Paulo Monteiro
A diretoria que assumiu a Academia Passo-Fundense de Letras no dia 30 de dezembro de 2007 decidiu abrir o prédio-sede da Academia para todas as iniciativas culturais realizadas no município. Outra decisão foi retornar a realizar concursos literários, objetivando promover novos escritores.
No ano de 2008, para comemorar os seus 70 anos de ininterruptas atividades, a Academia Passo-Fundense de Letras promoveu o concurso literário “Machado de Assis – 100 Anos de História”, que culminou com a recepção da aluna vencedora, sua professora e uma comissão de acadêmicos, no dia 25 de setembro daquele, na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.
O sucesso da iniciativa levou o sodalício a promover um concurso semelhante, em 2009. E em dose dupla. Assim, realizaram-se dois certames: “Poeta Professor Antonio Donin: Poesias para alimentar a alma”, para alunos de Ensino Fundamental, e “Um século sem Euclydes da Cunha”, para alunos do Ensino Médio.
A realização desses dois concursos fixasse dentro das finalidades precípuas da Academia: promover o estudo dos clássicos e preservar a memória dos escritores locais.
“Os Sertões”, a grande obra de Euclides da Cunha, muito mais do que se possa imaginar tem profundas ligações com Passo Fundo. Já escrevi sobre isso em alguns ensaios e artigos divulgados na imprensa local e disponibilizados na internet.
O contraponto que ele faz entre o sertanejo e o gaúcho é a demonstração da importância que os militares sul-rio-grandenses exerceram na Campanha de Canudos.
O Exército Brasileiro não estava preparado para uma guerra nas selvas é uma das lições que se tira da “bíblia da nacionalidade”. Tenho à minha frente alguns livros de escritores militares que se debruçaram sobre o assunto, como Dante de Mello, em “A Verdade Sôbre “Os Sertões” (Análise Reivindicatória da Campanha de Canudos)”, (Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1958) e o general Tristão de Alencar Araripe, em “Expedições Militares Contra Canudos (Seu Aspecto Marcial)”, Segunda edição, Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1985). Ambos procuram destruir a parte de “história militar” existente em Os Sertões, mas sem êxito. O despreparo do Exército Brasileiro, porém, é aclarado pelo general Umberto Peregrino, em “Euclides da Cunha e Outros Estudos” (Gráfica Record Editora, Rio de Janeiro, 1968).
Em todos eles encontrei essa afirmativa do despreparo do Exército Brasileiro. E esse despreparo somente foi superado, nos últimos tempos da “Guerra de Canudos” com a chegada dos militares gaúchos que levavam a experiência do combate contra os federalistas nas regiões serranas do Rio Grande do Sul. Está para ser feito um estudo mais aprofundado sobre o assunto. A presença do coronel Antônio Tupi Caldas, comandante da 5ª Brigada da última expedição, e do coronel Tompson Flores, comandante do 7º Batalhão de Infantaria, comprovam a importância daquela experiência militar. Ambos morreram em Canudos. O primeiro deles foi comandante de um dos três quadrados durante a Batalha do Pulador (27 de junho de 1894); o segundo, profundo conhecedor das serras rio-grandenses, perseguiu Gomercindo Saraiva, em Passo Fundo e Soledade, depois aquela batalha, desentocando os maragatos. Também morreu em Canudos o tenente-coronel Chachá Pereira, que resistiu, sem êxito, à passagem das forças de Gomercindo Saraiva, rumo ao Paraná, em outubro de 1893. Encarregado da defesa de Passo Fundo, entrincheirou-se no Mato Castelhano, de onde foi desalojado pelos maragatos.
E tem mais: os degoladores pica-paus degolaram mais de mil sertanejos, com a cumplicidade dos comandantes. E trouxeram de lá, a prática de cortar orelhas das vítimas para receber o pagamento dos mandantes. E essa experiência, anos depois, seria exercida por colonos de origem italiana contra os posseiros caboclos, aqui, no município de Passo Fundo, na então colônia Sarandi.
Assim, rapidamente, fica demonstrada a aproximação trágica entre Canudos e Passo Fundo.
Quando a preservação da memória dos escritores locais, a Academia Passo-Fundense de Letras, em reunião, decidiu pelo nome do poeta, professor, jornalista e advogado Antonio Donin, uma das personalidades mais cultas e íntegras da história de Passo Fundo. Antonio Donin honrou e enriqueceu o sodalício local com sua presença.
Preocupados com a supra-realidade das coisas, os poetas acabaram sendo vistos como destituídos de senso prático. Verdade é que muitos dos homens que construíram sistemas sociais e fundaram impérios eram poetas.
Entre nós, passo-fundenses, Antônio Donin desmente o juízo assentado pelo senso comum. Dia e noite seu espírito permanecia preso à poesia, mas nunca se afastava da realidade.
Passados quase vinte anos de sua morte, ocorrida em 8 de agosto de 1987, seu nome não encontrou o reconhecimento merecido. Escolas, ruas e avenidas receberam nomes de mediocridades, enquanto o educador e homem público Antônio Donin foi relegado a imerecido esquecimento.
Nascido em Vila Maria, hoje município, no dia 15 de fevereiro de 1911, Antônio Donin, era um dos treze filhos dos italianos Pedro Donin e Ana Agostini. Seus pais chegaram do “velho mundo”, ainda no Império, casando em 1900.
Em 1916, procurando melhores condições para criar a família, Pedro Donin mudou-se para a localidade de Ponte Preta, em Erechim, estabelecendo-se com casa de comércio e agricultura. Preocupados com a educação, Pedro e Ana organizaram uma escola particular. Ali o futuro integrante do Grêmio Passo-Fundense de Letras iniciou seus estudos.
Em busca de maiores conhecimentos, a 27 de março de 1927, partiu para Santa Maria, matriculando-se no Seminário São José onde concluiu o curso Colegial, em 1933. A primeiro de março do ano seguinte ingressou no Seminário Central de São Leopoldo, onde concluiu Filosofia e um ano de Teologia.
Ingressou no sacerdócio católico. Seu coração de poeta acabou curvando-se aos encantos de uma paroquiana. Entre a fidelidade aos votos sacerdotais e aos sentimentos amorosos, optou pelos segundos. Abandonou a batina, mas continuou fervorosamente religioso. E católico.
Não casou com essa moça, mas com a professora Vanda Xavier Donin, que lhe daria duas filhas e quatro netos. Dessa união nasceram a professora Maria Helena Yaione e a odontóloga Marília Donin Vanni. A primeira, casada com Mário Yaione, é mãe de Fábio, professor universitário em Dourados e Mariane, bióloga; a segunda, casada com Luis Alberto Vanni, tem dois filhos: Tásio, médico em Porto Alegre, e Leonardo, advogado na capital gaúcha.
Em abril de 1941 Antônio Donin veio para Passo Fundo, onde passou a lecionar no Colégio Notre Dame e na Escola do Círculo Operário. Nesse ano publicou o poema épico “O Brasil em Marcha”. Dois anos depois, trocou o magistério pela redação de O Nacional. Mais tarde retornaria ao magistério, continuando a exercer o jornalismo e desempenhando intensa militância política.
Foi o principal idealizador da criação da Universidade de Passo Fundo, conseguindo unir em torno do projeto, os mais diferentes segmentos da comunidade local e regional. Preconizou a organização do Movimento Tradicionalista Gaúcho, pregando a criação do Centro de Tradições Gaúchas Lalau Miranda, pioneiro na preservação das tradições campeiras nesta parte do Estado. Em 1971 motivou uma reunião para construir o “Parque Turístico de Passo Fundo”, que até hoje não saiu do papel.
Entre janeiro de 1964 e 15 de agosto de 1968, na gestão de Mário Menegaz, chefiou a Secretaria Municipal de Educação. Nesse mesmo período, sob pseudônimo, foi classificado em primeiro e segundo lugares num concurso para a escolha do Hino de Passo Fundo. Escreveu a letra, e a partitura executou-a o compositor Francisco Calligaris, de Porto Alegre. Mesmo vencedor, o hino escrito por Antônio Donin acabou sendo esquecido Idealizou a Bandeira do Município, hasteada pela primeira vez em 5 de outubro de 1968, durante a II EFRICA.
Antônio Donin foi premiado nacionalmente em diversos concursos de poemas e trovas. Além de vasta obra publicada em jornais e livros, como o intitulado “Heroínas”, deixou muitos trabalhos inéditos.
Foi pioneiro dos cursos de oratória em Passo Fundo e região. Dotado de vasta cultura, era um respeitável polimata, capaz de entreter os ouvintes durante oras, dissertando sobre os mais diferentes assuntos.
Leitor dos mais consagrados autores da Língua Portuguesa, manteve-se fiel ao verso metrificado. Jamais praticou o verso livre. Seus poemas mantém o tom parnasiano. Adquiriu perfeito domínio da métrica, de tal sorte que ao escrever poemas gauchescos ou trovas (o tradicional poema em redondilha maior e quatro versos rimados), demonstra uma espontaneidade raramente alcançada entre nós.
Transcrevo dois poemas que mostram as características literárias de nosso confrade, justamente homenageado.
Hino de Passo Fundo
Letra de Antônio Donin
Passo Fundo, cidade altaneira,
Verde terra do céu sempre azul!
Tua história refulge fagueira
Como a luz do Cruzeiro do Sul.
Estribilho:
Tu surgiste indomável e grande,
Ó torrão de progresso e de luz!
Teu fulgor pela Pátria se expande,
Porque a glória te inflama e conduz.
Salve, terra de luz e primores,
Lindo solo de gleba ondulante!
Em teu seio vegetam as flores,
Que plantou o imortal bandeirante.
Tua indústria e escolas garbosas
São autores de um novo porvir
Em teus campos e praças formosas
Contemplamos a vida a sorrir.
Súplica
Soneto de Antônio Donin
Deus excelso, divina potestade,
que o mundo governais com a razão,
libertai esta pobre humanidade
das garras da maldita exploração.
Mandai que impere o amor e a eqüidade,
e a virtude da santa gratidão.
Implantai, no planeta, a caridade,
e o espírito de paz e de perdão.
Projetai vossa luz maravilhosa
sobre a face da terra flagelada
para que surja uma era mais ditosa.
E fazei que o poder do vosso amor
faça raiar as luzes da alvorada
de um mundo novo, cheio de esplendor.
Os concursos foram realizados com o apoio da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (órgão do governo do Estado do Rio Grande do Sul), da Secretaria Municipal da Educação e da Secretaria Municipal de Desporto e Cultura. Concorreram alunos das escolas públicas e particulares do município. O presidente da Academia participou de reuniões com diretores e supervisores de escolas estaduais e municipais. Acadêmicos visitaram escolas privadas divulgando o regulamento dos concursos. A 7ª Coordenadoria Regional de Educação e a Secretaria Municipal de Educação difundiram os concursos, incentivando os professores a trabalharem com os alunos.
Para a organização dos concursos a Academia escolheu duas comissões. A primeira composta pelos acadêmicos Alberto Antonio Rebonatto, Dilse Piccin Corteze, Elisabeth Souza Ferreira, Gilberto Cunha, Jurema Carpes do Valle, Paulo Monteiro, Santina Rodrigues Dal Paz, Welci Nascimento, Helena Rotta de Camargo e Santo Claudino Verzeleti, responsável pela coordenação dos trabalhos; a segunda, integrada pelos acadêmicos Gilberto Cunha, Elisabeth Souza Ferreira e Paulo Monteiro, encarregados da divulgação.
Na tarde fria e úmida do dia 11 de julho, as portas da biblioteca do sodalício foram abertas para a comissão julgadora assim constituída: Paulo Monteiro, Dilse Corteze e Elisabeth Souza Ferreira, da Academia Passo-Fundense de Letras, Jandira Inês Dallabrida Machado, da 7ª Coordenadoria Regional de Educação, e Gerson Lopes e Guilherme Cruz, da Secretaria Municipal de Desporto e Cultura.
No concurso “Um século sem Euclydes da Cunha” inscreveram-se Deomar Dias de Oliveira, Talison Marins da Silva e Vilson José Petry Júnior, alunos da professora Cleris Schmohl Miotti, da Escola Estadual de Ensino Médio General Prestes Guimarães; Jonas Tieppo da Rocha, aluno da professora Cristina dos Passos Cunet, do Colégio Notre Dame; Júlio Felipe da Silva, aluno da professora Iara Regina de Lima dos Reis, da Escola Estadual de Ensino Médio Professora Eulina Braga; Suélen Antunes Camargo, aluna da professora Noeli König, do Colégio Estadual de Ensino Médio Joaquim Fagundes dos Reis; alunos Jaderson Tibola da Silva e Lucas Souza Lopes de Chaves, alunos da professora Vera Lúcia Verzegnazzi, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Paulo Freire e Ayheza Fontoura de Baldo e Carneiro, da Escola Estadual de Ensino Médio Anna Luiza Ferrão Teixeira, orientada por sua própria mãe.
No concurso “Poeta Professor Antonio Donin: poesias para Alimentar a Alma” inscreveram-se Daiane Negri da Silva, aluna da professora Rosangela Modesti, da Escola Estadual de Ensino Médio Anna Luísa Ferrão Teixeira, Edson Oliveira dos Santos e Carine Almeida Antunes, alunos da professora Iara Regina de Lima dos Reis, da Escola Estadual de Ensino Médio Professora Eulina Braga; Venícius Pasqual Montoya, aluno da professora Fernanda Giacchini, do Colégio Notre Dame, Jéssica Maciel da Silva, aluna da professora Simone Duval Damini, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Arlindo Luiz Osório e Rafael Luiz Marachim, aluno da professora Saly Bortolanza, da Escola Estadual de Ensino Médio Anna Luiza Ferrão Teixeira.
A professora Simone Duval Damini, legou para os arquivos da Academia todos os poemas escritos pelos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Arlindo Luiz Osório.
Durante horas, todos os trabalhos inscritos foram lidos e dissecados um a um. Ao final, os seguintes os classificados no Concurso Literário “Professor Antonio Donin: Poesias para alimentar a alma”: (alunos de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental): 1º colocado – Vinícius Pasqual Montoya, aluno da 6ª série do Colégio Notre Dame, orientado pela professora Fernanda Giacchini; 2º colocado – Rafael Luiz Maraschin, aluno da 7ª série da Escola Estadual de Ensino Médio Ana Luiza Ferrão Teixeira, orientado pela professora Saly Bortolanza, e 3º colocada – Jéssica Maciel da Silva, aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental Arlindo Luiz Osório, orientada pela professora Simone Duval Damini; (alunos de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental); 1º colocada: Daine Negri da Silva, aluna da 4ª série do Ensino Fundamental da Escola Estadual de Ensino Médio Ana Luiza Ferrão Teixeira, orientada pela professora Rosângela Modesti. No Concurso Literário “Um século sem Euclydes da Cunha” a classificação: 1ª colocada – Ayheza Fontoura de Baldo e Carneiro, aluna da Escola Estadual de Ensino Médio Ana Luiza Ferrão Teixeira, orientada por sua mãe Virginia da Silva Baldo; 2º colocado – Lucas Souza Lopes de Chaves, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Paulo Freire, orientado pela professora Vera Lúcia Verzegnazzi, e 3º colocado – Vilson José Petry Junior, da Escola Estadual de Ensino Médio General Prestes Guimarães, orientado pela professora Cleris Schmohl Miotti.
Os resultados foram altamente positivos, culminando com a divulgação dos premiados, na tarde do dia 11 de agosto, na sede da Academia Passo-Fundense de Letras.
Além de Paulo Monteiro, presidente, Santo Verzeleti, secretário geral, e Helena Rotta de Camargo, conselheira, da Academia, estiveram presentes a professora Zelinda Brugnera de Thomaz, coordenadora adjunta da 7ª CRE, o professor César dos Santos, secretário municipal de Desporto e Cultura, a professora Vera Maria Vieira, secretária municipal de Educação, além de outras autoridades, diretores, professores e alunos de escolas participantes.
O presidente da Academia Passo-Fundense explicou a metodologia empregada na classificação dos trabalhos e as dificuldades enfrentadas devido à qualidade elevada dos trabalhos concorrentes. Os jurados Jandira Inês Dallabrida, Gerson Lopes e Guilherme Cruz também salientaram o nível elevado dos trabalhos concorrentes. A coordenadora ajunta da 7ª CRE e os secretários municipais de Desporto e Cultura e de Educação lembraram a importância da iniciativa acadêmica envolvendo as todas as instituições públicas sediadas no município responsáveis pela educação e a cultura, garantindo apoio para outros concursos que serão realizados no ano vindouro.
A premiação dos classificados ocorreu na noite do próximo dia 17 de setembro, em sessão solene a ser realizada na sede da Academia Passo-Fundense, com a presença de alunos e professores que participaram dos concursos literários, além de acadêmicos, autoridades e comunidade em geral.
Ponto alto da solenidade foi a presença de 38 alunos da Escola Municipal Arlindo Luiz Osório, que participaram do concurso de poemas. Acompanhados de suas professora formaram um coral de jovens poetas, que entoaram o Hino Nacional Brasileiro e o Hino do Rio Grande do Sul, tradicionais nas sessões da Academia Passo-Fundense de Letras.
A professora Vanda Xavier Donin pronunciou emocionado e emocionante discurso de agradecimento pela lembrança da Academia.
Em nome da Academia falou a acadêmica Dilse Piccin Corteze, de cuja cadeira Euclydes da Cunha é Patrono. Destacou a importância da obra do escritor fluminense e destacou a vida e a obra de Antônio Donin.
Também fizeram uso da palavra a professora Jandira Dallabrida, representando a 7ª Coordenadora Regional de Educação, a professora Ivânia Campigoto de Aquino, representando a Secretaria Municipal de Educação, o jornalista Gerson Lopes, diretor da Secretaria Municipal de Desporto e Cultura, o vereador Luiz Miguel Scheis, representando a Câmara de Vereadores, além de outros oradores. Todos destacaram a importância da iniciativa da Academia Passo-Fundense de Letras e garantiram apoio para outras iniciativas do gênero.
Ao final da solenidade os sete novos escritores autografaram o livro “De Canudos a Passo Fundo”, editado sob o selo da Academia Passo-Fundense. A sessão de autógrafos constituiu-se num momento emocionante para familiares e colegas dos jovens escritores.
Passo Fundo, por força de Lei, é foi declarada Capital Nacional da Literatura e Capital Estadual da Literatura. O município apresenta a média “per capita” de leitores mais elevada do Brasil. Os concursos realizados pela Academia comprovam a variedade e a qualidade dos escritores locais, desde crianças a maiores de oitenta anos. Aliás, Literatura Local é o título de um programa semanal, mantido há três anos pelo sodalício, na TV Câmara, órgão da Câmara de Vereadores.
É fundamental registrar o apoio da 7ª Coordenadoria Regional de Educação nas pessoas do coordenador Milton Scipioni, da coordenadora adjunta Zelinda Brugnera de Thomaz e das professoras do Setor Pedagógico Jandira Inês Dallabrida e Elisabeth Holland, em nome das quais se consigna o apoio de toda a equipe daquela Coordenadoria. A Secretaria Municipal de Desporto e Cultura, através do Secretário César Augusto dos Santos e de toda a equipe funcional, fornece um apoio constante a diversas atividades da Academia, inclusive aos Saraus Literários, que realizamos em conjunto. Já a Secretaria Municipal de Educação apoiou os dois concursos deste ano, lembrando-se a atenção especial da secretária Vera Maria Vieira e sua assessoria pedagógica, assegurando o apoio para concursos que devam realizar-se no próximo ano.
A seguir transcrevemos os trabalhos vencedores:
Concurso Literário “Poeta Professor Antonio Donin: Poesias para alimentar a alma” – Categoria 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental
1ª Colocada: Daiane Negri da Silva
Idade: 10 anos – 4ª série
Escola Estadual de Ensino Médio Anna Luísa Ferrão Teixeira
AS QUATRO ESTAÇÕES
Quando Deus criou o mundo
Nos deu de presente quatro estações,
Toda ela tem seus segredos,
Que nos enchem de emoções.
A primavera é linda,
Com flores e perfumes,
Viva e colorida,
Provoca muitos ciúmes.
Nela os dias são alegres,
Os pássaros cantam em coro,
Encantando nossos dias,
Porém, o orvalho caindo em choro.
O verão tem seus encantos,
É uma estação quente e agradável,
Tomamos sorvete na praça,
E brincamos de forma saudável.
Quando chega o outono,
Lá se vai todo encanto,
As folhas das árvores caem.
E o vento causa espanto.
No inverno tudo é muito gostoso,
Cheio de muito amor,
Tanto faz se é na frente da fogueira,
Ou de baixo de um cobertor.
Temos que agradecer a Deus,
São muitas emoções,
Somos todos felizardos,
Com as quatro estações.
Concurso Literário “Poeta Professor Antonio Donin: Poesias para alimentar a Alma” – Categoria 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental:
1º colocado: Vinícius Pasqual Montoya
Idade: 12 anos – 6ª série “B”
Colégio Notre Dame
Professora: Fernanda Giacchini
Amizade não tem preço
Amizade é algo que não se troca,
Amizade é bem assim:
Amizade é um gesto de carinho,
Amizade é algo que não tem fim.
Mas eu conheço uma amizade,
Que vocês precisam conhecer,
É sobre meu gato preto Jecaro
E o gato branco Oliver.
Cada pássaro que Jacaro caça,
Com seu amigo Oliver vai dividir.
Mas quando é Oliver que pega,
Adivinha o que acontece?
Ele sai correndo por aí.
Pior que isso é a história do Jacaro com o cachorro
Quando pequenos, eram amigos de ouro.
Quando cresceram, começaram a se estranhar
O cachorro começou a correr atrás do Jacaro
Que ele fez de tudo para o perdoar.
Depois disso as coisas mudaram,
O Jacaro ficou valente.
Ao invés do cachorro correr atrás dele,
É ele que mostra as unhas e os dentes.
Esse meu gato Jacaro
É meu grande amigo,
Com ele quero ficar.
Pois bons amigos sempre se ajudam,
Bons amigos sempre se protegem,
Quase sempre estão juntos,
Quando se vêem ficam alegres.
2º colocado: Rafael Luiz Maraschim
12 anos – 7ª série 72
E. E. de E. F. Anna Luiza Ferrão Teixeira
Professora: Saly Bortolanza
A VIDA EM CINCO ÂNGULOS
Se eu fosse Mário Quintana
Poderia contemplar
Que a vida além de deveres
Tem alegrias sem par.
A gente corre do tempo
Que teima em nos alcançar
Em meio à chuva jogamos
Os deveres para o ar.
Se eu fosse Tiago de Mello
Poderia filosofar
Garantir que este mundo
Ainda pode melhorar
Cada um faz a sua parte
Com muita dedicação
Ética, solidariedade e
Amor no coração.
Se eu fosse Araújo Jorge
Viveria apaixonado
Cada poema composto
Traz um quê de enamorado.
E eu que ainda estou crescendo
Já posso compreender
Que o amor é muito lindo
Mas pode fazer sofrer.
Se eu fosse Cecília Meirelles
Não cansaria de escolher
Entre isto ou aquilo
O melhor a se fazer.
Muitas vezes tenho dúvidas
Não sei como resolver
Os desafios matemáticos
Confundem-me prá valer.
Se eu fosse Castro Alves
Poderia compreender
A história dos escravos
E todo o seu padecer.
Mas eu sou só o Rafael
Um garoto inteligente
Que gosta de poesia
De brincar constantemente.
Falar de cinco poetas
Retratando a vida em ângulos
Cada qual com seu estilo
E eu na forma de um triângulo.
3º colocado: Jéssica Maciel da Silva
E.M. de E. F. Arlindo Luiz Osório
8ª série do Ensino Fundamental – T: 81
Professora: Simone Duval Damini
A dura realidade
Imaginei uma criança
Com olhos de esperança
Essa criança nas ruas da cidade
Eu estava vivendo uma realidade
Imaginei também um crack
Mas não craque de futebol
Aquele crack que vicia
Aquele que me dá angústia, ânsia.
Imaginei os dois se unindo
A criança se destruindo.
Ali compreendi muita dor
A dor por falta de amor.
Concurso Literário: “Um século sem Euclydes da Cunha”
1º Colocado: Ayheza Fontoura de Baldo e Carneiro
Idade: 16 anos – 2º ano do Ensino Médio
Escola: E. E. de E. M. Anna Luiza Ferrão Teixeira
Orientação: Virginia da Silva Baldo (mãe)
A estrela de brilho imortal
Em 1866, nasceu no Rio de Janeiro Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha. Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Além de escritor, foi sociólogo, repórter jornalístico, historiador, engenheiro, professor e também (como é sempre de se esperar) membro da Academia Brasileira de Letras.
Eu o considero um homem magnífico, pois foi ele quem apresentou a todos o verdadeiro Nordeste. E inclusive por terem me contado que ele trouxe-nos a luz, já que é um precursor da nossa consciência crítica. Fez isso principalmente através da sua belíssima obra-prima Os Sertões, livro que lhe concedeu prestígio internacional. Confesso que li somente este livro e alguns de seus sonetos. Mas estes já foram o suficiente para que eu o reconhecesse como um grande escritor. Porque para mim, não basta que me digam: “fulano foi um grande escritor”. Preciso eu mesma constatar.
Pude perceber que o Senhor Euclides da Cunha tinha por preferência abordar assuntos históricos e apresentar o contraste moral, físico e social da sociedade em seus escritos. Tenho certeza absoluta de que isto se deve ao fato de ele ter sido sociólogo e historiador, pois certamente um bom escritor deve ao mesmo tempo relacionar a vida real ao fictício. Transpassar para o papel fragmentos da vida de cada leitor. Para que todos ao lerem uma obra, possam identificar ao menos uma única coisa similar no escrito. Isso gera uma grande intimidade entre o leitor e a obra, e conseqüentemente com o escritor.
Por um lado, às vezes penso o quão bom seria se todos nossos grandes escritores fossem biologicamente imortais, para que pudessem sempre nos surpreender e encantar com suas maravilhosas obras. Mas por outra perspectiva vejo que isto provavelmente inibiria o surgimento de novos escritores.
Mas nós todos somos meros seres mortais, inclusive Euclides da Cunha e todos os demais grandes escritores. Neste ano celebramos o centenário de falecimento deste ilustre escritor. Que embora já tenha fisicamente nos deixado, sua luz continuará a nos acompanhar, e também acompanhará muitíssimas outras gerações e, quem sabe, até o dia em que este mundo acabar.
Embora Euclides “tenha ido estudar a geografia dos campos santos” (como diria nosso outro ilustre escritor Machado de Assis), ele se fez imortal em seus escritos, deixando-nos sua luz crítica na consciência.
Eu o comparo a uma estrela, e utilizo-me de suas próprias palavras para descrevê-las: “São tão remotas as estrelas, que apesar da vertiginosa velocidade da luz, elas se apagam e continuam a brilhar durante séculos”. Sim, estrelas, mesmo após morrerem no solitário e infinito universo, ainda nos é possível admirar a linda e reluzente luz emitida em vida por elas. Elas nos encantam enquanto estão vivas e até mesmo depois de terem deixado de existir. Tendo em vista que sua luz, mesmo muito tempo após seu falecimento, não desapareceu até hoje, e nem deixará, pois ele é uma estrela de luz imortal...
2º colocado: Lucas Souza Lopes de Chaves
17 anos – 1º ano do Ensino Médio
E. E. de E. F. Paulo Freire
Orientadora: Professora Vera Lúcia Verzegnazzi
Marchar e vencer – Euclides da Cunha
Em 15 de agosto de 1990, em duelo à bala por razões passionais, o Brasil perde um dos maiores escritores da nossa Língua, Euclides Rodrigues da Cunha. Euclides tornou-se reconhecido pelo seu grandioso trabalho “Os Sertões” (1902). Obra essa que Euclides não queria classificá-la como um romance porque sua intenção era apenas um relato sociológico e histórico – para revelar às populações dos grandes centros urbanos um cenário que desconheciam: a saga do homem brasileiro do interior do Nordeste. Nesta obra “Os Sertões”, Euclides relata através de uma linguagem dinâmica e coloquial não só a história da rebelião dos seguidores de Antonio Conselheiro, mas sim as características físicas do sertão baiano e sobre seus habitantes.
Euclides como jornalista é nomeado a engajar-se na 4ª Expedição do General Artur Oscar contra Belo Monte, ou seja, contra Canudos. Ele presencia com perplexidade a coragem dos sertanejos. Era uma luta desigual dos heróicos sertanejos guiados por Antonio Conselheiro contra as forças do exército republicano. Para Euclides era o esmagamento do mais fraco pelo mais forte.
Nesse livro ou romance, como muitos críticos o classificaram, Euclides desvenda segredos da Guerra de Canudos com personagens verdadeiros e fictícios que se misturavam, fazendo chegar até nós a essência do povo brasileiro, vítimas das injustiças sociais e políticas nos primeiros anos da República. República, essa, que não preocupou em resolver as agudas desigualdades econômicas que padecia a população brasileira.
Euclides para contar a campanha de Canudos divide-a em três partes: A Terra, O Homem e A luta. Na primeira, considerada a mais árida e estática, são as minuciosas descrições geológicas da caatinga nordestina. Na segunda parte, é o sertanejo, produto daquela terra, o objeto de análise e observação de Euclides: que povo era aquele que seguia cegamente um líder revolucionário, mas que também sabia viver em comunidade. E, na última, encarada como a mais dinâmica e fluida delas, a batalha entre os seguidores de Antônio Conselheiro e o exército republicano. Tendo a oportunidade de apreciá-la, esta última parte da obra levou-me a questionar sobre a política governamental do nosso país daquela época e a atual situação de nosso país hoje. Será que o povo massacrado daquela época não está vivo na alma de muitos dos favelados, sem-terras, marginalizados, desempregados que clama por justiça, dignidade e respeito? Quantos “Generais, Marechais, Tenentes” estão vivos na alma de muitos deputados, senadores e até mesmo no grande líder do nosso país massacrando o povo através da corrupção e dos salários altíssimos que os mesmos recebem, comprado com o salário mínimo que muitos brasileiros ganham e dele precisam para driblar a crise financeira.
Cem anos se passaram da perda de Euclides da Cunha, e sua obra ainda está viva como um livro multidisciplinar para ser estudado por todos nós, estudantes do Ensino Médio, pois é uma obra geográfica, histórica, literária que deve ser apreciada por todos nós brasileiros.
3º Colocado: Vilson José Petry Junior
1º ano do Ensino Médio – Turma 101
E. E. de E.M. General Prestes Guimarães
Orientadora: Professora Cleris Schmohl Miotti
Sua vida, nossa inspiração
(Euclydes da Cunha)
Importante escritor que se dedicou sempre em nos mostram em suas obras que tudo é possível, mesmo com vários problemas que podem ser encontrados durante a vida.
Desde pequeno mostrava interesses pelos estudos, freqüentando conceituados colégios, O fato de ser órfão de mãe e acabando ser criado e educado pelas suas tias na Bahia parenta não ter atrapalhado sua infância, mas sim o colocam objetivos para sua vida.
Estudou na Escola Politécnica e, um ano depois, na Escola Militar da Praia Vermelha. Depois, na sua escola cometeu infrações e, assim, foi submetido ao Conselho de Disciplina e, em 1888, saiu do Exército, E, além disso, participou da propaganda republicana no jornal O Estado de S. Paulo.
Após a proclamação da República foi reintegrado ao Exército com promoção, isto demonstra o seu grande potencial. Ingresso na Escola Superior de Guerra, e muito, além disso, consegue até se tornar primeiro tenente e bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais.
Euclydes casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro, um dos líderes da República.
Alguns anos depois, mais precisamente em 1891, ele deixa a Escola de Guerra e é designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Mas em 1897 quando surge o ciclo de Canudos, ele se inspira e escreve dois artigos pioneiros, os quais lhe valeram um convite de O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito, graças a suas críticas sobre a restauração da Monarquia. Euclydes, então não presencia o final de Canudos, mas seu trabalho é bem finalizado, conseguindo material para elaborar “Os Sertões”, uma das suas principais obras, que mostra um Brasil diferente da representação usual que dele se tinha.
E sempre foi muito curioso, percorre a Amazônia e resulta em sua obra póstuma “À Margem da História”. Após a sua volta da Amazônia prefaciou os livros “Inferno Verde”, de Alberto Rangel, e “Poemas e Canções”, de Vicente de Carvalho.
Euclydes sempre foi sábio, o que resultou em mais acontecimentos importantes de sua vida. Em 1909, ele descobre que estava sendo traído pelo jovem tenente Dilermando de Assis, e que até um dos seus filhos era atribuído ao amante de Ana. Então comete a burrice de sair armado em direção à casa de Dilermando, o qual era campeão de tiro, disposto a matar ou morrer (mais uma vez o amor estraga uma vida), e acaba sendo morto, infelizmente. Ana casou-se com Dilermando.
Uma vida muito privilegiada foi a de Euclydes, e também muito desejada por muitos, por suas vitórias e derrotas, obras que criticavam e buscavam melhoras para a humanidade. Mas ele também era um homem igual a qualquer um, apenas tinha objetivos complexos, tanto na sua vida profissional como escritor ou como qualquer pessoa que quando viajava não olhava apenas as belezas. Mostrava as realidades para o mundo a sua volta como na sua viagem à Amazônia onde denunciou a exploração dos seringueiros, mostrando que ele era uma pessoa que não pensava em si mesmo.
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos