O LADO AMOROSO DE MIM
O LADO AMOROSO DE MIM
Nada fora dele
me negue
me atinja
me finja
Nem eu próprio sem amor me conceba...
Nele me saberei e me criarei
Por trás dos olhos dele me escondo e exponho
O estrondo que gritou neste sonho imenso
De derramá-lo fervente em meus braços
Queima-me com prazer
Dentre os vãos dos dedos
Faço a dor, faço o espaço
Esfumaço-me... Tal um cigarro
Esquecido da boca o prazer viciado
Meu querer se perde na solidez solta e só
D’uma orquídea erradia em seu tronco
Na sua forma mais arredia
Na sua beleza mais baldia...
A suavidade entinta as cores da flor às sombras
Salvam-se pétalas do cego furor destrutivo das ervas
E os meus tremores coabitam com a minha sensatez...
Escura e dura essa difícil escalada
Pelo negrume do meu muro
Onde o amor se disfarça
Em meus lábios contentes
As fragilidades racham mais as antigas fadigas
Na coerência desafiadora dos meus regaços
Nessa viagem indômita torno-me um gigante.
Léguas e léguas de ternuras e um simples passo...
Meu amor agora é sentimento cansado, mas contente...
Deito-me com os titãs, com os vermelhos dragões
Que me lambem os pés como cães bem-comportados
O amor vê-me a face a dormir e se enamora
Estou chafurdado de vida pelo avesso do sono...
E assumo o lado amoroso de mim
O lado que, de mim mesmo,
Olhando, o outro lado gosta...
E, gostando, numa franca aposta
Entrega sem receio tudo
Lado e lado
De si para si...
DEIXA-ME VIR A MIM
DEIXA-ME VIR A MIM...
Sou a contra-face
Da contra-face tua
Na face da lua que renasce
Sou o desvario sadio
No vazio do teu poema
O dobrar do cabo bravio...
Sou teu último dilema
Das manhãs enfermas,
Nos limites mágicos
De tuas secas fronteiras
(Deixa-me vir a mim...)
Gê Muniz
O SORRISO
O SORRISO
para mim
sorriso
nunca foi meta
mas ele me completa
se for preciso
quando
o cupido
- esse fanfarrão impreciso -
precisamente
me acerta
O coração busca a perfeição no teu sorriso …
Os barulhos mudos, fazem sangrar a calma a alma ….
E vão sobrando tantas palavras por viver
No amanhecer do teu ombro …
No colo do teu ser…
Que chegam a doer
Por não terem espaço nem tempo para crescerem…
No pátio das nossas horas …
Meu Deus, se os teus sonhos fossem nascentes ….,
Antecipava-me ao descer das suas águas desviando todos os obstáculos até ao mar …
Mesmo sabendo, que ao tocarem no azul mais carregado nunca mais reflectiriam a tua felicidade no meu olhar…
Mesmo assim te amo sem saber explicar as ausências nem os silêncios …só sei explicar, que a tua infelicidade é o que tenho de mais imperfeito no peito…
Quando somos inócuos no coração
Até os traços de avião nos fazem lembrar
Uma viagem no alvoroço do teu cabelo
De morango cheiro …
[Deixei aqui esta estrofe fora de rota para te fazer sorrir … ]
Trepar não é amar
Trepar não é amar
É um jorro
Quente na minha cara.
A tara
Que me acusa e desvenda
Quando mergulho
Em tantas fendas.
O grito e o gozo
Que sorvo
E escuto
Entre chicotes e algemas.
Trepar não é amar
Não é sequer gostar,
É muito mais,
É só querer,
É uma busca incessante
Pelo ser
No gozo e no prazer.
Trepar não é amar
É ter,
Sobretudo ter,
Para logo depois
Perder
É ver o corpo
Como escada
Para o tudo
Ou para o nada
E esquecer.
Trepar não é amar
É gozar,
Sobretudo gozar,
Pois pode-se amar
Dias, meses, anos a fio
Sem jamais gozar,
Sem jamais entrar no cio,
Porque amar é sofrer
E trepar é querer,
É morder
O que tantaliza
Nosso ser.
Trepar não é amar
É querer, nu,
Mergulhar
Num cálido mar.
Amar
É querer
Também,
Querer
O que não se pode ter,
O que está além
Das nossas forças
Ou ser
Porque amar,
Em si,
É ansiar-se só,
Sem ninguém.
Amar é querer-se
Além do corpo,
É no fundo desejar
Estar morto.
Trepar não é amar,
É não querer
Estar morto,
Mas viver
Sempre no centro
De todo o corpo.
É tão sublime
Quanto matar
Ou trepar
Num altar
É cometer um crime!
Trepar não é amar,
É ser perverso
E se tornar objeto
De insanos desejos
Secretos.
É encenar papel baixo,
Despojar-se
De toda a vergonha e recato
Só para ter acesso
À silhueta atrás do véu
E à caixa que guarda
Preciosa jóia e anel.
Trepar não é amar,
É vociferar-se
Na janela
É uivar ou ladrar
Feito cadela.
Trepar é ser denumano e cruel,
Não é ser homem e mulher
Mas algo que resfolega ou galopa
Como um corcel.
Trepar é cravar e contorcer-se,
É rasgar e morder,
É ir até onde toda a carne
Sempre vai doer.
Trepar não é amar,
É ter na boca
Um beijo tantalesco,
É gritar venéreo
Contra o amor
Tão sério,
Que jamais vê
O que também somos:
Burlescos.
Trepar não é amar,
E se amamos
Enquanto trepamos
E se,
Por um breve instante,
Por um triz,
Consegue alguém
Ser feliz,
Saiba:
Isso,
Seja lá o que for,
É muito mais
Do que amor.
Eu é que sinto
Não sei ao certo,
O que pensar,
O que falar,
Tudo é incerto,
Em dias assim só apetece rimar,
E todos os dias são assim
que apetece amar.
.
Eu só tenho a certeza de ter uma vida,
Embebedada de gente metida;
Eu é que sinto, eu é que sinto,
Eu é que sinto, eu é que sinto
o sabor da minha vida.
.
Se tiver mais vidas para além de uma, bem,
serão minhas como a existência permitir,
Como as fases do meu sentir,
Sou eu que as sinto e mais ninguém!
.
Ana Carina Osório Relvas/A.C.O.R
A primeira vez
A primeira vez
Quando me amaste, ao amanhecer
Teus olhos eram estrelas
Tua boca a alvorada
No teu corpo a primavera
Na tua voz havia uma sucessão
De sons e silêncios ,que me embriagava
Teus lábios de amora silvestre
Tua língua doce pêssego
Em seu corpo esvoaçavam as palavras
No poema por escrever,no amor ainda por tecer
Doi-me ás vezes recordar
Doi-me ainda te amar
MISTERIOSA CHAMA
És mulher com um decote aberto nesses dentes perfeitos
Um sorriso rasgado,nesses opulentos peitos,
Com esse olhar que me penetra as profundezas do meu ser..
Até me pergunto o que tu para mim podes ser?
Será que vale a pena melhor te conhecer?
O teu nome rima com alguém que se ama..
Ao ser mais uma vez invadido por esse teu olhar
Pergunto se não quero arder nessa tua misteriosa chama,
Será que és uma mulher só de ir para a cama?
Ou então o teu olhar é de uma mulher que me engana?
Não me tenho até em tão má conta;
Apesar de me custar a acreditar;
Que em tão pouco tempo,nos possamos já amar..
SEMEANO
sexto sentido...
Embaciaram os vidros
ficou a memória confusa
e o caminho mais pálido
já não me arrancam sorrisos
andei léguas com passos indecisos
até chegar ao horizonte tão meu
onde a infância é já só uma fábula
onde os verdes já são pardos
turvo o azul do firmamento
e na penumbra o pensamento.
A manhã me oprime, o sol me ignora
a tarde me cega, logo a escuridão
e logo a aurora a urdir novo dia
e é mais um sonho que se abrevia
caminho já sem meus passos
fora de mim, distante,
amor já não é anseio
já não abraçam meus braços.
Ah...mas o sonho sempre germina!
E o coração envelhece mas não pára de amar
o amor a vida domina
e é sempre ele que ergue do silêncio
e nos vem embriagar...
natalia nuno
rosafogo
Se volta-se atrás no tempo… o alinhamento do sentimento seria outro …
O tempo não deixa rasto e em caso de nos perdemos, não temos como voltar a atrás…
Voltar a um passado onde errámos, amámos, magoámos, transformámos o amor em dor …
Assemelha-se ao mar cheio, que não suporta ver a sua face de areia pisada pelos nossos passos, apressando-se a limpar com as suas lágrimas, os vestígios da nossa caminhada…
Infelizmente, não apaga da memória e do coração, a dor, a saudade bipolar que nos faz sorrir e chorar …
Nessa impossibilidade de regressar para podermos escrever a nossa história de maneira diferente … fica a mágoa de quem não soube cuidar …respeitar quem está ao nosso lado…
Peço perdão a todos que magoei … mas fica a certeza, de que escrevi com sinceridade o sentimento e quando amei ,liguei o mundo no interruptor do sonho…