Crónicas : 

a mula da cooperativa

 
Finalmente o Papa Bento XVI chegou ao youtube! Ou seja, já não é necessário ir a Roma para ver o Papa, basta aceder ao Youtube e, lá está, o Papa, na sua varanda virada para o mundo.
É caso para dizer que, quem tem Internet vai a Roma.

Outra novidade que eu palpito que em breve irá acontecer será as confissões via online, por existir uma baixa enorme de frequências no confessionário a ideia passa em: se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé. Entende onde quero chegar, né.

Depois, porque nas igrejas, e não sei por quê, o aquecimento ainda é barroco: a única aragem quente existente é o bafo dos paroquianos, a cantar ao gregório; ou quer-se frio porque o calor pode dar cabo das cordas vocais à corista principal, ou porque algumas, com olhares de taínhas, poderão subtrair roupas às suas roupas e não vá o Jota Cê reparar e pôr o seu sofrimento de lado por alguns minutos...

Já em casa, com o confesso online, as coisas seriam bem melhores, a gente se confessando com um copo de wisky na mão, ou não, dependendo do freguês, sentadinhos numa cadeira de vime, dando asas à burguesa imaginação, mas sempre com a firme certeza que ninguém coloca uma orelha à porta para nos escutar.

Primeiro, faz-se o login com a respectiva password do confessando e, após verificada a senha, entramos no confessionário virtual prontinhos para a desforra. Isto apenas uma ideia. Deste jeito, os pecadores tímidos e inconfessados, teriam agora as suas oportunidades de pôr em dia a absolvição dos seus pecados.

Depois viria a setença. vinte ou trinta Padres Nossos, uns tantos Avé-Marias, não interessa, consoante o grau do pecaminoso. Assaltantes, burlões,
contrabandistas,
salafrários,
orçamentistas de oficinas de reparação de automóveis, salvariam as suas identidades, pois este método, virado para o futuro, permitiria-lhes estar no bem-bom, e ao mesmo tempo confessarem-se para um padre que está, ou deve estar, a milhas num santíssimo computador.

Além de que, eliminava-se qualquer tipo de cuscuvilhice ou insinuação precoce, como foi o caso do meu primo António Pedras, homem sensível, dotado de uma humanidade equiparável a madre Teresa de Calcutá em missão pelos Áfricas.

Mas naquele dia alguém começou a cagar fatias de que a mulher do senhor Pedras andaria metida com o pároco da freguesia, conhecido nas áreas por lhe fugir as manápulas para cima dos ombros de algumas. Era um facto. O mensageiro de deus, ou que fosse por vício ou por malícia, ele, na calada da sacristia ou longe de olhares, lá punha uma mãozita ou outra, com primeiras ou segundas intenções (?), no ombrinho da paroquiana que calhasse.

Lá na tasca encheram os ouvidos ao homem, é verdade que eu vi, ela dirigia-se para lá, meia encoberta por um lenço negro na cabeça, vai lá que apanhas os dois em troca de pecados!
O coitado, deixou a nota no balcão, deu gás às sapatilhas, nem quis esperar pelo troco e fez-se ao caminho, apanhando numa beira um ripeiro que deve doer à primera ripada.

Assim que pôs um pé dentro da igreja, que tem a porta pesada comó caraças, ouviu umas vozes. Duas. Pareciam.
Foi devagar para não anunciar presença, tão devagar que se eu fosse a descrever cada passo não saia hoje daqui. De facto confirma-se: são duas vozes, supostamente entrelaçadas nas malhas divinas do prazer. O que saía das vozes era apenas ais, uis, ui ai, nada mais do que isso. O que agrava mais a sentença.

Na testa do senhor Pedras já se manisfestava suores, para além daquilo que consagra um bom toiro marrano. A sua coragem foi-se enchendo, enchendo até ao limite máximo de ganhar tomates e, ainda de ripeiro na mão, entrou pela sacristia tão cego de raiva que começou a ripar no lombo dos dois pecadores com tal deleite que o seu choro era de riso.

Bem, aquilo foi um alvoroço de todo o tamanho, caneladas para um lado, pontapés para outro, mesas derrubadas, santos partidos, velas acesas quase a chegar-se aos cortinados, enfim, uma cena típica de Almodóvar na época em que fumava charros.

Claro que o trolaró foi notado num diâmetro de cem metros, e os que ouviram os estrondos vieram a correr para o local com seus corações numa bandeja. Já no interior da sacristia a revolução tinha terminado com um empate, ainda que o senhor Ferros entrasse no jogo infernal com a vantagem do ripeiro.

Estavam os três caídos. Ele, ela, e o Jack Estripador lá do sítio: o senhor Ferros. Nisto, e para acabar com o suspense, o padre entrou pelo seu balneário adentro, a sacristia, mas antes disso havia ordenado o povo a conter-se e esperarem notícias no adro da igreja.
O cenário estava desastroso, estragos incontabilizados, o pároco sem mais deu um grito de ordem para eles se levantarem do chão.
A empregada da limpeza, conhecida pela Maria Mijona, foi a primeira a obedecer, depois o culpado desta desgraça, o senhor Ferros, o outro mantinha-se de peito voltado para o chão, sujo de sangue como uma retrete pública.

Quem era quem não era, eis a questão, já que não era o padre nem pela magreza não seria certamente o sacristão. Era o engraxador de sapatos, o Manuel Cagão! Quem diria..Por sorte foram todos perdoados. Mas que não se volte a repetir coisas destas, pois se quereis o que quereis, a mata é grande!, falou o padre com aquele ar triste de quem passa os dias a ouvir os discos do Tony Carreira.

Nisto, sem querer, toca o sino, e toda a multidão olhou para cima, como se tivessem combinado, e ups!, era a mulher do senhor Ferros. Ninguém entendeu. Nem a própria Maria Mijona que, por mera coincidência, ficou a saber que Afinal Havia Outra!

Pois bem, ou pois mal, esta história termina com a mulher no alto da torre a gritar: é o diabo, minha gente, é o diabo!, mais o Manuel Cagão a cem à hora montado no seu burrico, a perder-se de vista entre os montes sem olhar para trás, e a multidão no seu entusiasmo a cantar a mula da cooperativa. Já o senhor padre...é verdade, cadê o senhor padre, hein?!
 
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flavio silver
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/09/2009 07:37  Atualizado: 02/09/2009 07:38
 Re: a mula da cooperativa
já tens o cd do papa?
ouvi dizer que está poderoso.
tens aqui um conto do vigário e peras, pessegos também,
mas o melhor será enterrar nesta história
esse fruto proibido.
Abraço.