Textos -> Outros : 

UMA TARDE COM UM FINAL FELIZ

 
UMA TARDE COM UM FINAL FELIZ
 
Chegou uma vez mais o Outono. Na Charneca da Fonte Quebrada, Maria João observa que o velho casal de andorinhas já não se encontra no ninho que todos os anos serve de abrigo àquelas aves barulhentas mas sobretudo simpáticas.

Os dias já escurecem cedo e as temperaturas estão um pouco mais baixas, o que obrigou aquele casal de imigrantes a deixar o alpendre da casa de Maria João e ir procurar nova residência num outro país de temperaturas mais quentes.
Resta esperar que para o ano, os seus hóspedes regressem e tragam de novo consigo a Primavera.

As árvores perderam os seus mantos e numa vasta extensão, podem ver-se agora no chão, uma triste moldura de tons castanhos de folhas secas.
Maria João mora numa casinha construída em madeira de pinho e nesta estação, já tem guardado na sua arrecadação, toda a madeira necessária para os dias e noites mais frias que se avizinham.

Vive sozinha naquela casa já faz alguns anos. O vizinho Zé, regularmente, faz-lhe uma visita dia sim, dia não, para saber se vai tudo bem com ela ou se precisa de alguma coisa.
È Kico, um gato fofalhudo de cor cinzenta que lhe faz companhia a maior parte do tempo principalmente quando è chegada a hora das refeições.

Desta vez Kico está em maus lençóis. A sua dona pôs o bichano de castigo porque este resolveu trair a sua confiança ao roubar uma fatia de tarte de amoras silvestres e não estando satisfeito,pregou com o prato do parapeito da janela abaixo com todo o recheio da tarte.

Mas o castigo será sol de pouca dura. Maria João adora ter o seu amigo ao colo e acariciar-lhe o pêlo macio quando está na lareira a aquecer-se.
Lá fora, o vento aumentou de intensidade e fustiga agora as árvores com alguma agressividade.

Os murmúrios fazem-se ouvir um pouco por toda a parte.
Será que o vizinho Zé recolheu as suas cabrinhas? Pensou Maria João com alguma preocupação. A resposta não se fez esperar:

- Pum! Pum! Alguém tinha batido à porta naquele preciso momento com alguma violência. Pode abrir a porta se fizer favor? – Sou eu o vizinho Zé!
Maria João apressou-se a abrir a porta e ficou a saber qual era de facto a aflição daquele homem.
Tinha perdido as suas duas cabras, a Curiosa e a Teimosa e não sabia agora onde as procurar.
Sempre tinha alguma esperança que a sua vizinha tivesse visto as duas por aquelas bandas.

Mas para desalento do pastor, as cabras não tinham sido avistadas por ninguém naquelas redondezas. Resta então ao homem, continuar a sua procura antes que o estado do tempo se agrave. Despediu-se rapidamente de Maria João e fechou a porta.

O céu estava muito carregado de nuvens cinzento-escuras e o vento dava indicações de que muito em breve iria começar a chover. O vizinho Zé já estava desesperado de tanto procurar e não ter sucesso. Por um breve instante, pensou em desistir quando começou a chover com alguma precipitação.
Foi então que ouviu algo que lhe pareceu familiar:

Era a Curiosa que estava de bruços com as duas patinhas da frente dobradas e presa numa armadilha para javalis. Ao seu lado e por companhia, estava a Teimosa que balia desalmadamente como que a querer transmitir que a sua amiga estava em apuros.

Encantado com o reencontro, o Sr. Zé libertou a Curiosa e erguendo-a como se de um troféu se tratasse, colocou o animalzinho ao pescoço e tomou o caminho para casa esquecendo-se por completo da chuva.
Mais tarde quando o mau tempo acalmou, deslocou-se a casa de Maria João para lhe contar a novidade e sossegar a sua amiga.

Gabriel Reis


 
Autor
reisgabriel
 
Texto
Data
Leituras
1017
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.