DEUS BRASILEIRO (republicação)

caro domingos,
obrigado pela coragem e caráter em comentar meu poema. só podia esperar isto de você - um homem aberto a todas as tendências e que sabe respeitar as diferenças. não posso admitir, contudo, que algumas pessoas, sob o falso pretexto de elogiar um autor ou autora brasileiro digam: "pensei que você fosse portuguesa porque escreve um português correctíssimo." o que é correto ou correcto? orgulho-me bastante de ter minhas origens em portugal. nunca neguei que o meu gosto pela poesia foi despertado lendo miguel torga, que aliás escreveu: "Universal é o lugar sem paredes." sei o quanto você admira e respeita a nossa literatura. mas se não querem conviver com as nossas diferenças, fechem-nos a porta. lembrando leonardo boff, o grande teólogo brasileiro, banido da igreja: "A pretensão da verdade absoluta leva à intolerância."
obrigado, meu grande amigo. que oxalá o abençoe. saravá!

júlio

Júlio
O que a Lara disse não é o que está aí, desculpe, mas :
Que pensei que você era portuguesa, que escreve um português correctíssimo,...
O Júlio escreve uma frase causal.
A Lara escreveu uma frase, com duas orações separadas por vírgulas, onde se não pode entender causalidade. É preciso saber ler e não criticar um escrito, que de intenção só teve homenagear a Maria verde.
A Lara pensou que a Maria era portuguesa. Certamente pelo modo de escrever muito ao jeito português, na maioria dos textos.
E a Lara acrescentou que o português era correctíssimo. E eu concordo, porque o português da Maria verde, quer o escreva ao jeito dos portugueses, ou o faça ao jeito dos brasileiros é sempre correctíssimo. Alguma dúvida?
Júlio, a escrita também pode ser como a matemática, quando se faz correctamente a pontuação. E uma vírgula pode fazer a diferença.
Penso que devem desculpas à Lara, uns porque não souberam ler, outros porque opinaram ser ter o cuidado de ir confirmar o escrito.
Boa noite.

ave maria
maria verde
verde maria
cheia de raça
raça brasil

axé, gladys. saravá!

j.

alexandra,
o grande miguel torga escreveu: "Universal é o lugar sem parede." por ter essa visão de mundo (perdoe-me a expressão, visão de mundo é um termo mais teológico do que sociológico), ele se tornou universal. mas acredito, não é o seu caso, porque sei que você é uma pessoa aberta, não perde tempo com idiotias, que torga é como a bíblia: muito citada e pouco lida. tiram-lhe de lá frases, compiladas de forma errada, e sequer citaramm a fonte. quer dizer, citaram porque ouviram, num bar, numa sala de visitas ou numa roda de beatas, sei lá. papagaio também repete tudo o que o dono fala. mas não aprende. repete. mas não aprende. nem poderia. nunca neguei meu carinho pelo povo português. se o fizesse, estaria negando a mim mesmo. não fosse um casal de portugueses, que chegaram ao brasil na miserável condição de imigrantes, eu não teria nascido. não fosse miguel torga, talvez eu não fizesse poesia. infelizmente, há pessoas que só conhecem um mundo - pequeno e virtual. estes não merecem o meu respeito. você merece todo o meu carinho e respeito. e aqui vai o meu saravá e - por que, não? - bem-hajas também.

j.

maria ivone,

republiquei este poema por conta de um comentário que julguei ofensivo dirigido à poeta brasileira maria verde, que também se sentiu ofendida: "pensei que você fosse portuguesa, porque escreve um português correctíssimo." o que é correcto ou correto? ainda estamos no tempo de desrespeitar as diferenças? é inadmissível. a língua é a identidade de um povo. o grande saramago, que não é albanês, nunca falou língua portuguesa, substituindo a expressão por povos que falam português. você sabe muito do carinho que tenho por portugal. e se não tivesse, estaria negando as minhas origens. mas não admito preconceitos. quanto à angola, mencionada no poema, está claro: o brasil, hoje, é um país de maioria negra. nossa cultura está mais próxima da africana do que da europeia. somos 55% de negros e afrodescendentes. negar isto seria mentir. minha poesia está mais próxima da de josé craveirinha, moçambicano, do que de ramos rosa, o que não quer dizer que um é melhor poeta do que o outro. mas minha cultura é samba, não fado, embora eu aprecie o fado. minha cultura é cachaça e acarajé, embora eu goste de pastéis de belém. olhe, como disse o teólogo brasileiro leonardo boff, banido da igreja católica por suas ideias, "a pretensão da verdade absoluta, leva à intolerância". felizmente, os intolerantes aqui são bem poucos. sempre recebi do povo português mais carinho do que pedradas.

afeto,

j.

Meu querido amigo
eu sei, e aproveito para deixar aqui igualmente a minha indignação porque a Maria não merecia essa desconsideração.
Mas enfim... as atitudes ficam sempre com quem as pratica. e neste caso... há que dar um passo em frente e deixar aqui inequivocamente a solidariedade a uma amiga e distinta poeta.
Vóny Ferreira

ela foi bastante digna. soube responder à altura.além de grande poeta, é uma mulher e uma grande brasileira.

j.

eu sei, Júlio, eu sei...
tenho a honra de ser amiga da Maria
e ela sabe-o.
Também sabe que certas atitudes de algumas pessoas são dignas de pena... por roçarem o grosseirismo.

quer coisa mais brasileira do que o pseudônimo que ela adotou e explicou na entrevista o porquê?

j.

pois... e se calhar isso incomodou alguns...
quiça?
a maria sabe que tem muitos amigos brasileiros e portugueses. pessoas que admiram a sua escrita e a sua postura como ser humano.
isso é bem mais importante do que derivações mesquinhas que não fazem o menor sentido.
friso e reafirmo.
abençoado país, abençoado povo, e viva a nossa língua porque a minha pátria como diz o caetano veloso É A NOSSA LÍNGUA!

marlise,

nós não somos mais colônia faz muito tempo. e não devemos nos curvar a ninguém. somos 180 milhões a fazer com que esta língua ainda respire.

carinho,

j.

também penso como você. minhas origens estão em portugal. tomei gosto pela poesia, lendo miguel torga, aliás há poucos dias publiquei aqui um poema dedicado a ele. mas não são todos que pensam como você, mas uma minoria retrógrada. uma pessoa foi profundamente deselegante ao comentar a maria verde, escolhida, com justiça, luso do mês, com estas palavras: "sempre pensei que você fosse portuguesa, porque escreve um português correctíssimo." o que é isto? ninguém é dono da língua. a língua é a identidade de um povo. diferenças existem e devem ser respeitadas. a maria verde, como brasileira, deu a resposta à altura. será que carlos drummond de andrade escrevia errado porque escreveu em seu famoso poema "no meio do caminho tinha uma pedra" e não "no meio do caminho havia uma pedra", como talvez quisessem os puristas de plantão? josé saramago, que não nasceu na albânia, e que tive a honra de entrevistar pela revista MANCHETE, numa de suas vindas ao brasil, sempre usou a expressão povos que falam português e não língua portuguesa. e miguel torga, um homem em todos os sentidos, que pagou caro por defender seus ideais, disse: "Universal é o lugar sem parede." mas alguns imbecis não não pensam assim. e eu não admito nenhum tipo de preconceito. aliás, nem há motivo para isso.

afeto,

j.

engraçado, samita, concordo com tudo o que você escreveu.acho engraçado que muitas vezes defendi a substituição do careta hino nacional que temos, cheio de palavras horrorosas, por aquarela do brasil, que acho o nosso verdadeiro hino.

afeto,

j.

este poema, eu devo uma explicação aos amigos meus portugueses - e incluo você - de tê-lo republicado. achei que uma pessoa procedeu mal, comentando a escolha da maria verde, grande poeta, como luso do mês. não vi como elogio. e maria verde também não. o que você, como uma pessoa aberta, sem preconceito, que admira tanto a nossa música, acha disto: "pensei que você fosse portuguesa, porque escreve um português correctíssimo?" isto cheirou-me a preconceito. ninguém é o dono da língua. saramago diversas vezes usou a expressão povos que falam português e não língua portuguesa. não me cabe este tipo de preconceito. correcto ou correto pouco me importa. o que me incomoda são certas pessoas fazendo ainda este ar de pouco caso conosco, que contribuímos com 150 mil verbetes para a língua portuguesa. quando menciono em angola no meu poema, quero dizer que a cultura brasileira, não há como negar, hoje é muito africana do que europeia. o brasil é um país de maioria negra: 55% da nossa população é negra ou afrodescendente. ainda que eu goste de vinho do porto e pastéis de belém, minha cultura é a da cachaça e do acarajé. essas pessoas que carregam preconceito, aliás nem sei por quê preconceito, somos um povo culturamente independente, apesar de toda a bandalheira que há por aqui e aí também não é diferente, sim, essas pessoas deveriam lembrar do grande miguel torga: "Universal é o lugar sem parede." será que carlos drummond de andrade errou quando escreveu "no meio do caminho tinha uma pedra" em lugar, como alguns puristas talvez quisessem, "no meio do caminho havia uma pedra"? nada contra o povo português. ir contra portugal seria ir contra as minhas origens. tenho contra, sim, certos idiotas, que aliás pouco significam, porque sempre recebi mais carinho do que pedradas do povo português.

afeto,

j.

bem, sem me querer meter ou meter outros em sarilhadas, direi o que penso sobre o assunto: da língua portuguesa.

mas em antes, qt á frase proferida "pensei que você fosse portuguesa, porque escreve um português correctíssimo?" , devo deizer que acho de mau gosto, isto porque, não é o facto de se ser português que se vai saber bem ou correctamente o português. é como dizer por exemplo: mas será que todos na china são excelentes no karaté ou no pingue-pongue?, claroq ue não, a língua cultiva-se desenvolve-se eu, aqui em portugal, conheço muitos pataratas que mal sabem falar qt mais escrever. porque escrever é assunto para quem gosta e se dedica. portugal não fabrica escritores, quem nasce em portugal não significa que nasça a saber o portugês correcto. bem, adiante. portugês de portugal, portugês do brasil, por favor, deixem-se de complicações. o brasil, quanto a mim, é super independente e mais aberto á evolução da propria línga do que portugal, enraizado num passado que não nos leva a lado nenhum. a língua muda com os tempos, ela se transforma, evolui, aproxima-se da oralidade. a lingua portuguesa já foi modificada várias vezes, e não vai assim há muito tempo.
onde esta nossa língua era mais um código de exército do que mais nada.
os brasileiros, doa a quem doer, trouxeram novidades para a nossa própria língua, inventaram, deram-lhe luminosidades. o brasil tem a sua cultura, o seu povo, a sua forma de estar na vida, que aliás, muito me agrada, e isso nota-se nas cançoes que produzem, na qualidade que inventam.
os portugueses...lá chegarão. claro que aqui tb há o caso das editoras que não apostam em merda nenhuma, mas iso é outra história.

gosto da língua brasileira, que dizem que é portuguesa, gosto da forma como escrevem, aliás tenho em maõs o livro de chico buarque que veio daí do brasil.

este acordo ortográfico serve apenas para não deixar "fugir" o brasil, e portugal continuar a dizer que os brasilerios falam português, quando na realidade, os brasilerios falam a sua gente.

abraço

claro que eu concordo com você. quanto a esta cretinice do acordo ortográfico, na entrevista que dei ao escritartes, antes de ser expulso de lá junto com o xavier zarco, eu disse que foi uma sacanagem tanto do brasil quanto de portugal. que mais uma vez pisaram na cabeça dos outros povos que falam português. pra que serve acordo? pra um dar um nó na cabeça das crianças que já foram alfabetizadas e pra enriquecer os donos de editoras que publicam dicionários. mais importante do que o acordo, que aliás beneficia o brasil, seria o intercâmbio cultural entre os dez países que falam e escrevem português. eu não conheço um escritor de macau. você conhece. não conheço a literatura de goa. pô, aqui no brasil, só saramago era conhecido. lobo antunes, para o grande público, chegou agora. eu li os cus de judas na década de 80. inês pedrosa apareceu agora. adilia lopes, editada aqui, ninguém conhee. como não conhecem sophia andrese, fiama hasse paes brandão, casimiro de brito, al berto e tantos outros, aí em portugal, creio eu, pouquíssimas pessoas conhecem ferreira gullar, hilda hilst, ana cristina cesar. mas o lixo do paulo coelho o mundo inteiro conhece.

j.

escuta aqui, meu, vê se
vem pra são paulo, é perto, pra gente encher o caneco juntos. vou te levar pra dar um rolê no bixiga.

putaabraço,

j.

Ando trampando muito. Dando uma brecha, vou sim. E aí a gente enche o caneco. Me aguarde irmão!
Edilson!
vai assitir ao jogo hoje? ( Brasil e Argentina?)

a última epígrafe é uma letra do vinícius para uma música do edu lobo, gravada nos anos 1960 pela elis regina, que dá uma interpretação fantástica à música. ginga é molejo, balanço do corpo, malemolência. jongo é um ritmo afrobrasileiro. diogo cão foi primeiro traficante de escravos. a serviço do rei de portugal, ele convenceu o rei do congo a converter-se ao cristianismo. mas foi, na verdade, um golpe. portugal tomou os países africanos e o tráfico de escravos para o brasil teve início assim. é nosso triste passado.
carinho,

j.

Sim eu sei que o 3º é Vinícius,
gosto muito de o ler!
Lindas histórias que trazes sempre na tua escrita! Tb falas de reis :) e essa parte dos escravos foi realmente mesmo assim ... mas felizmente hoje já não há escravatura, espero!
Fortes estas mensagens.
Bjs

há escravatura branca,sim. infelizmente no meu país há alguns canalhas envolvendo crianças.há idiotas que fazem poemas de amor, serviçais da burguesia.e não enxergam isto. por alguns filhos da puta tenho nojo de ser brasileiro. ainda bem que mantenho-me em pé pela dignidade como homem e como jornalista, atividade que exerço há trinta e quatro anos.sei que o poema salmo é bonito, fiz pra quem o mereceu e o merece.deus brasileiro é universal.dispenso elogios digam que é uma merda e me sentirei melhor.
aliás quem não o lembra fez o comentário de compadre como ótimo. não abro as minhas pernas à mediocridade cultural.

j.

infelizmente no meu país há escravidão. temos a humilhação imposta aos bóias frias no norte e nordeste. não escondo o sol com a peneira. é lamentável, mas há.

j.

Mas isso não será escravidão, mas pobreza.
Podem ser escravos da pobreza...
a escravidão foi abolida ha mtos e mtos anos, é crime!
Beijo
fica bem.

também me vem o roger bastide, que aqui viveu tanto tempo - Brasil, País de Contraste. e é.infelizmente é.

carinho,

j.