Recorda comigo o verde do tempo largo
onde nos reconhecemos dúcteis, dóceis,
remando um mar bravio onde as espigas
dobravam ventos antagónicos
no pleno dos campos alagados e vastos,
nos caules de palavras desveladas.
O tempo em que repousamos, divinos, sacros
na serenidade silenciosa, harmónica,
de bagos soltos de arroz,
dispersos na floresta induzida dos instintos.
Recorda agora o cheiro venusiano
da minha pele e o brilho esmeralda dos meus olhos,
resgatados por ti e para ti
ao cofre das mais cavadas águas,
no martírio das febres, de cada palavra, de cada poema
em que me encerras,
no delírio impúbere de virgens apaixonadas.
Recorda por fim o toque dos teus dedos empolados,
túmidos, sábios, plenos,
no recorte dos meus lábios,
no tactear dos meus seios,
no contentamento do meu corpo,
e sente,
sente amado,
o salgado das minhas lágrimas misturadas
com o sal da minha pele a salmourar o desejo.
Bebe-o de mim,
no cálice do meu ventre,
e depois sim,
acende uma lanterna na boca do abismo
e parte, sê peregrino,
cumprindo a regra do destino:
Sê asceta no teu próprio catecismo.
Parte,
na certeza de que amar, hoje e sempre,
é e será, uma suprema arte.
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