Por tantos querer Ser sempre me irritou ser algo.
Nasci e já me aborrecia ser filho, menino, sobrinho, netinho ou qualquer outro inho.
Assim que as pernitas me permitiram não mais parei de ir, ver, mexer, sentir, viver.
A maior ou menor facilidade, prazer ou consequência provinda dos meus actos pouco tiveram a ver com a satisfação pessoal que eu tirava deles.
O facto de me exceder em algo e por isso ser elogiado, elogios esses carregados de expectativas e projeções futuras, apenas me afastava do momento presente entediando-me de morte enquanto me levava inconscientemente a uma ruptura com aquilo que estava a experienciar. No rosto dos que me amam conseguia ver eu a concretização dos seus sonhos, eu poderia Ser Tudo...Tudo o que Eles quisessem...
Quando os obstáculos surgiam no meu caminho sem hesitar eu abdicava em prol de prazeres mais fáceis e instantâneos que pareciam fazer esquecer aquilo que realmente importava.
Quaisquer sonhos, projecções ou objectivos a longo prazo estilhaçavam a minha vontade de viver/escolher e não querendo nunca que alguém que não eu tomasse conta de mim acabava invariávelmente por matar tudo aquilo que em mim pudesse estar a tentar despontar.
Ser um bom filho.
Ser um bom católico.
Ser um bom parente.
Ser um bom amigo.
Ser um bom estudante.
Ser um bom namorado.
Ser uma boa pessoa.
Sendo tudo isto e muito mais descobri que nada disto acrescentava a quem eu realmente sentia que Era.
Dei por mim querendo ser algo que já era e recusando ser outro que também Eu era.
Juntei tudo o que amava e guardei-os no fundo do meu mar tencionando juntar-me a eles logo que possível.
Carreguei o meu barco com toda a merda que não era Eu e fiz-me a esta Vida que era o oceano que necessitava vencer. Sozinho com todas os cenários mentais que se desenham na minha mente acabo por constatar que nem estes sou Eu.
À medida que me afasto da costa conhecida assim abranda o meu ritmo mental e começo a sentir o Silêncio onde a cacofonia acontece. Medos, dependências, anseios, desejos, culpas, traumas, doenças começam a tomar forma e aceitando tudo sem medos reparo que nada disto sou Eu.
Vazio vai o barco, despido e oco vou Eu. Sem terra á vista , despido e oco assim Me encontro. O Sol recebe a minha primeira visita e aceito sem restrições o facto de estar vivo.
Sem precisar de nome, propósito ou forma sinto a Paz inefável que deriva de aceitar em pleno e sem qualquer tipo de barreiras/conceitos aquilo que É.
"Ser ou não ser eis a questão."....
Creio que é quando esta questão nem se se põe que realmente Sou.
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.