Marte Deus

Março

Poemas sobre o mês de Março

MANHÃ DE MARÇO...

 
MANHÃ DE MARÇO...
 
Manhã de Março...

Manhã de março quente e nublada,
O verão de nós vai se despedindo,
Tempo de férias de toda a garotada,
Saudades dele estou sentindo...

O outono muito próximo, chegando,
Depois dele vem o frio, as invernadas,
Com suas noites geladas de geadas,
É o inverno com o Minuano soprando...

Lembranças sempre guardo do verão,
É a estação quente e muito colorida,
Tudo é festa fica alegre o coração...

Ver crianças correndo a brincar
Parecendo que tudo tem mais vida,
A tua volta fico sempre a esperar....

♫Carol Carolina
 
MANHÃ DE MARÇO...

Março das aves imaginárias - quem mandou calar os passarinhos?

 
oh, loucura
poeta pensar-se útil
belo, eterno e reluzente!

podia tentar outra coisa
cuidar a terra
como a neve
derreter ao sol
como uma estrela
ter olhos claros
como o luar
saber olhar da janela
ser mais gente

não quero pensar em mais nada
discorro apenas
um tanto de dor sobre a paisagem
com aves imaginárias
a fugir na viagem do tempo
feito de incerteza crua.

fosse antes um animal
de fronte endurecida
um pinheiro irracional
em vez de flor repetida

oh, de que vale a poesia
neste Março entre muros
quem foi que nos fez
prisão, medo, egoísmo
solidão vil agonia
quem poderá prometer-nos

no poema futuro
e poesia?
 
Março das aves imaginárias - quem mandou calar os passarinhos?

DOIS DE MARÇO

 
DOIS DE MARÇO

O curioso é ver como as pessoas se relacionam.

A gente se conhece, se desconhece e se reconhece: É como um ciclo cada relação!
E amadurecer talvez signifique entender esse ciclo. Ponderar sobre o momento de cada um.

Sim, nesse momento posso estar desconhecendo alguém que conheci para a reconhecer...
Meus olhos param de procurar outros olhos e se encantar com outros sorrisos.
Meu coração parece hibernar, batendo lento e suave. Um pulso quase imperceptível.
Quem me visse diria que não habito mais meu corpo...

No entanto, todos os dias eu me levanto cedo; trabalho e cumpro minhas obrigações.
Quando tenho tempo livre, escrevo e leio compulsivamente.

Não culpo mais a mim ou a Deus. Pacificado, embora
não consiga rezar ou ter qualquer acto tendo vista a minha salvação
fosse mediante fé; fosse mediante obras...
Não me salvo ou permito que me salvem. Tenho passado os dias indiferente a isso.

Deus, quem quer que seja Ele, não tem me inspirado o desejo de ser salvo,
portanto, está me destinando ao limbo que pouco difere de minha vida actual.

Não me incomoda isso.

Se Deus não me quer entre os seus, Ele deve ter lá suas razões.

Nunca vi a salvação como mérito pessoal, sim como uma alegria inspirada pelo divino capaz de levar o homem a se aproximar do sagrado.

Alegria essa que não experiencio há séculos...

Penso que quando a Fé acaba, tudo o que resta é religião, isto é, a sistematização da necessidade humana de conhecer Deus mediante práticas, hábitos, tradições, regras, ideais, respostas...

No fim, o amor se impõe como o dedo de Deus apontado!

Obediente, amo. Mesmo que me sinta tão mal depois.

Não. As circunstâncias da vida não me permitem o amor. Eu devo apenas seguir em frente e tentar manter as coisas simples: Talvez todo encontro amoroso necessite ser fugaz.

Ainda assim, o amor permanece como um mistério. Sei lá... Não sei mais no que acredito.
Tampouco se ainda faz sentido acreditar.
Acreditar? Sim, acreditar: Saber sem saber porquê.

Humildemente, eu amo porque preciso amar. Isso me faz fraco porque suscetível.
Amando, eu me reconheço incapaz de ter uma experiência plena de mim.
Ouvir e ser ouvido; tocar e ser tocado; ver e ser visto... O outro faz com qu'eu me revele a mim.

Se Deus for de facto amor, minha pequena fé pode brilhar como o sol e, amando, eu posso ser capaz de ser melhor; de querer ser melhor. Por consequência, beatitude e santidade.

É apenas por amor que alguém se torna bom.

Betim – 02 03 2016
 
DOIS DE MARÇO

março

 
hoje
dia doze de março
morreu ainda mais um pássaro.

ninguém por ela deu.

foi o silêncio

o silêncio
pesado do ar
que o fez tombar.

tudo o resto
é ruído e penas.
 
março

As ausências dos marços

 
As ausências dos marços
 
Trago ausências de marços, onde andorinhas nos beirais anunciam primaveras que já foram. Trago saudades dos meus a pingarem-me dos olhos, a fazerem-me tirar o lenço do bolso para as enxugar num breve fungar. Trago lembranças antigas, escritas no vagar do tempo e que vou folheando nas horas vagas. Retratos de ontem onde também estou mas sem me ver. Tanta gente que já aqui não mora. Tanta vida, a maior parte já esquecida. É estranho. Não consigo explicar...
Trago anos de solidão a agrilhoarem-me sem perdão.
Trago rugas na pele que me desfiguram o rosto liso de outrora. Que me denunciam a existência espinhosa. Fixo-me na distância de uma vida, até onde o olhar pode alcançar. De que me poderá valer? De nada!
Desisto, visto que se me embaciam os olhos e aos outros pouco ou nada importa.
Trago noites nas bainhas dos dias, onde sombras por desvendar... talvez almas dos mortos que fui velar, a chamarem-me.
 
As ausências dos marços

trago em mim - recitado (Março 2014)

 
 
(com legendas)
 
trago em mim - recitado (Março 2014)

31 DE MARÇO, 1974, DEZ ANOS DEPOIS DO GOLPE MILITAR NO BRASIL

 
hoje, 7 de setembro, data da nossa independência. para todos aqueles que não viram e não viveram a barbárie que foi a ditadura militar no brasil.e dedico também a todos aqueles e aquelas que desapareceram nos porões da ditadura e não puderam contar esta história. triste história.

Uma epígrafe:

"Ame-o ou deixe-o."

slogan imposto pela ditadura. melhor foi deixar, pra não morrer.

mas que me importa a roupa suja do poema
espalhada pelo chão do quarto de dormir?
se a minha vida está por um telefonema
basta - diz que eu não estou desisto de existir

agora esquece - se esconde em qualquer cinema
e caso a pipoca esteja dura de engolir
avisa que eu saí na banda de ipanema
tomei além da conta só pra me distrair

porém se a polícia bater na sua porta
ninguém nunca me viu nem ouviu falar de mim
não sabes baby como isto me desconforta

põe fogo nos livros dói mas tem de ser assim
chegou tarde tarde demais inês é morta
vou me embora correndo pra guajará-mirim

_________________

júlio
 
31 DE MARÇO, 1974, DEZ ANOS DEPOIS DO  GOLPE MILITAR NO BRASIL

31 DE MARÇO DE 1974, NO 10º ANIVERSÁRIO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL (republicação)

 
"Brasil, ame-o ou deixe-o."

- Slogan criado pela ditadura -

mas que me importa a roupa suja do poema
espalhada pelo chão do quarto de dormir?
minha vida amor tá por um telefonema
bosta! - fala que eu não tô - desisto de existir

agora esquece: se esconde em qualquer cinema
e caso a pipoca esteja dura de engolir
avisa que eu saí na Banda de Ipanema
tomei além da conta só pra me distrair

porém se a polícia bater na tua porta
ninguém nunca me viu nem ouviu falar de mim
não sabes baby como isso me desconforta

põe fogo nos livros dói mas tem de ser assim
chegou tarde tarde demais inês é morta
vou m'embora correndo pra guajará-mirim

_______________

júlio
 
31 DE MARÇO DE 1974, NO  10º ANIVERSÁRIO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL (republicação)

Para dia 19 de Março

 
Para dia 19 de Março
 
Dia do Pai,
Daquele que foi José
Pai de Cristo
Jesus de Nazaré...
Dia do Pai,
Do meu Pai,
Ele que também foi José...
Lembro-me desse Pai
Que perdi há tanto tempo
E em quem penso
Especialmente neste dia.
Mando-lhe um beijo
Pelo meu amigo vento...
Chamo a saudade
Para me fazer companhia ...

Beijos Pai!...
 
Para dia 19 de Março

8 DE MARÇO

 
ao Luís Carlos Prestes,
O Cavaleiro da Esperança - neste dia, consagro.

em 8 de março de 1990 publiquei meu primeiro livro
fizeram o lançamento na casa onde morou mário de andrade
e que tinha virado um centro cultural
como é até hoje
só mais tarde me contaram que neste mesmo dia
luís carlos prestes - o grande líder comunista -
havia morrido no rio de janeiro
senti nojo do livro meu e fui beber no bar em frente
o secretário de cultura do estado de são paulo
veio me buscar no bar
pra que eu continuasse os autógrafos
havia um compromisso a cumprir
mas eu disse que não voltava
uma menina loira de olhos verdes e tristes
veio até ao bar
com meu livro nas mãos pedir que assinasse
pra ela eu assinei sim - porque aprendi a nunca dizer não a uma mulher
a letra saiu Trêmula
e eu me lembro que escrevi - além do dia internacional da mulher -
um luto um para o cavaleiro da esperança
era assim que chamávamos prestes
não me deixaram ir ao rio de janeiro
fiquei enfiado no bar e bebi a noite inteira
tentando entender como um só homem
pode resistir tanto à prisão incomunicável
a polícia de vargas quis deixá-lo louco
entregaram depois sua mulher olga aos nazistas
ela era alemã e estava grávida de anita leocádia
amamentou a filha que hoje vive no brasil na prisão
depois apartaram mãe de anita
e olga foi assassinada num campo de concentração
num 8 de março
quando autografei meu primeiro livro eu chorei
mas não me deixaram ir ao rio ver prestes morto
também sai - por desaforo - do bar do bêbado
e escrevi uma ode ao prestes
que o jornal onde eu trabalhava
por razões editoriais
não quis publicar
meu editor disse que o poema era bom
mas que eu estava fazendo apologia ao comunismo
e ele - por mais que fosse meu amigo -
não poria duas cabeças a prêmio
por causa das minhas loucuras
(o poema saiu publicado dias depois
num tablóide da Convergência Socialista)

_________________
júlio
 
8 DE MARÇO