Ouço me chamar
porque não foi
Maria, Dolores?
Porque ouvi meu nome meu Deus?
Logo eu, que tenho fobia a dentista.
Dentada na cadeira macia
fico petrificada
são 3 horas em ponto
todos usam branco
só eu de vermelho (conheço a cor da dor do pranto).
Vem a seringa
depois a xilocaína
por fim a tensão
o suor a escorrer
nas palmas das mãos
e até esqueci o Ave-Maria.
E é um pega- escorrega
um torce-puxa miserável
o doutor troca os instrumentos
a assistente suga minha saliva
insistentemente
e o tempo paira.
O dente entranhado
zomba da minha agonia
da luta que se trava
das lágrimas que se iniciam.
Finalmente ele cede
e quando desce
um soluço, um suspiro
igual a dor de parto
cortado pelo mudo silencio- o alívio.
A sensação de renascer
em que se ganha
quando se perde
onde só na dor
encontra-se prazer.
Rosilene S. Adams