Um dia, no cimo de uma grande montanha, um Santo Homem aproximou-se de Deus, trazia consigo muitas dúvidas, muitos mistérios, muitas indagações, necessitava de muitas respostas, mas uma entre todas tinha a sua preferência, não exclusivamente sua, mas de toda a Humanidade.
Uma dúvida que há muito nos aflige e tem estimulado aos sábios de todos os tempos: egípcios, hebreus, gregos e troianos, latinos e muitos que vieram depois (os alquimistas da Idade Média, os gênios do Renascimento, os Iluministas franceses) e agora, os teólogos modernos.
Embevecido com o magistral momento, o maior da raça humana, o Homem meditou, concentrou-se..., e finalmente, face a face com o Criador, o Magnânimo, o Pai Celestial, o Supremo Ser..., Nosso Senhor e Deus Todo Poderoso..., envolto e extasiado pela luz que Dele emanava, maravilhado com os clarins angelicais que anunciavam a presença do Senhor, o Santo Homem reuniu suas forças e perguntou:
- Senhor meu Deus - Quem somos nós? Por que estamos aqui? Para onde iremos?
Fez, emocionado pelo momento, as milenares perguntas, e como todo o restante do Planeta, aguardou calado...
A Terra parou totalmente: as águas cessaram as ondas, os ventos não foram mais aos moinhos, as tempestades calaram, furacões e tufões ficaram em silêncio, desapareceram os terremotos; os animais ficaram atentos e "as baleias não mais cruzaram oceanos"; o trânsito serenou; a violência se fez branda e pediu Paz; não houve Fórmula Um e o Senna não mais "pilotou"...; a sinfonia de todos os dias emudeceu; desapareceram as guerras; acabou a fome; morreram as doenças; exterminaram-se as Pestes; o especulador não especulou; os ladrões não furtaram, não roubaram, não mataram; o guarda não apitou; findaram-se as Drogas; ninguém foi à piscina, à escola ou ao trabalho; o trovador não mais cantou sua viola; o nenê cessou de chorar, as crianças pararam a algazarra; não houve mais protestos; o aposentado não foi ao Banco receber seus míseros proventos; as fábricas pararam as fumaças; ninguém procriou; os filósofos não racionalizaram; o sonhador não sonhou; os jesuítas deixaram de lado a sua pregação, o pastor não foi à igreja, o padre não se manifestou.
O Universo paralisou-se em silêncio..., todos aguardavam uma solução para o Antigo Enigma..., mas nesse grandioso momento, infelizmente, um distraído e sonolento ratinho branco, totalmente apático ao que estava acontecendo, guinchou chamando pela "mãe", e foi uma zoada só..., um barulho ensurdecedor..., e com o susto, tudo voltou ao normal. Nós perdemos a oportunidade de ter esclarecido esse Grande Mistério, e Deus?..., simplesmente evaporou-se aborrecido...
Ficou o nosso Santo Homem solitário no ápice da montanha.
E eu caí da cama!!!
Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)
Professor de Língua Portuguesa, Literaturas, Redação e Leitura, poeta, contista, cronista, romancista e sonhador.