado me mente na tristeza
Consola-me a alma, o garanto,
Pois sinto no seu canto a beleza,
Da alegria, ao secar meu pranto.
Podes mar sussurrar um chamamento
Nas águas serenas de Verão
Acompanhamento terás, lamento,
Das guitarras que não se calarão.
Mar e fado de mãos dadas, cantem
Memórias do meu belo recanto
Chamem a coragem e agitem
Os ventos de outrora, num só manto.
Cubram esta terra nossa que tem
Nobreza de espírito, encanto…
"Certo querer..."
"Certo querer..."
Uma longa espera...
Pelo que nunca veio e talvez jamais venha.
Um querer provar outro gosto, outro bocado.
Perco-me nas voltas que traço
E meus territórios abertos
Mostram-me o horizonte longe demais.
Inalcançável aos meus olhos...
É querer esse “nada” cheio de mistérios.
Outras palavras, antes jamais ditas.
Rios que querem fluir, ir ao encontro
Do mar desconhecido, assustador.
Ao mesmo tempo o medo
De ficar a deriva, num mar bravio...
É me olhar do alto de mim.
Nada entender, ainda assim me permitir.
É o querer ser o que digo
E o que penso, sem negar, nem me esconder.
É querer o plano “B”, antes até
Da estratégia montada.
A ânsia por descobrir, conhecer, ouvir.
É contornar minhas margens
Preencher meus espaços...
E aprender a nesses vácuos...
Não tecer fios de solidão.
Confuso esse querer ir embora
De mim mesma...
Glória Salles
19 outubro 2008
20h18min
O Mar!
Mar, tu que envolves a areia
Com toda a tua força e paixão
Quem te sabe admirar
Já presenciou esta linda união!
União essa que é sublime e encantadora
A força com que a areia abraças
Fazes esquecer a muita gente
Que a vida tem desgraças!
Mar, és incrível e avassalador
És fonte de grande inspiração
Tua paisagem tem efeitos curativos
Cura muitos males de coração!
O horizonte faz parte de ti
O sol todos os dias te vai beijar
És majestoso, imponente
Visto muitas vezes por quem sabe amar!
Quando o sol te beija
Torna-se num momento de grande admiração
Nem todos sabem avaliar este teu poder
Nem todos são dignos de tamanha contemplação!
Este poema foi feito hoje, sentada à beira-mar, contemplando o pôr-do-sol!
Caminhar na alma
Saiu sozinha. Meteu-se no seu carro.
Acelerou, como sempre fazia naqueles dias em que queria que o mundo a deixasse em paz.
Gostava de carros potentes que a levassem rápido ao “seu cantinho da solidão”. Desceu a serra alimentando o prazer de fazer e desfazer as curvas.
Depressa, chegou ao mar.
Estava revolto e espumava a sua ira em gigantescas ondas brancas.
Nem sequer havia sol. Estava tudo deserto, como ela queria.
Sentou-se numas rochas e sentiu-se dona de si.
Caminhou no fundo da alma e encontrou as suas flores preferidas.
Estavam murchas de tristeza. Regou-as com lágrimas.
Sorriram-lhe e arrebitaram. Tinham saudades da sua atenção. Sorriu também.
Em paz consigo própria (mas não com o mundo), ali ficou olhando o mar…
ÚLTIMO MAR
Hoje vi…vi o sol ,
No meu pensamento se eclipsou.
Tudo ficou escuro, sem sentido,
Tudo se aproxima…vai chegar…
O ÚLTIMO MAR !
Aproveitei a escuridão,
Para entrar na noite acordado.
E sem queixas do passado,
Anseio pela próxima visão.
Hoje vi…vi a lua,
Espelhada num rio…frio,
Nas águas escuras, do teu sonhar.
Tudo se aproxima…vai chegar…
O ÚLTIMO MAR !
Nem o dia, nem a noite
Me devolveram o viver,
Que troquei outrora no caminho
Pela inspiração para escrever.
Hoje vi…vi os teus olhos,
Reflectidos...molhados a ler
Num espelho de papel amarrado.
Tudo se aproxima…está a chegar…
O ÚLTIMO MAR !
Palavras caladas, sentis-te
Com odor a azul riscado,
Aquelas que nunca ouvis-te
Por eu sempre amar calado.
Hoje vi...revi o amor,
Perto de ti...de mim...
Numa maré...numa onda,
Que se aproxima...que já chegou...
NO ÚLTIMO MAR !
pedro V.S.
Mistérios entre a lua e o mar
A lua faceira recostou-se no mar,
hipnotizou-se pelas ondas inconstantes
e o brilho das águas,
e assim quis logo o mar, que lhe jurou noites de amor,
Mas sem amarras, o mar era liberto e nada lhe podia prometer !
A lua entristecida resolveu então,
só admirar as intrigantes e misteriosas
águas do mar ...
Entreter-se suas madrugadas com a melodioso som das águas,
E o mar não contentado
tenta conquistar a lua romântica,
e enternecida de ilusões,
a mostrar-se numa exuberância,
chamando-a, e envolvendo com suas ondas insaciáveis...
Sem forças para resistir a lua pergunta :
Para onde mar, queres chegar ?
" Tu lua descobrirás o meu verdadeiro mundo,
e saberás meu verdadeiro amar,
e lá poderemos reinar ... "
...E assim sucede-se o eterno mistério entre a lua e o mar ...
- Trazes-me o Mar -
Trazes o Mar nas pernas.
No teu leito um Rio apenas.
Traz-me o Mar e deita-o ao lado de mim.
Embala-me a vida...
Desagua o Rio que trazes até ao alto Mar de mim!
Marca-me muito!
Na pele deixa-me o rasto
...de todos os Rios...
... de tudo que no teu corpo corre...
... até mim!
Tento te ver por entre vestígios de luz e salpicos de mar ...
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Vejo o beijo mareando na pele azul de dois céus,
Comunicando através das lágrimas secas e molhadas
Vejo feixes de luz alcatroando a estrada de ouro e de prata
Vejo o pestanejar suave do mar na noite apresada
Vejo a vela raiada do sol, substituindo o negro das borbulhas douradas
Vejo o círculo … fechado … aberto … na horizontal … na vertical … de tudo o que é céu…
Vejo na alquimia das marés, a poesia de baloiço que traz e leva horizontes …
Horizontes que aqui defino, que aqui semeio:
Horizonte Tranquilo
Nessa lonjura que as promessas comprometem
Se extingue a solidão num reconfortar de mar
Horizonte (in) Tranquilo
Numa brisa crescente que amarrota o estômago num acenar
Os olhos ganham velas imaginárias, esbofeteadas pelo ondular
Horizonte Nocturno
O frio escurece as luzes das embarcações nos sons húmidos das ondas
Enquanto a lua inveja o farol que rodopia perante as estrelas mudas
Horizonte Saudoso
O espelho mais fiel ao reflexo da alma, buscando a parte que falta
Para lá da memória dos afectos, para lá do azul sem fim
Horizonte Longínquo
O céu tremido e distante embarga as saliências da morte,
No azul orvalhado que não obedece ao incómodo dos olhos
Horizonte (morto) Novo
O espírito fecha os estores e se desprende na brancura dos azuis
Gotejando gotículas solares, irrigadas de sal humano
Horizonte Teu
Aquele que não vejo mas sinto, quando refino o silêncio no peito erguido e te procuro …
E tu me respondes na voz do vento, no arrepio profundo das lágrimas, no sofrimento das estrelas …
.......................
.......................
Musica
Come Home to Me -Tim Janis Ensemble
Foto pessoal-Praia dos Salgados