Do mesmo quarto, sempre do mesmo quarto.
Pierre,
A França lhe oferece muito, não te prives dos prazeres desta cidade, seria deveras inútil por aí, a tua estadia. Não estou empenhada a te justificar Pierre, os teus últimos escritos reduziu-me a um estado bem singular. Mil vezes ao dia os meus suspiros vão ao teu encontro. Não sei viver esta minha vida a não ser pensando em ti, no que fazes, como estás, no que sentes... E vejo, portanto que tu estás bem. Ah, Pierre! Quisera eu, estar assim, como tu! Sim, Pierre, o tempo será deveras delongado, esse tempo em que nada nem ninguém poderão fazer-me esquecer-te.
O que tu queres que eu faça? O que tu queres que eu pense? Vejo que, antes mesmo de contar-lhe sobre Michel, tu já tinhas aí, um ombro amigo para consolar-te nos teus dias de saudade. Marie, Marie, Marie... Quem será Marie? Tu conheces Michel, e, tu me conheces também. Eu nada sei de tua amiga, a não ser o que tu tão bem descreves. Percebo também, aqui, por estas tuas linhas, o quanto Marie preocupa-se com teu aparente estado saudoso. Não vês? Ela pede que não a prives deste teu sorriso tão belo. Ah, mon amour, tu e Marie, por certo, entendem-se muito bem, vejo que te compadeces dela, a pobre nunca conheceu um amor de verdade, e tu relatas, mesmo que em fragmentos, esse nosso amor tão “nosso”. Vejo que tua compaixão em entendê-la é digna de minha humilde admiração. Como tu és bom e atencioso.
Imagino que a França, agora, será para ti, motivos de vindouras alegrias. Tens uma companhia agradável, conhecedora de todos os encantos que estas terras podem oferecer-te. Não penses tu, Pierre, que, incomoda-me saber das tuas andanças. Faças o que tu julgas ser o melhor. Aproveite a adorável companhia de alguém que tanto tu admiras. Ficarei aqui, junto aos meus versos, pois, é o que mais me acalenta nesta minha espera. Irei procurar dar-te conta por escrito de todos os meus sentimentos, e, por nenhum furto instante, recorrerei ao dissimulo para que tu saibas o que faço, penso ou sinto. Só me resta algo a fazer, dedicar-me totalmente a arte da escrita, deleitar-me no prazer de cada verso, na satisfação e no êxtase que somente os artistas conseguem sentir. Enviar-lhe-ei notícias, de meus escritos e meus feitos. Tu saberás detalhadamente ao que me entrego nestes dias que não tenho teu “belo” sorriso junto a mim.
Eu o amo Pierre, não te esqueças disso. Esforço-me de todas as maneiras para cuidar do amor que sinto, pois ele não é pra mim um desvario ou uma vaga impressão de sentimentos. Não quero novamente iludir-me com a idéia de que não sei o que é amar, pois amo-te da maneira que tu me ensinaste. Não plante dúvidas, pois elas são como ervas daninhas, consomem o que há de melhor, mesmo sendo no mais belo e cuidado dos jardins.
Divirta-se amour, farei o mesmo.
Beijos,
Jey