Ouvi estes carmes, meus amigos…
Eu vim de longe, detrás do rio,
Enfrentando feros pr´gos,
Num imenso corrupio.
Por pouca fortuna fui bafejado,
Que silente era o caminho,
De mim mesmo desencontrado,
Andei no mundo sempre sozinho.
Ainda jovem conheci a intolerância,
Busquei nas ruas algum sinal,
Das pessoas a sua concordância,
Fazendo delas um meu igual.
Perdi-me na ilusão desunida,
Entre estradas e mil vielas,
E minha vida foi consumida
Por eu não querer saber delas.
Mas era tudo sonho recorrente,
Uma utopia sem sentido,
Porque essa pobre gente
Achou que tudo lhe era devido.
Ainda assim insisti, persisti,
Dando o melhor que em mim havia,
Foi então que me desiludi,
Talvez por minha covardia.
Ah, Oriente, do meu oriente,
Fui ao ópio buscar o sonho,
De uma forma tão plangente
Que me achei no entressonho.
Meus amigos, que é deles,
Morreram-me nos braços!
Porque não fui eu com eles,
Sem piedade nem embaraços?
Trinta anos se passaram,
Das gentes me arrependi,
Enquanto os outros gozaram,
De mim mesmo me perdi.
Porém quando se lança o alvor,
No meu pobre coração,
Trago ainda comigo todo o amor,
Sem qualquer comiseração.
Jorge Humberto
19/06/07