História de Maria Flor
by Betha M. Costa
Parte VII – “Fazedora de Anjos”
Dezoito anos de idade, trabalhando de doméstica, grávida sem saber quem era o pai, sem família ou amigos a quem recorrer, eu resolvi fazer um aborto.
Minha Patroa, senhora religiosa, quase carola. Muito rigorosa quanto ao serviço da casa. Jamais entenderia minha situação... Com certeza depois que eu tivesse o filho e ela a oportunidade... Despedir-me-ia! Além do mais o que eu faria com um filho que não queria, nem teria condições de sustentar? E quando Ubiracy saísse da Clínica de Recuperação de Drogados? Claro que não me ia querer embuchada de “sabe Deus quem”!...
Consegui o endereço de uma “fazedora de anjos”, nome que se dava as parteiras ou curiosas que por pouco dinheiro faziam abortos. Marquei o “serviço” para uma terça-feira em que estava de folga.
Cheguei à casa discreta por volta das sete da manhã. Junto a outras adolescentes aguardei numa sala espremida e abafada até a minha vez de ir para o ambiente ao lado. Deitei numa maca ginecológica, doparam-se e quando despertei estava tudo feito. Não me foi prescrito nada. Só fui avisada que teria pequeno sangramento por alguns dias...
Mais de uma semana e o sangramento aumentou. Tive febre, calafrios e desmaiei no meu trabalho. Acudida pela Patroa, eu fiquei por cinco dias internada num hospital público com grave infecção que quase me levou a perda do útero.
A Patroa surpreendeu. Comprou remédios e providenciou tudo que eu necessitei depois da alta hospitalar. Foi conselheira sem dar sermões. Graças a Deus e a ela recuperei a saúde e a alegria.