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Carta 25

 
Museu de Orsay, à margem esquerda do Sena, coração refletido nas telas de Monet.

Ma folle Jolie,

Muito imaginei estar aqui tendo os teus olhos vendados, agora, pelas minhas mãos, para só, então, libertá-la por estes salões adentro, recobrindo-os de vida. E ao fechar os meus, de livre intento, quase dali tornei-me o mais adornado artista, ao reter nas pinceladas de meus pensamentos, teu passear descompromissado, teu “La Joconde” sorriso, tuas plantas aladas faceiras desbravando das portas nunca dantes testemunhas de tamanha graciosidade. Logo fui, às forças, jogado à realidade, sem, contudo, ignorar o que há muito trazia comigo. Ainda retinham em meu peito nossos últimos acontecimentos, e, apeguei-me a um fio da esperança que tu desfiaste sobre o meu peito.

Quando me consolidei de minha vinda, e, do romper de nosso segredo, julguei ser aquelas as minhas póstumas linhas. Não mais havia razões para uma ventura em outras terras. Findei aquela carta, a lágrimas, e, não com tinta, e, coloquei embaixo de tua porta, antes mesmo de minha partida. Imaginei o teu acordar alegre, o teu sorriso desprendido desfazendo-se lentamente ao percorrer de teus olhos por aquelas alíneas. Senti os golpes de faca que eu talhava sobre o teu peito, e, o ecoar de um grito, ganhando força em tua garganta, afogando-se das lágrimas que te abandonariam a alma.

O sofrimento que eu agora lhe causava perturbou-me as idéias, a ponto, de ponderar a minha irrevogável partida, como coisa mais digna que eu a ti poderia oferecer. As lágrimas logo secariam em seu eito, tu te recolherias em tuas primeiras considerações, para só tomar de outros lábios os versos que asfixiassem as saudades deste amor proibido meu. Tomado por tais pensamentos de momento, dei destino a minha bagagem, e, sentei-me no burburinho da multidão, a esperar o anúncio de meu embarque. Julguei ter pontuado mortalmente a nossa história, talvez, por isso, não me apercebesse do que a minha volta acontecia.

Quando me foi anunciado o vôo, levantei-me como muitos, arrastando-me pelo chão. Sentia que a cada passada minha, uma estrondosa força retinha-me o passo, tornando-o ainda mais delongado, e, difícil de ser concluído. Foi então que pelo braço, senti um reter ainda mais forte, e, ao breve olhar lançado, vi apenas uma delicada alva mão, que se alvitrava desesperada pela multidão que me rondava, e, me empurrava contra aqueles, a quem apenas dirigia as minhas sinceras desculpas.

Estagnei meu caminhar, e, quando a multidão, enfim, se diluiu, reconheci a mão que me tomava. Tu estavas pálida, de olhos inchados, avermelhados, de lábios ressequidos. Tuas mãos estavam trêmulas, e, somente, quando eu as tomei entre as minhas, percebi que também estavam frias. Trazia na mão esquerda, um papel amassado, cujas linhas me foram familiares no ato em que meus olhos pousaram sobre elas. Era a minha carta. Carta escrita em momento de dor, e, desespero, da qual tua mão não se despregava. Olhei nos teus olhos encovados, e, sem uma palavra proferida, deixei-me cair em teus braços, acolhendo-te em meu peito, numa cadeia cingida unicamente pelo amor que ali existia.

O segundo anúncio se fez ao cabo de alguns minutos, quando ainda estávamos entrelaçados. Senti teu corpo estremecer com aquela voz que ecoava pelo aeroporto. Tu me olhaste nos olhos, desprendeste um carinho em meu rosto. Pediste-me que ficasse, que abandonasse tudo, e, fosse ter com ela, em qualquer outro lugar, onde a nossa história não fosse alvo da curiosidade e da censura das pessoas. Quedei meus olhos aos teus pés, e, com a voz embargada, neguei-te o pedido. Foi, então, a tua vez de fazer cair os olhos ao chão, e, tomando de tua mão pedi-te que viesse comigo. Teu olhar se elevou, e, logo o brilho se fez presente. A idéia lhe tentava, mas sabia que aquilo, naquele momento, era uma loucura ainda maior do que aquela que vivemos todo esse tempo. Fizeste-me, contudo, prometer que não a deixaria, que a escreveria sempre, enquanto não podíamos, ainda, estar juntos. Marejei os olhos, dei-te um beijo. Mas, foi só quando o terceiro anúncio foi feito que senti meu coração se abater.

Lentamente nossas mãos se separavam, e, os dedos já não mais se tocavam, ao passo que eu ganhava os corredores da área de embarque. Ainda dirigi o olhar mais uma vez, e, recebi de ti os beijos que tu jogaste ao ar, e, que me fizeram sorrir. Embarquei naquele avião rumo à França, ainda mais repleto de dúvidas, e, apenas uma única certeza: Eu te amo, ma Jolie! Eu não sei mais ficar sem ti.

Nem mesmo as ondas do oceano serão capazes de abalar este amor que tenho por ti.

Do teu Secret Passionné,

Victorio Pierre.


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