Nasci
e logo que nasci
separaram-me
de minha mãe.
Fizeram-me
diferente
logo que nasci.
De regresso
aos braços de minha mãe
já não era a mesma.
Dava valor
ao meu ninho
como mais ninguém.
Cresci
com o medo escondido,
da separação…
e diferente,
sempre diferente.
Num mundo de modas
e discriminação,
cresci diferente,
sofri a rejeição.
Nos braços dos adultos
encontrei o conforto,
nos estudos,
o meio de os conquistar.
Na busca do conhecimento
e da poesia…
a felicidade,
a alegria…
Vivi num mundo meu,
feliz com a ceifeira
de pessoa
alegre como criança.
Mas aos poucos,
fui me afastando do outros,
fechei-me nos estudos
e a ansiedade das notas
tomou conta de mim.
O meu mundo deixou
de me satisfazer.
Tinha o desejo de algo
que não sabia bem o que era…
Queria ser aceite.
Queria ser como os outros.
Queria ir ao cinema,
queria ir à discoteca,
queria sair do meu mundo,
queria deixar de ser diferente.
Escondi o meu passado
e fui para a faculdade
com o sonho
de fazer o que nunca fizera:
ser como os outros.
Descobri um mundo novo.
Fiz pela primeira vez
amigos da minha idade.
A minha vida deu uma reviravolta,
mas continuei a ser diferente.
E não se apagou em mim
o desejo de algo
que hoje defino
como convívio.
Tenho um desejo ardente
de convívio…
e também de amor.
Vivo dividida
entre querer ser como sou
e o mudar
para me aproximar
dos outros.
Procuro um equilíbrio
entre os dois,
num mundo
de modas
e descriminação.
Tenho orgulho
em ser diferente.
Não quero ter de escolher
entre o ser como sou
e o resto que tanto desejo.
Ah mundo cruel!
Porque me obrigas a escolher?
Sofia Pedro Lima
<br />Nota: Este poema foi escrito há três meses. É uma descrição perfeita da minha vida até então. Depois disso conheci o amor e aprendi a dar valor à minha diferença. A amar a minha diferença. Continuo com o desejo de algo, mas aprendi que é esse desejo me mantém viva, na busca de novas experiências, as experiências da vida. E àqueles que forem diferentes como eu, deixo uma mensagem: Não queiram ser como os outros. É na nossa diferença que está o nosso valor: É justamente essa diferença que temos para oferecer, para partilhar.