Sob o plenilúnio, a noite se extremecia de frio, gemia sem sentir, encolhida como nas madrugadas geladas do inverno. O dia dorme enquanto a noite nasce fisiologiacamente muito calma.
A noite ama com as mesmas palavras de amor em lábios de mulher, mas também é única, palpitando ferida de mortal beleza.
A noite funciona misteriosa. A noite tem cheiro pelo ar arguto que junto à frescura das folhas brota o silêncio.
As horas parecem vestidas para tal cerimônia com seus trajes a rigor.
Sob o plenilúnio, uma lucarna numa casa azul como um arranha-céu com sua roupa de seda e lúbricos pontos a me verter e verga-se, e uma lucerna sobre nosso quarto. Lúcida luz de abajour.
É plena noite, os astros seguem-me a eterna estrada do meu sonho, que cintila em cada réstia amarela de confusão. Os olhos fixos no vácuo, uma noturna e bela paragem mirífica e falaz que me sorre.
Agora, uma suva brisa navegava dentro do quarto, uma cortina de seda se enchia toda de graça, balançando-se. Senda odorante e ferrete-azul. E com o mesmo balanço de um corpo vivo. E vias-lácteas alvas em náufrago das vagas azuis-luzentes, muros de cristais de orvalho. Um canto veludoso soa das lajes dos sepulcros, fundo e eterno.
E do negro véu da nuance, tu apareceu com a candura e a inocência, com uma morim e um véu vermelho.
Um representa a inocência e verdade, tão puras e a outra, a lascividade.
Atingiu meu corpo, entorpecendo-o. Vem das sombras puras do edêneo mundo.
Tu, alma de amor que s' enche nos doces desertos do coração e faz gelar e aquecer a quem na febre delira com timbre de cítaras.
E esse luar estranho sob a copa de dois, também, estranhos. ERas o sutil amor, tem vozes misteriosas.
[Davys Rodrigues de Sousa]
CONTINUA...
Davys Sousa
(Caine)