APARIÇÃO
...
Em nosso quarto... uma lua branca se revestia
como uma paragem nítida, que se refletia
no espelho, e eu vi
um anjo, que me era vermelho e com alma
que era mais branca
quanto uma faísca de luz,
[explode em mim]
um devaneio enlouquente
- la luna caliente -,
brilho que se desatina, assim,
fugaz, ardil como uma ascensão selvagem,
traiçoeira dentro de mim,
em mim inibe semelhança
para que meus opostos se confrontem
com tal edacidade.
Em nosso quarto... pequenos sonhos se cintilam
à claridade
desse manso oásis sideral,
meia luz e meia sombra,
me libera e me acende,
me apaga e me prende,
me faz e desfaz,
me mata e me quer,
docemente envenenando-me
com o beijo...
Doce fantasma que me adentra,
doce demônio, anjíssimo,
doce paladar de frutas cítricas.
O corpo é infindo,
ata e desata o fundo da alma.
Criamos novos mundos
à luz de uma lua
tão fada que desnuda
em meus dedos, minha mente
e desliza sobre teus cabelos
com cântico,
choque de beijos, corpos
crescem como fogo
com tua essência perene
e minha espada caliente
num ritual mágico
rompendo em êxtases,
uma rosa entregue a ti,
somos tudo e nada,
somos fogo e água,
somos o que podemos ser...
... em nosso quarto...
em nossos sonhos,
na palpitação de paixões,
células epidérmicas na carne do sentimento,
aonde eu me determino primavera e inverno,
flores vívidas, névoa e flocos de neve
marcando essa nossa estrela
íntima de sedins (demônios) e deuses.
Doce, como, só, ela é
é a atração de tua essência
ao encontro do pecado,
o desatino, nosso destino
além da nossa linha de limite
externo
na direção de outro vento.
Essas misteriosas e indiscutíveis
palavras: Eu te amo!, mesmo doce como mel
ou amarga como fel...
[Davys Rodrigues de Sousa]
Davys Sousa
(Caine)