Poemas : 

Gargalhada

 
Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...


O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.


Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...


Escuta bem:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.


Cecília Benevides de Carvalho Meireles
( 07/11/1901 — 09/11/1964)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
Cecília Meireles
 
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Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 07/09/2009 18:40  Atualizado: 07/09/2009 18:40
Colaborador
Usuário desde: 02/04/2009
Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: Gargalhada
Um texto muito interessante!

"Um sorriso e a Vida acontece"!


Um abraço!
Abilio.

Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 07/09/2009 19:34  Atualizado: 07/09/2009 19:34
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: Gargalhada
Como adoro este poema
e como me sinto feliz por o reler.
Vóny Ferreira