A beleza da primavera já desabrochara por completo àquela tarde de setembro. Os raios de sol banhavam as tuas faces levemente descoradas, enquanto tu percorrias o gramado atrás daquela borboleta azul que me disseste ter visto passar. Quem lhe pousasse os olhos agora, não saberia distinguir o quanto de criança havia em ti, e, o quanto de mulher encantava a mim. Com os braços estendidos, abertos a acompanhar aquele borboletear, tu recebias os primeiros desprendes das flores, que te beijavam suavemente o colo, enquanto o vento escorregava pelos teus cabelos, revelando o delicado talhe de teu rosto. Pegaste em minha mão e com os dedos entrelaçados aos meus tentavas tocar-lhe as asas, que sempre te escapavam ao movimento. Tu sorrias, pedias minha atenção ao feito, mas eu ali daquele jeito, tão próximo de ti, com o teu perfume queimando-me as narinas, corrompendo o meu juízo perfeito, levando-me a uma prazerosa insanidade da qual eu não queria me abster, pareceu-me ser impossível atentar-me de algo mais senão dos teus olhos aguçados, do teu sorriso doce e delicado, de tua mão macia acolhendo a minha. Assenti com a cabeça, mas não foi o que fiz. Assim que tu te descuidaste, puxei-te pelo braço, tornei-te íntima ao meu peito. Teus lábios tremularam adjuntos aos meus, e, a tua timidez arrastou o teu olhar ao chão, obrigando-me a elevá-los a altura dos meus. Tinha o que dizer, mas, por aquele momento, calei-me. Reproduzi o voar das borboletas, afastei-te dos arredores dos campos, e, aos pés de um ipê, fiz-te sentar, ainda que sem nada entender. Ajoelhei-me diante de ti e olhando-te nos olhos:
“O que faz de um inverno uma primavera? O que faz de um botão uma rosa? O que faz de uma criança uma mulher? O que faz de tua beleza o meu encanto? O que faz do teu olhar o meu sorriso? O que faz do teu carinho a minha segurança? O que faz de tua loucura o meu maior e único sentido?”
Antes que tu pudesses responder a primeira pergunta, ergui-me do chão, e, com um galho ressequido que encontrei pelo caminho, contornei tu e o ipê,com rabiscos no chão, que em curvas formaram um só coração.
“Se tiveres outra resposta senão esta que vou agora te dizer, abandona já este coração, pois por ti não desejo sofrer. Mas, se de tua boca ouvir que é o amor a única solução de todos esses questionamentos, não permitas mais, nem por um só momento, que eu a ti não tenha pra mim.”
E erguendo-te do chão, mãos entrepostas, olho-te nos olhos, e, espero agora a tua resposta:
“Fica comigo pra sempre?”
rody