RETICÊNCIAS...
Nossa história pontuada,
No seu ritmo.
Um enredo sendo escrito, ainda sem final
Somos reticências...
Eu e você somos isso.
Sempre fomos desde o primeiro contato
Três pontinhos e nenhum deles querem ser o ponto final
Recusam-se.
Cada dia as reticências estão lá...
Como se não aceitassem a conclusão
Há tanto pra saber de você e tanto pra contar de mim
Que o único ponto não se permite grafar.
E as reticências avisam o caminhar da história,
Essa nossa, que não quer terminar, que anseia saber mais
Aprender mais um do outro,
Do nosso dia, do nosso trabalho, até dos nossos tropeços.
E nos alimentamos um do outro, do capítulo novo
Em admirações e suspiros que soltamos em tantas bobagens
Contrariando a opinião do resto do mundo
Porque não entendem nadinha do que queremos
Somos reticências, eu e você
Encantados com a aurora porque é vida que nasce todo dia
Luz da manhã, pontuada com muita reticência...
Com a cabeça ligada na espera, no novo
Não permitindo um fim.
Porque dar um ponto final é inaceitável
Para essa vontade que habita em nós
Ainda não ficamos prontos
Ainda estamos inacabados
Buscando um no outro o que alimenta a paixão
Que alavanca esse tanto querer
Somos reticências,
Esperando sonhos virarem realidade
Acreditando que algo ainda continua
Que essa história ainda não tem um fim...
Esse poema foi inspirado no poema Adoro Reticências, de autoria de Marina Esméria Ramos. http://odeter.blogspot.com/2012/12/adoro-reticencias.html
E o adeus?
You're the light, you're the night
You're the color of my blood
Segunda-feira é dia da espera
constrangedora do som da palavra
gravada na memória
tão redonda quanto os lábios
conseguem circunscrever – amo-te –
You're the cure, you're the pain
You're the only thing I wanna touch
Never knew that it could mean so much, so much
Terça-feira é dia de espera
uma espera sobressaltada e triste
na medida em que o som
não desce de norte para sul – sobrevivo –
You're the fear, I don't care
Cause I've never been so high
Quarta-feira é dia de espera
remanescente, assente sobre
um escrito que a pedra já gastou
de tanto ser lida – sobrevivo –
Follow me to the dark
Let me take you past our satellites
You can see the world you brought to life, to life
Quinta-feira é dia de espera
desolada sob a sombra das sobras
do dia anterior, forjando a dor
como ferro em brasa
na pele branca, lívida de vida
So love me like you do, lo-lo-love me like you do(…)
Touch me like you do, to-to-touch me like you do
What are you waiting for?
Sexta-feira é dia de recordar o amor
feito do hábito rotineiro às 7 e 45 e a amargura
virtual preenche a manhã,
coloca a mão sobre o ombro
da tarde e acena à noite
um adeus indistinto – sobrevivo –
Fading in, fading out
On the edge of paradise
Every inch of your skin is a holy grail I've got to find
Only you can set my heart on fire, on fire
O sábado já não acorda
com o bom-dia que abarcava toda
a dimensão da casa, como vinho
encorpado, embriagando o corpo do dia – sobrevivo –
Yeah, I'll let you set the pace
Cause I'm not thinking straight
O domingo é um rapto cego
da beira de um café junto ao mar
que já nem respira pela inspiração
de outrem – sobrevivo –
My head spinning around I can't see clear no more
What are you waiting for?
As semanas tornaram-se
num corpo com muitas cabeças
a quem instruíram a azáfama do cuidador,
a quem mais não resta senão
o corrupio diário e a provação escrita
do valor numerário
inerente aos gastos mensais – sobrevivo –
Love me like you do, lo-lo-love me like you do
Love me like you do, lo-lo-love me like you do
Não rezas porque é inútil
essa devoção aos lábios que
redondamente se ausentam nas sílabas
mal pronunciadas do redondo – amei-te –
simulacro dos instantes parcos
em que sobreviveste…
Touch me like you do, to-to-touch me like you do
What are you waiting for?
GEMIDO CALADO
O sentimento no coração guardado
De um amor no seio contido
Craveja o sonho magoado
De um romance nunca vivido
Um rosto em lágrimas molhado
Não dói mais que um violão bandido
Se pudesse mandar um recado
Através desse triste gemido
Acalmaria este peito surrado
Pela falta do corpo amigo
Quem sabe chegasse calado
De mansinho, mas não distraído
Na face trouxesse um riso rasgado
Nas mãos dedos atrevidos
Entregar-me-ía num abraço apertado
Recompensar os anos perdidos
De sentir meu coração ao teu atado
E sussurrar baixinho ao teu ouvido
Que és meu eterno amado
Que és meu menino querido...
SOFREGUIDÃO
Sofreguidão
Espero-te a cada anoitecer
Na esperança de vê-lo chegar
Abro as janelas da ilusão
Obedecendo meu coração
Que rasteja triste nesse buscar
São tantas manhãs e entardeceres
E a poeira da estrada se quedou
Sem avisos ou sinais no horizonte
Pudera correr, transpor montes
Encontrar este amor que se afastou
Tantos dias de alegria roubados
Da felicidade empobrecida
Do peito doído e machucado
Que vaga entre arvores do cerrado
Olhando os ipês de flores caídas
No ribeiro depois da lida cumprida
Vestido sujo da terra arada
Deito meus pés na água cristalina
Fecho os olhos tristes de menina
E te vejo em miragem na estrada
Doce sonho que alimenta a alma
Ver-te sorrir a estender teus braços
No peito ansioso que pulsa forte
Esperando o tempo em mudar tal sorte
Unir-me a ti em abençoados laços...
Assim Seja
Assim seja
Então, leio e espero…
Passei a manhã nessa espera -
Veio a tarde e não te trouxe
mas, vieram os bem-te-vis e a brisa,
veio o silêncio morno e atrevido
do sol pulando a janela.
Mesmo assim você não veio.
Ai de quem me acha triste!
Invento, minto...
Posso dizer de tristezas, escuridões
e ser alegre:
sou exilada de mim...
E veio a noite,
perfumada de jasmins de cabo
grilos cantores e rendas de luz
desenhadas no espaço...
Nenhuma hora te trouxe!
Se eu pudesse elastecer o tempo?
Repetiriam-se os trinados, céus azuis,
flores desabrochadas, descobertas extasiantes
dos escritos de alguém...
Amanhã será assim, senão depois ou depois
Os livros, as melodias estão no canto da sala;
Elastecer o tempo
também elastece a espera,
faz crescer mais as asas da solidão
a descompreensão das escolhas
faz doer o corpo na secura verde do não
Não te encontro nos livros
nas pautas das sinfonias,
nas telas, nos papéis sobre a mesa,
lugares em que você fatalmente não está.
Então espero, como ontem
e mesmo assim, você não vem,
Amém.
Ilustração: Paula Baggio
Lápis aquarelado sobre papel Canson
20x30
Jamais
Ouço o rugir do vento
Passa pela janela, me chama
Um chamado, um lamento
O que queres? porque chama?
Traz-me um recado?
Quem me quer e, me espera
Pode ser um santo ou com pecado
Um relutar que me exaspera.
Insiste, rugi em som estranho
Não te ouvirei e, te olvidarei
Tapo os ouvidos e me acanho
E te digo:de ti jamais serei!
Nereida
https://novanereide.blogspot.com
FARDOS
Carrego de manso um fardo
Peso da vida
Peso das ausências
Peso de mim
A cada sol que nasce
O fardo trás com os anos
Mais peso
Mais ausência
Menos vida.
Afectivamente a Afectividade
Há poemas que me beijam
Entre focos de luz intermitente
Do meu sentir resignado,
E bocas silvestres que acompanham
O corpo sedento de versos
Macerados nos meus refúgios.
Há magias fingidas nos teus traços
Que me iludem e me vergam
Em vénias largas
Esculpidas no meu sentir.
Tombo-me, apagada,
Pelo riso dos teus olhos,
Enganosos,
Como os segundos da espera
Que não bate à minha porta,
E mesmo assim me rasga.
Como se fosse capaz de me amar!
Não quero o concreto do teu toque
Nem a aspereza do teu coração.
Quero efectivamente a afectividade
Suprema da poesia
Expelida dos teus versos.
Em sintonia se espera
Há no ar um cheiro de amor
que exala dos corpos
unidos num beijo
onde as bocas são apenas
cúmplices apaixonadas
de palavras escondidas
debaixo de lençóis
onde os golfinhos dançam
como nós...
Olho-te e entrego-me
quente, intensa, tua...
O bater do coração
apressado pelo desejo
canta-te ao ouvido,
e tu, poeta,
tatuas versos
na minha (tua) alma.
Em sintonia vivemos
e esperamos
pela derradeira palavra
de amor.
"Dormência afetiva" - INDRISO
A despeito do olhar turvo, por velha vivencia.
E das marcas que trazes no rosto cansado
Atravesso teus muros, encontro a essência.
Desarme as defesas que o tempo encardiu
E eu hidrato este chão, adocico este amargo.
E acordo este encanto que o amor produziu
Avança a trincheira, acaba com a espera.
Descanse as cargas ao pé desta quimera...
Glória Salles
28 julho 2009
19h13min
No meu cantinho...