quarta-feira (de cinzas) - (parte iv)
passaram por mim
as três estações
contemplo agora
nas paredes do meu sonho
as telas onde tu
um dia surgiste
és um branco invisível
acariciado pela neve
onde o sol
por entre ramos de árvores
tenta iluminar o teu reflexo
e eu queria tanto deitar
a tua insustentável nudez
no colo da sombra deste amar
de quão frágil solidez
a neve aquece certamente
e a sua água correrá fluente
da nascente da tua imagem
o teu corpo
é levado pelos rios
de outra
primavera verão ou outono
assim como sucede
aos fins dos dias do entrudo
(tantos como as três estações)
ó quisera eu ter sido brincadeira
deste carnaval
as telas pintadas à minha maneira
mas tudo me correu mal...
começa hoje a quaresma
vou procurar redenções
para a minha pecadora alma
deste meu desejo carnal
enterro agora a tua gravura
e não alimento mais recordações
só esta estação de inverno
com o seu intenso frio
ainda não terminou
tudo o resto acabou
o carnaval em fim de dias
e as minhas quatro poesias
em quarta-feira (de cinzas)
Devido as imagens poderem ter conteúdos suscetíveis de ferir sensibilidades as mesmas não foram publicadas. poderá ver o poema com a respetiva imagem em http://afacedossentidos.blogspot.pt/
quarta-feira.
e decerto somos a inquietação prenhe de afecto. queria dizer-te algumas palavras compreensíveis: olá. depois: quando voltas. esperar pelo regresso dos pássaros, com o abraço atado à cinta, quem sabe te tragam dentro das asas à procura de penas que não nos pertençam. quase sempre só fico dentro do mundo e o mundo é tão pequeno para me ter dentro que incha, e inchado fica até que uma rajada de vento forte o leve céu fora. queria hoje saber o destino dos pássaros, por que nuvens passam, que altitudes alcançam. que me dissessem o paradeiro da tua boca, ou o destino do corpo dentro das penas . que me dissessem se há alguma coisa por que lutar deste lado da vida. há sempre um lado errado, tal como dizer-te: fica. e ver-te partir com a memória fechada no punho.
Poema de quarta-feira
Guardo fantasias bordadas
e alegorias quebradas
numa tarde de domingo.
Tenho perfume de uma camisa
estampada de flores;
Na madrugada,o desfile
secou a derradeira lágrima...
Na quarta-feira,
descanso a alma.
O corpo se alonga
e desmaia num fevereiro
sem alegria.
A quarta-feira,
afoga-se e embala
uma nova folia.
Quarta-feira, 03 de março
Enquanto aguardo o trem do metrô que em boa hora me conduzirá a uma pilha de louças usadas, lembranças recicláveis de um jantar indigesto, sento-me vazia num banco e contemplo a escada rolante que, ao contrário de mim, desce incansavelmente sem fazer ruído. Uma boa hora é de se esperar para muito tarde e nesses momentos de compulsória resignação é que me sinto mais covarde, medo de interiorizar-me além dos limites incômodos da minha consciência... alcanço o fone de ouvido perdido entre os batons e permito-me sonhar...’a uma hora dessas por onde passará seu pensamento, por dentro da minha saia ou pelo firmamento? lá, lá, lá...’ Então, talvez para cumprir alguma anti-história de estranha magnitude, meus olhos encontram um pequeno ramo de flores cujo nome não sei, caído como quem dorme, aos pés de uma lixeira estrangeira e desnaturada. Alguém havia amado e chorado e se desesperado e morrido muitas vezes antes de partir. Ou diariamente nascem flores cujo nome não sei, à beira dos meus olhos sujos. Ou duas crianças apaixonadas se perderam na senda perigosa das primeiras perdas. Ou diariamente nascem flores cujo nome não sei à beira dos meus olhos sujos. O pequeno ramalhete toma-me de antigas conclusões e eu cismo que poderia ter sido minha a culpa pela rejeição mais imperdoável, pelos nãos mais sanguinários, pelas mutações mais dolorosas dos sentidos: abandono o poema que nascia prematuro na letra A da minha agenda, levanto-me num repente. Mas antes que eu o alcance é recolhido pela pá sem escrúpulos do serviço de limpeza. Uma dor moral insinua-se pelo meu corpo adentro, a verdadeira melancolia prostrada ali sabe-se lá por quanto tempo, invocando soberania sobre toda a plataforma, apenas à espera do momento solene em que se apossaria do meu único coração.
Quarta-feira de Orações
🤔Quarta feira de Orações
Senhor Deus pai, abençoado
Noto que muita coisa tem mudado
Pessoas nas ruas com ânimo aflorado,
Assaltos constantes, direito mutilado...
A fé virando nervo abalado.
O medo se torna companheiro, ao lado.
Uma palavra de carinho
É peso de ouro lapidado.
Ilumine esse povo, sofrendo calado
Ponha sua energia, o bem canalizado...
Dai-nos força e fé, abençoado!
Na agrura e na expiação, abalado...
Nos ilumine e dê força, ressuscitado!
Que essa noite a gente durma, enrolado
Nas benção divinas
E acorde depois da viagem
Com um banho de fé, regozijado!
🤔Marcelo dr Oliveira Souza,IwA
🤔2x Dr. Honoris Causa em Literatura🌹
🤔Do blog http://marceloescritor2.blogspot.com
🤔instagram: marceloescritor
🤔Boa noite!🌚🌹