Lá arrecadadas estão as imagens
Que fizeram-me a mim um dia.
Que no fundo são só miragens
Impressas em papel de fotografia.
Depositados são alguns quadros…
Que nem sei porque lá são colocados.
Fui eu ou outrem que pintou tais traçados?
Oh! Que me interessa? Estão borratados.
Contém também fitas, fios e lenços.
Não me recordo de os guardar.
Permitem-me ter vários talentos
E só sei que os devo estimar.
Encontram-se por lá penas e algodão
Enfiados numa espécie de alçapão.
Numas alturas chegar-lhes é um trabalhão
Outras vezes é só cantar-lhes uma canção.
Guardo igualmente várias cartas.
Gosto de lê-las diariamente.
Umas são escritas por índios e mulatas
Noutras escreve-me toda a gente.
As minhas jóias também foram lá parar.
Um sítio pouco seguro, devo confessar.
Mas de fácil acesso quando as quero mostrar
E se as tiro mas não mostro, rápido para guardar.
Já vos falei das plumas e colares?
De diferentes tamanhos e várias cores?
Vou buscando-os em diferentes lugares
Lembram-me sempre o sabor das flores.
E as minhas caixinhas de pintura?
Que me dão à cara nova frescura.
Mas já me pintei numa outra altura
Sob a luz duma noite escura.
O meu baú tem apenas dois lados
Com muitos e diferentes compartimentos.
Às vezes penso que se vai partir aos bocados
Mesmo assim uso-o em todos os momentos.