Lábios de Mel
Lábios de Mel
Neste morticínio de Outono,
Cansado de folia e desgosto,
Jaz o triste poeta, em sono,
Ébrio dos frutos de Agosto,
Sonhando febril, em abandono,
Teus lábios de mel e mosto.
Teus lábios de ninfa, beijam
Os meus - toque de mariposa -
Esta flor inerte ao vento.
E meus lábios, os teus, desejam
Sentindo o hálito de esposa,
Sôfregos desse casamento.
E, num acordar doloroso,
Sem querer quebrar a fusão,
Minha boca, de tão sedenta,
Neste amplexo amoroso:
Corpos ardentes de paixão,
Te explora, desejo formoso!
Beijo tua face adorável,
Teus olhos fechados: carinho,
Teus seios rosados; doce sugar.
Beijo teu ventre a palpitar,
Teu velo, tacteio o caminho,
Num convite, meigo e afável.
Beijo as tuas pernas em arco
Que anseiam prender, em enlace,
Meu corpo no teu, em osmose,
De que me furto, tão parco,
Para que te cheire e abrace
Num ritual, dança, que te espose.
Sobre ti, pétalas de rosa,
Lanço, e ébrio desses odores,
Te beijo - carícias ternas,
Renovo a junção amorosa
Enquanto esvais teus humores
Fonte de correntes eternas.
Nesta vida primaveril,
Renovado de prazer e cio,
Te afago o corpo fremindo.
Te penetro, suave e viril
Teu intimo, fundo macio,
tão lentamente indo e vindo.
Neste ardor, dia de verão,
Teus prazeres, meu delírio,
Sonho nosso amor infindo...
Teu corpo tomado: vulcão,
Teu corpo; um campo de lírios,
Brotando suores, se vindo...
E retomo teu corpo nu,
Num delicioso orgasmo
Tudo de mim, êxtase e linfa
Que se entranha, minha ninfa,
Nesse teu corpo, em espasmo
Teu corpo no meu, ou eu e tu.
Mas eu, mortalha de Inverno,
Cinzenta, nublada e dura,
Perco-me no poeta, tremendo
chama eruptiva, o inferno
uivante em bruma escura,
Viela sinistra... Morrendo!
Lisboa, 03/06/2015