revivo o sonho de dias vividos e tenho esperança nos que resta viver e os sonhos por mim e por ti tecidos, tiram o vazio dos nossos olhos é isso que quero ver acontecer, quero existir sonhando arrecado as palavras, e tiro o gelo do espelho o tempo vai marcando. e eu pergunto-lhe se o que vejo sou eu ou ele que é velho, enche-me a cabeça de pensamentos é indiferente aos lamentos que a saudade não sara, saudade que faz o sorriso acontecer que é tristeza e também alegrias saudade na alvorada ou neste entardecer que passa à minha porta todos os dias.
e é nas manhãs doces a florir de jasmim ou nas noites de doce luar que eu me recordo de ti e de mim e é então que a saudade vem mitigar.
Vertem luar os teus olhos enquanto me ama um laço os teus braços a me enrodilhar a cintura obstinado domínio que me atrai ao teu corpo ai...ai...que doce loucura!...
as mãos poeta deslizam absoluta em minhas curvas úmidas e os teus lábios lavram-me na pele em chamas um verso libertário tatuagem lúbrica...
simbiose fálica anuncia o gozo que se avizinha as salivas trocadas poção de Eros é mel nessa tua boca que desfolha a minha...
(Oiça o poema recitado pelo próprio autor, tendo como música de fundo o trecho musical "Sôdade" interpretado em françês por Chris Felix, acompanhado de Armando Cabral, Luís Morais e Cesária Évora)
Sentado ao Luar
Aqui sentado neste vítreo luar de uma lua redonda e cheia,
Medito no trôpego andar desta minha vida vazia e feia;
A minha vida é um luar apagado de uma lua de outra era,
É um vulcão inacabado em profunda cratera;
Assim que este luar tão claro de um brilho tão envolvente,
Não é senão o oposto do meu mundo avaro de uma escuridão ingente;
O meu mundo jaz nas profundezas de um abismo que se abriu fatal,
E aí dorme imerso em cruezas de uma perpetuidade brutal;
A vida não é mais que um breve sorriso que súbito aflora e logo se esvai,
Ou um vago olhar impreciso cuja imagem logo se vai;
O tempo corre e a vida a ele se agarra e corre também,
E o laço que os prende não se olvida de se desprender quando a morte vem;
E a morte sempre a ceifar dia após dia sem punição,
Vive sem nunca se saciar da vida sem norte dos que se vão;
E entretanto a vida vive zombando das pressas inúteis,
Daqueles de quem não se olvida de arrastar para caminhos ínvios e fúteis;
E assim aqui neste luar de uma rara beleza apurada,
Sinto mais forte o vão vegetar desta minha vida parada;
E ansioso espero o vendaval que me há-de arrancar desmascarado,
Das profundezas do abismo fatal onde há muito estou embalsamado! -------------- // --------------
Este poema reflecte um profundo estado de desânimo. O está triste e desanimado. O está com saudades de momentos felizes que viveu nalgum período do seu passado. Ao contemplar um luar tão belo, a sua alma extasia-se perante um quadro de tão rara beleza. Mas ao mesmo tempo a sua alma mergulha em sofrimento profundo porque sente que não está a desfrutar dos encantos que a Natureza, que a Vida, lhe proporciona. “… A minha vida é um luar apagado de uma lua de outra era…” . E o chega mesmo a ser mais directo e a confessar que o seu mundo está praticamente destruído. “… O meu mundo jaz nas profundezas de um abismo que se abriu fatal…” e prossegue dizendo que o seu mundo está povoado de inúmeras baixezas, falsidades, injustiças, crueldades… que nunca têm fim “…E aí dorme imerso em cruezas de uma perpetuidade brutal…” Mas o não é de todo pessimista. E, mais uma vez aqui fica provado que a esperança é sempre a última a morrer. O tem a esperança de que a sua vida voltará a ser o que era nos seus tempos áureos, tem a esperança de que uma viragem da sorte, do destino, lhe trará novos ventos e então lança o grito da esperança, o grito que lhe dará a força de que necessita para se erguer do desespero, levantar a cabeça e desbravar ele próprio, sem máscaras, sem falsas aparências, os novos rumos do seu destino… “… E ansioso espero o vendaval que me há-de arrancar desmascarado // Das profundezas do abismo fatal onde há muito estou embalsamado …”
Ouço o cantar das areias do mar águas profundas onde as sereias estão à dançar // Um ritual misterioso, frenético e voluptuoso Ouço o cantar das marés ondas prateadas,refletem o luar um convite para se amar // Deixar-se embalar em ritimo de acalanto, encanto, aragem que beija meu corpo um convite para me banhar // Como a me chamar suavemente deixo-me levar!
Vou no silêncio,sigo, palavras quebradas! Num instante minha esperança se apaga Volto a cair, minhas ideias desmembradas Alma exilada, coisa alguma me afaga!
Regresso ao caminho donde parti Num Sonho, mas tão exausta da Vida! Sem bussola, minha sorte não descobri Foi só ilusão! Agora é tempo de partida.
O pouco que me resta é já quase nada Resto de noite escura,tão pobre de luar! De tal negrura, nunca por mim sonhada
Já tão inútil este tempo todo ansiedade Este sonho entre chamas a perpassar Uma voz sómente me embala a da saudade
Nesta imensidão da noite, que se faz sentir em meu peito, perdi-me... Não consigo enxergar nada, meus olhos parecem ter uma venda sobre eles...! Só ouço meu respirar, o ego do vento a passar e, meu corpo resfriando, ninguém a quem possa pedir auxilio. Sinto-me como num labirinto, só vejo negro em meu redor.
Já ouço carros a passar, mas meus sentidos não funcionam; o que faço aqui Senhor! Perdi-me neste arvoredo, nesta onda negra, que me deixa estar com medo, nem um clarão consigo avistar, como assim: ouço uma vóz me chamando; quem será, pergunto a mim mesma, será o eco do vento que passa, serei eu a sonhar, nesta loucura que me arrasa, ou serei eu apenas a murmurar.
Esta noite, o luar, laranja esborrachada a Ocidente em forma largada ao contraforte raso do mouchão.
Descalça(o corpo e a alma) avanço o veio feérico do verbo ao peso rítmico do esvoaçar d’asas de mil crisálidas; Domino a sede, extinta. Trilho-me então, pé ante pé, no rio salgado aqui ao lado … no (a)braço de mar e caminho a estrada escura iluminada por flamingos no caminho divino da Senhora d’Alcamé.
Índigos os mantos e os medos se de Canan se memoriam rubras as pontas das horas se se explodem em ânforas em bodas núpcias em vinhos perfumados e densos d’outrora cristalinas águas.
Vejo-os nítidos de pés desferrados às sandálias. [nada ou quase nada já me importa ...]
São pássaros sem asas. Debicam grainhas verdes, pevides baças e frutas suspensas ao fundo do lagar, coisas pequenas de esquiço cinza e forma crepuscular. Esgrimem-se na dança alquímica das gentes bravas sobre tear de açucenas… [o compasso passa agora à tua porta...].
Vejo-os nítidos e, se negra a fraga, esta noite abjuro o luar, fogueira primeira a lampejar a cal branca d’ermida em chama.
Onda do meu Mar Na arrábida chove de enxurrada, sem cessar Corro rumo ao infinito, ávida de luar Sinto o medo do desafio, sem nunca parar O tormento faz o meu quadril dançar A chuva dá-me alento, vénus a saltitar Desejo intenso de uma Bruma beijar
As lembranças Tomaram-me de assalto... Quis fugir. Quis negar. Quis calar o coração. Que descompassado quase saia do peito. Porem, refém da lembrança. E da presença tão palpável. Me permiti sonhar. Da luz do luar me banhei. Fiz-me dona das estrelas... Voei na serenidade da noite Que se alongou lasciva E abandonou-se sobre mim E o inevitável aconteceu... Borboletas voando na barriga...
Música suave, Sons de alaúdes... O vento cantará Em surdina ao nosso amor! Mais, Muito mais eu pedirei, Meu amor! Quando a Sorte nos reunir enfim... Será a glória, A apoteose Deste nosso amor! Serão momentos Da mais pura felicidade! Sim, muitos momentos mais... Para sempre! Mas estamos agora tão distantes... Por que tem que ser tão longe? Entendo que a dificuldade Para apanhar um fruto, O torna mais saboroso, Embora isso doa muito! Sou feliz por te amar, E saber que me amas também... Estar aqui, Nesta torre confinada, Já não é mais dor... É puro deleite! Ficar à tua espera É meu maior prazer... Pois sei que tu virás... Virás para mim... Meu amo e senhor! Este amor é minha maior riqueza, Meu tesouro! Este amor me faz assim feliz!
(parte II)
Como fera acuada, Aconchegar-me-ei a teu corpo, Enrubescido Pelo calor das labaredas, A suspirar, À espera de mais uma vez Fazer-te minha... De mais um momento, Único e sublime... Só nosso, meu amor! Como o luar, Em réstias pela janela... Em dimensões fantásticas... Como tudo nesta alcova Do Castelo Gonçalino... Para nós Não há tempo, Nem espaço, Apenas amor, O mais sublime amor...
Quando adormeces em meu colo Tão menino,sereno Embevecida fico Pelo fascínio do teu belo rosto A Lua,ciumenta Resplandece inteira No intento de te ofuscar Tola,não percebe Que seu despudorado luar Só faz tua beleza Ainda mais luminar
Existem luares salgados que rasgam a boca no uivar do céu. São peitos encrespados pelo sal das lágrimas que escorrem em gritos entre as estrelas. De braços abertos a terra recebe o fruto do medo enquanto os olhos se fecham, um a um… A esperança está em ti, que sente o luar doce, e recebe o amor em segredo, como a brisa que se recolhe na face quente.