Lembras-te de quando nos conhecemos? Foi há 39 anos, eu era ainda muito jovem, foram as nossas irmãs mais novas, que tudo fizeram para namorarmos, tua irmã dizia para a minha:
- Vamos mandar cumprimentos para os nossos irmãos para que eles começarem a namorar, assim foi, todos os dias mandavam os tais cumprimentos arranjados por elas.
Estudávamos na mesma Escola Francisco de Holanda, morávamos perto um do outro, tínhamos de andar de autocarro, então sentavas-te atrás do meu banco, com os bilhetes fazias bolas que de seguida atiravas para mim, claro como queria dar uma de difícil, olhava para ti, tu fazias de conta que não era nada contigo. Isto foi sucessivamente durante alguns dias.
Até que um belo dia estando eu sentada no recreio, com minhas amigas, a minha irmã entregou-me uma carta que tua irmã lhe tinha entregado escrita por ti (ainda a conservo comigo) minhas amigas ficaram todas invejosas, pois tu eras pretendido por elas todas, mas quis o destino que essa carta fosse para mim, claro meus olhos brilhavam de alegria, pois já estava apaixonada por ti, foi como um clik. Começamos a cumprimentarmos a dizer olá.
Até começamos a andar juntos no autocarro, a levavas-me a casa, quando um dia me pedistes em namoro, aceitei como era de se esperar, ficando radiante.
Tínhamos uma amiga, comum que andávamos sempre juntas, ela também namorava então começamos a andar os quatro. Ficavas sempre a minha esperas para ver se tinha feriado, se tivesse íamos passear. Um dia meu pai viu-me de mão dada contigo e de repente retirei a mão, ficastes todo zangado comigo dizendo não tinha nada que tirar a mão, pois algum dia ele teria de saber, meu pai não se importou até brincou comigo dizendo a minha mãe, ainda brincaram, a partir daí andamos sempre de mão dada, assumindo um namoro normal, foram sensivelmente dois anos até que um dia acontece o inesperado, fiquei grávida, não queria acreditar e depois dizer aos meus pais? não conseguia, até que minha irmã, começou a desconfiar e descobriu, arrebentou a bomba.
Meus pais claro ficaram tristes, mas depois tudo passou, casar, não valia a pena, estudávamos os dois, tu não tinhas o serviço militar cumprido, nem emprego então não havia nada a fazer senão esperar, nossos pais falaram chegando a conclusão de que irias trabalhar, começastes a trabalhar no dia em que nosso filho nasceu, irias fazer a tropa e depois casávamos assim foi.
Foi um casamento, simples só irmãos de parte a parte, como estava já com um filho de quatro anos não quis ir vestida de branco, lembraste foi no dia dezanove de Março de mil novecentos e setenta e sete ás dezoito horas na Igreja do Santuário da Penha: recordaste como ia vestida de saia e casaco castanha escura com um bordado no casaco, não queria que me sentisse noiva de branco sem o merecer, fizemos um jantar no restaurante Montanha na Penha, a única coisa que era de noiva foi o bolo que minha mãe sem eu contar colocou na mesa, fomos de núpcias, lembraste fomos dormir ao hotel na Póvoa de Varzim, será que ainda te recordas, claro como tudo era tão divertido as nossas famílias também. Fomos para núpcias quem tinha que fazer brincadeira connosco, claro tuas irmãs mais velhas com os maridos e lá fomos todos, foi uma festa andamos até as duas horas da manhã, pois não nos deixavam ir para a cama, mas lá chegou a hora e fomos foi tudo tão feliz, na manhã seguinte fomos já só os dois para Viana do Castelo, dormimos no hotel de manhã fomos para Espanha regressando nesse dia para o Porto ver meus pais e nosso filho maravilhoso, levantamo-nos e levamos nosso filho e minha mãe para acabar as nossas núpcias fomos até Sines, Serra da Estrela mostrando e brincando com nosso filho na neve, acabamos a nossa viagem claro começamos com outra viagem o de uma vida normal de casal.
Tudo corria bem, só que meu filho por sua opção e dos meus pais foi ficando a morar com eles, ainda esperamos que ele pudesse regressar para nossa casa mas meus pais já tinham tanto amor, a ele, e ele aos meus pais, que fizeram a opção de ficarem com ele, claro contra a minha vontade, mas como até aos quatro anos foram eles que o criaram.
No fim de três anos de casada, resolvemos ter outro filho, sim tivemos o segundo filho outro menino, ficamos com dois, só que só tínhamos um a morar connosco foram gravidezes muito boas, também fáceis de criar, tiveram uma boa educação hoje são dois maravilhosos filhos.
Tudo corria normalmente éramos felizes, até que ao fim de trinta e seis anos de relação, não sei concretamente o motivo, pois penso serem tantos que já não consigo menciona-los, sem darmos por conta estávamos a contrair um divórcio, o que não aceito de forma alguma, mas meu Deus o que nos levou a tal atitude, impensável por mim e por todos, éramos os últimos a divorciarmo-nos a face da terra, pensei este vai ser o ultimo divórcio no Mundo, não existirá outro.
Hoje estamos um para cada lado, eu dediquei a minha vida a Deus, dedico todo o tempo que tenho a Jesus (cantora, Ministra da Eucaristia e Cursista), á minha família, meus filhos e netos que a todos adoro, são razão da minha existência, vejo-te muitas vezes com outra ao lado e fico imune, pois nada posso fazer para que tudo não passasse de um sonho, mas os motivos da nossa separação foram principalmente ciúmes que tinhas de mim embora, nunca te tivesse dado motivos para isso, pois sempre te fui sou e serei fiel até que a morte nos separe, sou e continuarei a ser a tua mulher porque o casamento católico ninguém separa, ou seja tudo o que Deus Une Jamais Será Separado, por isso serei sempre toda a vida a tua mulher, que te amou tanto, te ama e amará sempre, mesmo sabendo que nunca poderemos viver novamente juntos.
Nada mais tenho a fazer senão agradecer a Deus por tudo o que tem feito por mim, tenho a certeza que também tenho dois anjos da Guarda no Céu que pedem por nós (minha irmã, que nos juntou, e teu cunhado que nunca iria concordar com a nossa separação), Sofri muito bati com a cabeça bem lá no fundo do poço, mas hoje sou uma mulher feliz, pois lutei muito para chegar aqui. Estou só a sete anos, já conformada com a situação. Costumo dizer Cristo e Eu …Maioria absoluta.
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