Parte II
A ideia da ida à praia tinha sido da amiga dos tempos da Universidade, que reencontrava agora. Mesmo sabendo que não tinham saído com os fatos de banho, lançou a ideia de uns banhos de sol. Apeteceu-lhe de repente, e mais ainda quando pensou não estarem equipados. A ousadia sempre lhe foi reconhecida como uma característica, embora nem sempre como uma qualidade. Por vezes, fazia sentir algum desconforto com as ideias e atitudes algo destemidas e nem sempre bem aceites. Maricéu improvisava sempre, seguindo o vento ao acaso. A facilidade de se relacionar, a capacidade de se adaptar a novas situações dando indicações sempre inovadoras, conferiam-lhe respeito e popularidade.Vai para dois anos que Maria aprecia secretamente essa faceta imprevisível, a princípio apenas no trabalho e mais tarde como amigas. Apenas lhe causa espécie os sacos de artesanato, comprados em uma qualquer feira de Verão, carregados a tira-colo. Conversam muito, sobretudo nos últimos tempos, sobre cinema, livros e um ou outro bar novo.
Maricéu desconhecia o porquê do convite lançado a estas duas amigas. Sempre independente, não foi por certo pela necessidade de suporte. Mais uma vez, o instinto, a necessidade de confrontar realidades, pregou-lhe uma partida. Como o toureiro a espicaçar o touro para a pega de caras, ela forçava o destino. Conhecendo as personalidades potencialmente incompatíveis, cheirou-lhe a atrito, como numa travagem a fundo. Imaginava e bem, que o mundo de Matilde permanecia cristalizado numa juventude rural e simples. Que num outro pólo, não necessariamente antagónico, mas por certo de cruzamento difícil, estará uma mulher cosmopolita. A curiosidade... O barulho, ouvem-no ao longe, aproximando-se à medida que caminham na sombra das fachadas de uma rua pedonal.
(Continua...)
Boa semana!
Garrido Carvalho
Agosto '09