Nenhuma cantiga de emoções fortes e reais é fácil.
Se a dedicação a essa realidade for igual ou superior a total, é algo que custa o suor, o sono, até o sangue.
Joana era uma mulher doce, louca, atraente, mas longe de bela. De trato fácil, tinha o calo de alguns anos numa relação conturbada. Tinha feito filhos que amava mais que a vida e por quem se venderia, com um sorriso infeliz.
António era um míudo, que tinha saido de casa dos pais há pouco, com uma namorada linda, mas fútil. Já conhecera o sabor da desilusão e perdera a ilusão de finais felizes. Esta era uma boa relação, como qualquer rapazote gosta: és minha, porque sim!
António e Joana acharam-se na praia.
Fazia Sol. Às seis da tarde de um dia de Agosto pareciam ser duas.
Nenhum dos dois se lembra quem começou a conversa. Mas a água do Atlântico estava fresca e António molhou Joana ao entrar na onda suave. Ela de tanga azul e pneu, ele de calção preto justo ao corpo.
Ela gritou e ele riu-se. Provocante, doce e juvenil...
Ela chegou perto, viu-lhe o olhar verde e calou-se despeitada.
O silêncio magoou-o profundamente.
Depois de outra troca de olhares ela disse-lhe:
- A gente vê-se...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.