Prosas Poéticas : 

Crónica de um verbo por conjugar

 
Invade-me uma cegueira, um olhar para dentro, insano, demente, avesso a mim mesma. É nevoeiro pacifico por fora, massacre interior que esconde tempestades de implacáveis agulhas afiadas.
Refugio-me entre a dor e o prazer que se adentra na pele. Intensidade de sentir, de chorar, de viver na fronteira de tudo o resto. Incompletos tempos perdidos, misto de madrugadas infindáveis em dias que morreram antes de vividos. Intermitente mistura de manhãs de sol com longas noites de insónia apertada. São vendavais de sensações que me fustigam a doçura da alma. Curam-me, adoecem-me. Adoecem-me e curam-me. Não será incerteza o nome deste frio que me chega aos ossos. Não será contentamento o sorriso que escondo no lado de dentro dos lábios. A dúvida não me veste, nem sequer é o apelido que assino.
Serei eu mesma, sem véus, toda a metáfora criada por detrás da paisagem de mil cores que sou, ora em pinceladas ténues e delicadas, ora em pinceladas firmes e dolorosas de outras tantas mil cores por inventar...
Pinto-me quente, ardente pôr do Sol de Agosto e sinto-me furacão sem tocar o horizonte. Pinto-me fria, fresca água translúcida, sinto-me fogo espesso, envolvente e avassalador. Pinto-me eu e sou apenas eu... um pouco mais do que me pinto, um pouco menos do que me vejo...
Não é incerteza, esta fina fronteira de emoções que derrubo num simples suspiro!
Ah...!! Atrevia-me a chamar-lhe medo se coragem fosse o meu nome, mas não é...!
Desconheço-me no encontro. Desencontro-me no que conheço. Emano trovoada, chuva torrencial de pensamentos por apagar. Desenrolo-me e enleio-me em mim mesma, leio-me novelo de alma com tantos começos e tantos fins como goticulas minusculas e acutilantes tem o nevoeiro pacífico onde enganosamente me refugio... As impiedosas e certeiras agulhas são as minhas contradições mais-que-perfeitas conjugadas no gerúndio caos que me faz ser mais eu, cada vez mais longe, cada vez mais perto de uma meta sem hora marcada para chegar.
E como doem as picadas no trespassar da máscara...!
Como doem...!


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Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 15/06/2007 23:57  Atualizado: 15/06/2007 23:57
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Mensagens: 3731
 Re: Crónica de um verbo por conjugar
Há tanto tempo que não tinha o prazer de ler algo assim tão... tão... tão teu!
Menina que brinca com as palavras e as transforma em mágicas sensações de bem estar ao mesmo tempo que me desenha um sorriso nos lábios e me alegra o rosto.

Um beijo