respira,
sai à rua e pisa essas calçadas de vida,
devasta o dia e o sinal do dia e tudo o que vejas,
devora o canto calmo das crianças.
vem ao sonho mais clamoroso entre o pesadelo mais sombrio,
sobe o volume da existência como se música fosse
e dança, dança de braços abertos, suspensos no mundo.
o sonho, esse sonho vem ao sonho que balança com o sono
em sorrisos na melodia solta ao rir: atravessa o fronteira,
só tu importas neste teatro mundano.
os olhos que mentem são outros sitios noutros lugares.
não sei tudo, não me perguntes nada que eu não sei tudo:
vivo o fim do dia de hoje, vivo o inicio do amanhã que é hoje.
abraça alguém que deseja o teu abraço,
abraça alguém que deseja o teu abraço.
o fim insano nasceu na manhã do desejo utópico,
abraça alguém que deseje um abraço.
podes fotografar aquilo que és, a tua liberdade
é dona da escravidão de tudo o que não me queres mostrar,
o que me escondes de dia para dia, hora para hora.
agora soa este orgulho legítimo, estas palavras que me congratulam,
também como se de música se tratasse.
a verdade não tem tempo na mente, a verdade é a noite
em chamas, eu como combustivel que arde e esbate-se
no luar escuro uma cor avermelhada quase igual à cor humana.
a desvalorização é o retrato do ciúme e da inveja:
sou vitima de um dos sete pecados mortais.
olho-me ao espelho, acho-me perdido e encontro-me feio,
acho uma beleza feia por tudo o que me disseram.
encontrámos um dia morto entre as árvores
da floresta coberta pelo nevoeiro
e decidimos entrar.
caminhámos pelo inferno e pelo paraíso,
pela religião e pelo ateísmo, no fim
de muito tempo esquecido não vimos
nem o diabo nem jesus,
satanás perdeu-se e o todo o poderoso foi atrás,
gastámos muito tempo nos sítios
onde se diz que vivem.
mitologia?
antes de dormires dá mais um beijo
na proa do barco que vai viajar contigo até ao sonho.
na face, o vidro que reflecte a luz inexisteste
e a inexistência de uma sombra:
a casa, os corredores e as paredes vazias sem ninguém.
hoje, o inicio do amanhã, abraça alguém que te deseja.
é madrugada e não dormi,
hoje, o inicio do amanhã.
não dormi o inicio do amanhã.
estou a viajar entre norte e sul,
um passeio vago circunscrito pelos dois pólos
e eu a viajar artificialmente.
o álcool é como uma mulher:
consumido em excesso leva-nos a este poema.
tudo dorme, tudo fecha os olhos ao sono,
é madrugada e não dormi,
não dormi o inicio do amanhã.
abraça alguém que te deseja, abraça
o fim insano que nasceu na manhã do desejo utópico.
Hugo Sousa