Ando de barrete porque sou saloio
Guardador de toiros e até sou maloio
Os meus óculos são como eu, são redondos
Tenho a barba longa, mas nada escondo.
Enfiaram-me o barrete à minha nascença
Os mal educados nem pediram licença.
Tenho vivido enganado constantemente
Mas como sou saloio cá ando contente
Os óculos redondos, os olhos centrados
São hediondos, não posso olhar para o lado
Foi por malandrice que esses óculos me deram
Para que eu não veja o que da vida fizeram
A barba está longa mas não sou eu o primeiro
A a deixar crescer por falta de dinheiro
Mas sendo aldeão, saloio, para mim nada é duro
Não tenho poluição, vivo ao ar livre e o ar é puro.
Os que não têm barrete dizem-se inteligentes
Porque passam a vida a enganar as gentes
Mas vivem num ambiente poluído e na podridão
Não são saloios, mas como eu, terminam num caixão.
A. da fonseca