Depois que morrer
Não quero ser apenas lembrança
Quero ser vento
Para embaralhar cabelo de criança
Quero ser jamelão
E colorir maldosamente o chão em bolotas
Quero embaralhar idéias
Feito um copo de vinho
Desmantelar destinos
Numa paixão fulminante
Quero ser perfume
E me espalhar pelo ar
Ser uma Nossa Senhora imaginária
Dentro de cada pedrinha de granizo
Depois que morrer
Não quero ser apenas lembrança
Não quero que encontrem as páginas de meu diário
E minhas fotografias
E ser motivo de angústia
Ou de conselhos tardios
Quero ser uma conversa informal ao pôr de sol
Uma corrida à beira mar ao amanhecer
Cheiro de Orvalho
Lã de carneiro
Um lugar onde se gostaria de estar
Uma razão a mais pela qual cada um deve intensamente viver
Depois que eu morrer
Todas as minhas obras são
registradas na Biblioteca Nacional
e protegidas pela Lei 9610 de 19/02/1998