Hoje acordei e o som é sólido.
O canto dos pássaros entra pela minha janela como belas e suaves auroras.
A água com que me lavo mistura-se com pulsões brilhantes e espessas.
A máquina de barbear faz metais cinzentos e ásperos.
O fecho do casaco dispara pequenos sons para todo o lado.
Mastigo algo à pressa e a minha jugular treme alguns ténues véus de cores claras.
Quando fecho a porta atrás de mim esta explode em mil pedaços escuros e gordos que recuam nas paredes.
Agora os meus passos criam crateras duras pelo chão.
Os carros passam por mim e criam espessas nuvens de som que cobrem a luz do sol por toda a rua.
As pessoas amontoam-se com as suas crateras pelos passeios e com o algodão que produzem quando se acotovelam.
Uma porta abre-se e de lá de dentro saem discussões de um rubro inflamado com fôlegos esvoaçantes.
Um cão ladra emaranhados prateados. E o seu dono tira o céu de um acordeão. E as moedas que caem na sua caixa de cartão soltam setas afiadas de clarões de magnésio.
As vozes são fios coloridos que saem das pessoas e se misturam pelo ar. Cruzam-se e voam lentamente. Perdem-se e encontram o seu destino. São tantas cores. Tantas texturas.
São a marca única de cada um. Todas diferentes e todas molhadas pelo líquido que o vento faz quando passa entre as folhas das árvores.
Agora estou contigo. O teu toque larga pétalas brancas.
Suspiras veludo.
Fazes silêncio para conseguires ver o meu sorriso.
E é então que te aproximas e tapas com a mão o teu murmúrio…
Emanuel Madalena