Poemas : 

Para Aníbal Beça (1946-2009), camarada da Lista Escritas

 
Na lembrança, quem sabe, um som fronteiro

possa enfim me acercar da pausa comedida

em que o silêncio pousa derradeiro.



Aníbal Beça





também eu vi as aves no limite

do olhar

onde o silêncio de enxada

em punho

o verbo derradeiro semeou



e também eu parei maravilhado

rente à palavra janela

onde “à procura do repouso,

mais que o lençol a almofada.

Hora em que acendo um cigarro.”(1)





(1) Aníbal Beça







Xavier Zarco

 
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Xavier_Zarco
 
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 26/08/2009 00:49  Atualizado: 26/08/2009 00:49
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: Para Aníbal Beça (1946-2009), camarada da Lista Escri...
xavier:sublimes esses poemas de aníbal beça com que nos presenteias.

obrigada amigo das letras.

beijo,
alex


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/08/2009 22:04  Atualizado: 28/08/2009 22:05
 Re: Para Aníbal Beça (1946-2009), camarada da Lista Escri...
Caro Xavier Zarco,

Dado o motivo (e o poema) vou abrir uma excepção e deixar aqui também a minha homenagem ao poeta brasileiro Aníbal Beça, de quem li alguns poemas noutros sítios.
Se um poeta parte, ficam, como filhos, os seus versos. Cabe-nos a nós fazer para que os seus poemas (os seus filhos) não caiam no esquecimento.

Domingos da Mota




Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 29/08/2009 23:08  Atualizado: 29/08/2009 23:08
 Re: Para Aníbal Beça (1946-2009), camarada da Lista Escri...
Caro Xavier,
Aníbal Beça desaparece aos 62 anos, no auge da vida poética e intelectual. Sinto-me imensamente triste.Eu que tive o privilégio de usufruir, por tempos, de uma maravilhosa convivência com a sua generosa presença no site Overmundo. Aníbal sabia como poucos estender as palavras à todos, fazendo da experiência de partilhar, uma renovada visão da poesia inclusiva. Deixo aqui um dos poemas mais tocantes de sua fantástica obra:

LIMBO

Anibal Beça ©

Já tenho à mão os juros recolhidos

rescaldo amargo e salvo do canteiro

na colheita incendiada pelos ritos.



Nada mais resta: a pele, o nevoeiro

dos olhos, a voz vesga, o pé restrito.

As pegadas revoltas lambem beiras



sem mais as eiras de ontem, meus conflitos.

Sereno sigo o ócio no sendeiro

àquele enviesado dos aflitos.



O muito que me viu aventureiro

escapa pelas frestas sem ter visto

ao menos o percurso viageiro



do chão de longo curso dos malditos.

O mar que mora em mim é o carcereiro

mar salgado de amar o amor rendido.



E por amar o mar sou prisioneiro

das causas e das coisas dos proscritos

bandidos renitentes, escudeiros



das sombras e das trevas, não contritos

réus confessos de sonhos traiçoeiros

da paixão derruída nos seus ditos.



O mar que me ficou é estrangeiro

longínquo mar azul mar infinito.