ai quem me dera que tudo fosse diferente
que as gotas que escorrem da minha face
não fossem lágrimas mas sangue de gente
sou órfão das palavras que escrevo
sou o desastre que o destino tece
ai quem me dera não ter saído do cravo
que ainda alimenta a esperança
dos homens feitos soldado bravo
que arrasto desde tempo de criança
ai quem me dera aos serviçais do medo
uma morte rápida e indolor
num suspiro de alivio letal
que as mães do fogo pela manha cedo
festejassem o nascimento sem pudor
ai quem me dera que de forma liberal
os que fazem do ódio e repressão
a cantiga de alvorada
caíssem de maduros no chão
e sufocassem no próprio vomito
ai quem me dera depois de lavada a rua
e a liberdade agora libertada
pudesse andar por ela nua
ate que fosse madrugada
manesflama (jose neves)