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Re: * REFORMA ORTOGRÁFICA
Vou lendo seus textos mas nem comento porque a qualidade em ti é já um hábito. quanto`à "Reforma", sei que há Velhos do Restelo sempre avessos a mudanças. contudo, poeta será, acho eu, gente capaz de romper sempre. o texto abaixo é grande para comentário mas envio-to inevitavelmente beijos
Ameias e amei-as
Que saudades tenho dos tempos em que dormia a cesta à sombra das ameias castelãs, pensando nas lançadas que daria a mouros, mais a Sul, ou a leoneses a Norte, teimosos ambos, uns, os do Norte, bravios contra a separação, discordando das manias independentistas de Henriques e Afonsinhos e desejando prolongar mandos já condenados pelo futuro da história. Outros, os do Sul, agarrados a terras que já tinham sido de fenícios e de suevos; de gregos e de cartagineses; de celtas e de romanos, e de cristãos que agora o eram, ou a elas querendo voltar em nome de Alá e dos seus profetas. Cestas, comezainas, bebedeiras, espadeiradas e lançadas nas justas e torneios, arrotos pelas vias todas com que humano arrota de pança cheia, um linguajar ainda de coisa em formação mas, como o próprio território, a desenhar-se já nas diferenças, nos limites, nas influências que iriam gerar regras…e regras…e regras, regras sempre novas pelos tempos adiante, de acordo com as necessidades novas que cresciam com o povoamento, na administração, na guerra, nos interesses. Portucalle escasso ainda mas a vincar-se nas marcas de viajantes ocasionais que mancavam mundos, esbravejando, divididos entre façanhas guerreiras, manhas comerciantes e arremedos políticos, sempre com um olho no burro e outro no cigano, salvo seja. A cultura chegava a conta-gotas e de acordo com as tais marcas plurais dos que aqui arribavam, matando homens, dormindo com mulheres, deixando, cada qual, a sua marca nos filhos, nas hortas, nas cabras, nas letras, nos números e nas cantigas. As cantigas de escárnio e mal-dizer, de amigo, de cavaleiros e de infantes. A canção de gesta, a romança, o cancioneiro, a crónica, passos em frente, importados de Itália, da Gália, de Castela, de França, de Inglaterra. Ou ensaiados aqui, criados de novo na medida certa das necessidades. A navegação e as descobertas terão sido uma revolução nos costumes, no vestir, no consumo, no comércio e nesta língua já formada mas em mudança permanente. Espanhóis e Franceses aqui vieram para se instalarem deixando à saída, na pressa, certamente, guitarras e castanholas, gaitas de fole, polcas e mazurcas, e este modo triste e alegre de viver, esta algaraviada que vai de Miranda à beira mar quase Marrocos. Ingleses deixaram gente loiraça no Alentejo, buscando a paisagem com olho azul. Cinquenta anos de “mais vale sós que mal acompanhados” mantiveram as portas fechadas. A história não se podia adiar por mais tempo e a libertação criou novos países, muito despejados dos seus costumes ancestrais e das suas “línguas”, até porque não havia já lugar à sociedade de subsistência e a aldeia agora era o mundo. O português seria um elo de ligação entre si e uma afirmação de identidade para o exterior. Um português, já se vê, influenciado por realidades próprias e imperativas. Sem isso restar-nos-ia uma língua de 10 milhões de habitantes, fortemente saxonizada pela globalização e, muito provavelmente, a caminho de permanecer como… dialecto numa Europa impositiva. A alternativa não deixa de passar por acertos que convenham aos países chamados de expressão portuguesa, cuja população, somada, se aproxima dos 200 milhões. Os recursos económicos têm hoje uma influência determinante na formação (e na deformação) das culturas particulares. Pode perguntar-se o que é mais importante, permanecermos isolados e reduzidos e conservando a pureza antiga, e neste caso, antiquíssima, ou mesclarmos o conhecimento e a comunicação (re)construindo-se numa comunidade. Quer dizer “perder alguns anéis e conservar os dedos. Afinal, desde Guimarães que vimos mudando a fala e não foi por isso que deixámos de ser quem somos, pessoas de quem se diz um povo, ainda que eu não saiba o que isso (povo) é. As mudanças que aconteceram permanente e dinamicamente no evoluir da sociedade que fomos sendo, trouxeram-nos até aqui e nos levarão, queiramos ou não, a futuros que desconhecemos ainda. Recusar isso, ou nos poria a par dos “velhos do Restelo” ou nos recolocaria na pele de colonizadores que não queremos voltar a ser. Fernando (talvez) Pessoa era um espírito brilhante, sem dúvida. No plano do pensamento político, recusava Salazar não apenas porque não fosse igualmente da família mas porque o achava um fascista provinciano. “A minha Pátria é a língua portuguesa” não pode ter hoje o mesmo significado que teve quando foi dita pela primeira vez. E mal andaríamos, creio, se tivesse! Outra coisa ainda. Sabes como gosto de ti, da tua leveza intelectual, da tua capacidade de gerar polémica. Não acredito que não entendas que a “guerra” dos povos, cada um no seu canto, já deu o que tinha a dar, esmagada, triturada, liquefeita num vinho azedo como produto inevitável desta globalização rapaz que razoira “morais”, crenças e culturas e as igualiza nos mesmos supermercados estrategicamente semeados na bola. Portanto, amigo, onde é que realmente queres chegar que não cheire a nacionalismo anacrónico ou a polémica apenas pela polémica, uma lástima então porque coval do homem inteiro.
Notas: D. SANCHO (1159-1211)
CANTAR DE AMIGO Ai eu coitada! Como vivo em grão cuidado por meu amigo que ei alongado! Muito me tarda o meu amigo na Guarda! PAIO SOARES DE TAVEIRÓ CANTIGA DE AMOR No mundo não me sei parelha Mente me’for como me vai, Cá já moiro por vós – e ai, Mia senhora branca e vermelha, Queredes que vos retraia Quando vos eu vi em saia! Mau dia me levantei, Que vos então não vi feia! E mia senhor, dês aquele di’ai! Me foi a mi mui mal, E vós, filha de D. Paay Moniz, e bem me semelha D’haver eu por vós guarvaia, Pois eu, mia senhor, d’alfaia Nunca de vó ouve nem sei Valia d’ua correia…
D. DINIS (1159-1211)
CANTIGA DE AMOR Ai, flores,ai, flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo? ai, Deus, e u é? Ai, flores,ai, flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado? ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo aquele que mentiu do que pôs comigo? ai, Deus, e u é? ………………………………………. AIRAS NUNES BAILADA Bailemos nós já todas três, ai amigas, só aquestas avelaneiras frolidas e quem for velida, como nós, velidas, se amiga amar, só aquestras avelaneiras frolidas verrá bailar.
Bailemos nós já todas três, ai irmãos, só aqueste ramo d’estas avelãs e quem for louçã, como nós, louçãs, se amiga amar, só aqueste ramo d’estas avelãs verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr’al não fazemos, só aquele ramo frolido bailemos e quem bem parecer, como nós parecemos, se amiga amar, só aqueste ramo sol que nós bailemos verrá bailar.
FERNÃO LOPES (1380-1459?) “Crónica de El-Rei D. João I de Boa Memória”
Grande licença deu a afeição a muitos que tiveram carrego de ordenar histórias, mormente dos senhores em cuja mercê e terra viviam e hu foram nados seus antigos avós, sendo-lhe muito favoráveis no recontamento de seus feitos. E tal favoreza como esta nasce de mundanal afeição, a qual não é salvo conformidade dalguma cousa…………….
“Crónica de D. Pedro” – prólogo E pois que ele, com bom desejo, por natural enclinaçom refreou os males, regendo bem seu reino (…), de cuidar é que houve o galardom da justiça, cuja folha e fruito ‘e honrada fama neste mundo e perdurável folgança no outro. …………………………………………………………………………….
PERO VAZ DE CAMINHA “carta a El-Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil”
Senhor Posto que o capitam moor desta vossa frota E asy os outros capitaães scpruam a vossa alteza a noua do achamento desta vossa terra noua que se ora neesta nauegaçom achou. nom leixarey também de dar disso minha comta a vossa alteza asy como eu milhor poder ajmda que pêra o bem contar E falar o saiba pior que todos fazer./ pêro tome vossa alteza minha Jnoramçia por boa vomtade. A qual bem certo crea que por poer mais ca aquilo que vy E me pareçeo ./ da marinhaJem E simgraduras do caminho nom darey aquy comta a vossa alteza
FRANCISCO SÁ DE MIRANDA (1481-1558)
TROVA A MANEIRA ANTIGA Comigo me desavim, Sou posto em todo perigo; Não posso viver comigo Nem posso fugir de mim. Com dor da gente fugia, Antes que esta assim crescesse; Agora já fugiria De mim, se de mim pudesse. Que meio espero ou que fim Do vão trabalho que sigo, Pois que trago a mim comigo, Tamanho imigo de mim?
BERNARDIM RIBEIRO (1500-1552)
ÉCLOGA CHAMADA JANO Um pasto, Jano chamado, D’amor da fermosa Dina Andava tam trasportado, Que, por dita nem mofina, Nunca era outro seu cuidado. Sesundo o bem que queria, Tão pouco o mal se guardou Que, vendo a Dina, um dia, Logo da vista cegou, Que dantes d’alma não via.
Dês i ela desterrou-o …………………………………..
LUÍS DE CAMÕES (1524-1580)
BABEL E SIÃO – (fragmento) Sôbolos rios que vão Por Babilónia, me achei. Onde sentado chorei As lembranças de Sião E quanto nela passei.
Ali o rio corrente De meus olhos foi manado; ……………………………..
VOLTAS A MOTE Descalça vai pera a fonte Lianor pela verdura; Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote, O testo nas mãos de prata, Cinta de fina escarlata, Sainho de chamalote; ……………………………..
De LUZIADAS …………………………………… Com hua armada grossa, que ajuntara O vizo.rei de Goa, nos partimos Com toda a gente d’armas que se achara, E com pouco trabalho destruímos A gente no curvo arco exercitada; Com mortes, com incêndios os punimos ………………………………………..
DIALETO MIRANDÊS Mirandum se fui a la guerra Não sei quando benerá Se benerá por la Páscoa Se por la Trenidade, La Trenidade se poassa Mirandum num bene lá. Chubira-se a ua torre Para ber se lo abistaba. Abe Maríê, chena de grácia, el Senhor stá cu Bós, bendita sodes bós,a antre todas las mulhíêres, i bendito l fruto del bôsso bientre, Jasus! Santa Maríê, mái de Díus, rogai pur nós, pecadores, agora, i na hora d’la nossa morte Amem, Jasus!
Judeo-Português é uma língua extinta dos judeus de Portugal. Essa forma linguística era vernacular aos judeus de Portugal antes do século XVI e sobreviveu em muitas comunidades da diáspora dos Judeus da Nação Portuguesa. Existe um pequeno testemunho dessa variação linguística na obra de Gil Vicente, o "Auto da Braca do Inferno". Devido sua similaridade, o Judeu-Português morreu logo em Portugal, mas sobreviveu na diáspora como língua do dia-a-dia até os princípios do século XIX. Exemplos: Judeu-Português Português el Dio o Deus manim mãos algũa alguma angora agora apartar separar ay há aynda ainda dous duas he É hũa uma elle, ella ele, ela Português oliventino Chamaram-lhe "chaporreo" sem sentido, disseram ser idioma degenerado, língua de trapos, veiculo perdido para se exprimir algo de elevado! Disseram nunca dever ter aparecido, quanto mais costumar ser falado por um povo, num recanto esquecido que vê o seu passado desprezado.
Oh, fala de Olivença, cru alentejano falado durante séculos sem fim pelos teus filhos no trato humano!
Não é possível que termines assim como se não tivesses passado mundano, como se nunca foras usado, enfim...
Carlos Eduardo da Cruz Luna Estremoz, 21 de Junho de 2007
Ningún partido español está interesado en Olivenza para que sea portuguesa. La República portuguesa (y todos sus gobiernos y partidos) consideran que Olivenza es portuguesa. En el Congreso de Viena (1815), España se comprometió a devolver Olivenza. Me da igual que Olivenza sea española o portuguesa. Lo que aquí defiendo es la cultura oliventina (portuguesa) y el portugués oliventino. El portugués oliventino no se enseñó después de la conquista francoespañola en las escuelas; es decir, se obligó a los oliventinos, que eran portugueses, a aprender el español (y eso a los que podían ir a la escuela). Imagínense una España napoleónica: pues eso: francés para todos y sanseacabó. El portugués oliventino aún se habla, pero cada vez menos. Los niños oliventinos hace más o menos medio siglo que sólo hablan español. Los oliventinos que hablan portugués son los que tienen 55 años, 60 años... y más viejos. Los jóvenes, sólo algunos, y como lengua aprendida. ¿Qué diríais ante una imposición del francés o, peor aún, del inglés, para toda España? Otra: en Gibraltar hablan inglés y español y nadie se muere por saber dos lenguas. En Olivenza tampoco pasaría nada si fuese oficialmente bilingüe, como sucede en muchos lugares de España y de Europa en general.
Português oliventino é um subdialecto falado em Olivença e em Táliga (Extremadura, Espanha), embora já em vias de extinção. As crianças oliventinas e taliguenhas já não falam em português desde meados do século XX, o que faz com que a língua portuguesa de Olivença desapareça. As características do português oliventino são as mesmas que as do dialecto alentejano, mas com superstrato espanhol (nomeadamente estremenho, não "castelhano"). A ausência do ditongo ei (até quando seguido de outra vogal), que se pronuncia e. Paragoge em palavras acabadas em -l ou -r, quando a sílaba é tónica e seguida de pausa ou de outra sílaba tónica: Portugáli, comêri, mas comer depois. Olivença e Táliga sofrem uma progressiva espanholização, pelo que o espanhol, nomeadamente o dialecto estremenho, substituiu a língua portuguesa. Em 2008 nasceu a associação Além Guadiana (cultura portuguesa em Olivença), para a defesa do português local.
Barranquenho Barranquenho é um dialecto do português muito influenciado pelo espanhol. O dialecto barranquenho é falado na vila de Barrancos, situada próxima da fronteira com a Espanha, entre a Extremadura e a Andaluzia. Leite de Vasconcelos fez o primeiro estudo do dialecto barranquenho que publicou no livro Filologia Barranquenha, editado postumamente em 1955 [1]. A base portuguesa deste linguema fica fortemente maquilhada pelas características das falas espanholas meridionais que o penetram. O mais característico desta fala ao ouvido é a aspiração do 's' e do 'z' finais, como o extremenho e o andaluz: 'cruh' (cruz), 'buhcá' (procurar)... Às vezes pode faltar inclusive a aspiração: 'uma bê' (uma vez). O 'j' e 'ge', 'gi' portuguesas pronunciam-se [x] como as espanholas. Não se pronunciam 'l' e 'r' finais: 'Manué' (Manuel), 'olivá' (olivar), que voltam, contudo, a aparecer nos plurais: 'olivareh' (olivares). Se o 'l' trava sílaba, muda para 'r': 'argo' (algo). Como o espanhol, não diferencia entre 'b' e 'v': vaca ['baka']. Tal como em extremenho, os '-e' finais pronunciam-se '-i': 'pobri' (pobre). O pronome português de primeira pessoa 'nós' é sustituído pelo castelhano 'nusotrus'. A colocação dos pronomes aproxima-se mais à castelhana que à norma portuguesa: 'se lavô' (português lavou-se, espanhol se lavó). Contém ademais muitas formas verbais de conjugação claramente castelhana: 'andubi' (port. andei, esp. anduve); 'supimus' (port. soubemos, esp. supimos). O estado português não reconhece nem protege o uso do barranquenho.
AGORA, OIÇAM UM ALENTEJANO… FALANDO “Saí do monti, cruzê o pão a fugir, o Maneli trouxe a escadia no tratori, montamos um frescali mais alto c’o Monfurado, e valeu-me que vim a cavalo na mánica”
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