Escrevo-te aqui um poema
Sem qualquer tipo de tema,
Porque sei que não o vais imitar.
Talvez transformar. Criar.
Só quero o nosso corpo a voar.
Que interessa quem o levantou,
Que interessa se quem lê
Eleva meu espírito que é teu,
E nem sequer me vê?
O que é teu é também meu.
A glória é minha e tua,
Eu faço versos de dia,
Fazes tu à lua.
Como gato que mia
Declamo ao gato e ao cão,
Enquanto arrancas palmas
Às corujas.
Declamamos as nossas almas
A toda a gente,
Um de cada vez.
Mas um dia fecha-se a janela das palmas
Porque todo o animal deita fora,
Dá a vida
E depois devora.
Se um dia trocarmos de turnos,
As corujas já piaram
O teu miar
E a minha morte que há de vir.
Mas os corpos voaram,
Ao sol e ao luar,
No altar da poesia e do sentir.
Ninguém nos pode tirar isso.
Nunca.