(Dedicado à poetisa LilianBarbosa com o meu muito apreço)
RUMO À CIDADE DA PLENITUDE
Lá longe cambaleante trilhando caminho agreste que às vezes faz lembrar o deserto aproxima-se Segismundo apoiado num cajado e trazendo como única bagagem um maltratado alforge em que traz apenas o essencial. Na medida em que se aproxima vê-se ser homem já de avançada idade, de cabelos raros e grisalhos e a denotar um certo cansaço. Segismundo vem de uma cidade chamada Plenitude que lhe fora aconselhada para passar os seus dias com o Amor pelas boas condições que oferecia, quer em termos de abundância, quer de diversão e ocupação do tempo. De facto excelentes referências lhe foram dadas dessa cidade, de que há distância ainda se vêem as cúpulas, minaretes e pontos mais elevados das edificações.
Nesta altura, quando denota já alguma exaustão e necessidade de repouso, distingue à distância um busto de mulher que caminhando em sentido contrário ao seu se aproxima. Próximo já um do outro, ele vê nela uma criatura ainda jovem morena e de acentuada beleza, carregando pesada bagagem e, por sua vez, denotando também cansaço.
Segismundo adivinhando a natureza do objectivo desta jovem e encaminhando-se determinado para ela ousa interpelá-la: Não me surpreende simpática jovem o rumo que leva, mas fale-me de como chegou até aqui. Estou curioso a seu respeito.
- Com certeza. De facto caminhei já muito, vivi alguns anos num lugar chamado Infância, atravessei a adolescência e a juventude, de onde carrego alegrias, satisfações, desilusões, aventuras e incompreensões e que transporto neste baú. Atravessei um lugar chamado Esperança e procuro o lugar do amor, que me dizem ser vizinho da Dona Felicidade.
-Vai-me permitir que lhe fale da minha própria experiência, por poder ser-lhe útil. Também eu vivi nos lugares de que me fala e em lugares que de certo ainda não conhece, como o da Meia Idade e o do Dealbar da Velhice, como você procurei o amor que me foi árduo encontrar, mas que finalmente encontrei na cidade da Plenitude onde vivi paredes meias com Dona Felicidade. Como vê há diversos caminhos que conduzem a diferentes lugares. Espero que a minha experiência lhe sirva de guia. Entretanto como na vida nem sempre as coisas se eternizam o amor para mim mudou de lugar deixando-me na praça da Solidão. Daí este meu caminhar de regresso na rota da saudade, de que tenho boas referências. Entretanto como os seus olhos reflectem Esperança tenho a certeza de que vai encontrar o Amor junto da Dona Felicidade e com ele vai conviver na cidade da Plenitude.
Antonius