Estávamos em 1975 quando Maria do Mar foi passar as suas férias de verão, para casa dos seus avós, em Setúbal.
Os avós de Maria do Mar possuíam uma casa no Portinho da Arrábida. Quase todos os pescadores sem excepção, tinham construído as suas habitações naquele local, próximo do mar.
O Portinho da Arrábida, é um sítio fascinante para passar férias. Alem disso, qualquer pessoa sempre podia, acampar perto da praia.
As noites no Portinho, eram muito agradáveis. Ao fundo, Maria do Mar via as luzes cintilantes e brilhantes da povoação mais próxima. A calma parecia tomar conta da praia do Monte Branco.A rapariga decidiu então, fazer uma caminhada pela areia branca e limpinha da praia.
À sua frente, a cerca de um km de distância, rodeada por água, estava a chamada Pedra da Anicha. Para muitos, não passa de mais um ilhéu, no centro do oceano. O acesso à ilha, só é possível de barco, ou então, a nado.
Maria do Mar gostava de um dia, visitar aquela misteriosa ilha. Dizem os historiadores, que a Pedra da Anicha, à milhares de anos atrás, fazia parte das pedras do Monte Branco, que com o passar dos anos, foi-se afastando da terra. Hoje está isolada, tal como se encontra a ilha do pessegueiro, na bonita Costa Alentejana.
A pequena, caminhava na praia, pela borda de água, mas de vez em quando, tinha de dar uns saltinhos para não ser surpreendida por uma onda mais atrevida. A temperatura da água estava agradável apesar de ser noite.
Foi então que Maria do Mar deu um pontapé em algo que a Magoou profundamente num dos seus dedos dos pés. Soltou um pequeno grito de dôr e agachou-se.
Nem queria acreditar que tinha pontapeado uma velha garrafa de aspecto estranho. Apanhou a garrafa e contemplou as suas velhas formas. Parecia ter qualquer coisa no seu interior. Afastou-se e procurou a luz de um candeeiro que estava ali próximo, para ver em mais pormenor, o que estava realmente dentro daquela garrafa.
Foi inacreditável a descoberta de Maria do Mar. Tinha no seu interior,uma mensagem um pouco estranha. O papel amarelecido, mais parecia um pergaminho, com as letras muito antigas.
Entusiasmada com a descoberta, foi procurar ajuda ao seu primo mais velho, Álvaro,que era mais entendido em coisas antigas.
Álvaro era bom aluno a história e gostava imenso de coleccionar objectos antigos.
O rapaz ficou muito entusiasmado, quando a sua prima Maria do Mar,lhe mostrou a sua descoberta.
Não foi muito fácil descobrir o que o manuscrito em latim, queria dizer. Após algumas consultas sobre latim, ali estava a tradução do velho papel:
Devolve meu amor
Deus Demónio
Aqui por ti te espero meu único amor.
Foram estas as três frases que os primos acabaram por decifrar. Mas que mensagem mais estranha pensaram eles. Mas Álvaro ainda não estava totalmente satisfeito. Enquanto não descobrisse quem o tinha escrito e a quem se destinava a mensagem, não iria dormir descansado. Foi então que o rapaz se lembrou do Tio Jaime, que conhecia muitas histórias sobre aquele local.
Meteram-se ambos a caminho. O Tio Jaime, morava numa velha casa, perto da Casa dos Pilotos a cerca de uma centena de metros, da casa da avó de Maria do Mar.
Quando chegaram, o Homem ainda tinha a luz do candeeiro a petróleo acesa.
Foram então convidados a entrar. A criatura achou muito estranho, alguém procurá-lo àquela hora da noite.
Já na casa dos setenta anos, Jaime parecia ter uma memória de um rapazinho novo. Maria do Mar apressou-se então a mostrar o pequeno pedaço de papel ao velhote. Este ao ver,esboçou um pequeno sorriso.
-Querem saber a lenda da Pedra da Anicha?-Não é verdade? - Perguntou Jaime reparando no brilho dos olhos dos seus dois amigos.
- Adorávamos ! Responderam os dois ao mesmo tempo.
-Pois bem!
A praia do Monte Branco em tempos, era conhecida pelo sítio das Tentações. Dizem que nesse local da praia, um belo dia, um casal de namorados partiu de barco até à Ilha da Anicha para passarem o dia e não mais voltaram.
Nesses tempos na Pedra da Anicha, existiam amoras silvestres, com sabor a mel.
Lilia, penso que era assim que se chamava a rapariga, deixou que Alexandre subisse ao topo mais alto da ilha, para apanhar as preciosas amoras de mel, ignorando os verdadeiros perigos que os esperavam.
Os mais antigos contavam que ali na Pedra da Anicha, habitava um monstro marinho e que além de se alimentar de peixe e outros crustáceos, gostava muito de amoras.
-Como se chamava o monstro marinho? - Perguntou Maria do Mar não querendo perder nada do que Jaime contava.
- Chamava-se Deus Demónio!- Respondeu o Tio Jaime
-Então isso explica porque razão, o pedaço de papel refere esse nome - Interrompeu Maria do mar.
Jaime continuou o resto da sua história:
Passado uma semana, o corpo da jovem rapariga foi encontrado aqui na praia com vida.
Passaram-se alguns anos sem que ninguém tenha recuperado ou encontrado o corpo de Alexandre. Algumas pessoas incluindo Lilia, acreditaram que o rapaz tivesse sido aprisionado pelo Deus Demónio, apenas por castigo. Outros disseram que Lilia esperançada em recuperar o seu amor, escreveu ao Deus Demónio, a pedir clemência.
-Será que foi Lilia que escreveu e enviou esta mensagem dentro da garrafa ao Deus Demónio?Questionou pela ultima vez Maria do Mar.
- Com certeza!- Respondeu Jaime.
Ao que se sabe essa garrafa, foi muito procurada durante anos. Muitos historiadores e arqueólogos assim como caçadores de tesouros, andaram por aqui para tentar certificar-se, se a história do Deus Demónio da Pedra da Anicha, existiu de verdade.
(Recordo os tempos da minha adolescência, em quando ia nadar frequentemente até áquele Ilhéu)
Gabriel Reis
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