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Clariciana I

 
Lá fora habitava a paz inventada, a paz dimensionada em outro ser. Tolices de uma mente utópica. Sempre quisera buscar fora o que tinha como lar o coração. Mais cômodo não? Ou seria porque foi treinada para possuir? Dúvidas subitamente povoavam seu ser, um ser fadigado de batalhas contra si. Sentia a inconstância vivida por querer sempre o que dela não dependia. Como era tortuoso e longíquo o caminho escolhido para fugir da dor de ter que crescer só. Se soubesse desde cedo que sempre que fugia ou ludibriava a dor ela novamente a esperaria na próxima esquina, descansaria em vez de debater-se em vão. Se soubesse desde cedo que a vida é feita para ser trilhada dentro de si, certamente teria muito mais a oferecer. Sua impressão inicial acerca do propósito da vida deveria acompanhá-la desde que pôde ser compreendida e no entanto quebrou a promessa que fizera a si mesma quando pura. A suposta maturidade juvenil e adulta passaram-lhe a perna. O deslumbramento de ser dona do próprio nariz roubou-lhe a inocência. Agora, teria que desdobrar-se se quisesse retornar ao ponto crucial onde perdeu-se de si. A descoberta banhava-lhe ora de esperança, ora do desespero pelo tempo perdido. Banhava-lhe de suor e lágrimas. Inundava-lhe de um sentimento de que se conseguisse respeitar seus instintos e, ao mesmo tempo domá-los teria o mundo. Ah, mas ardia-lhe na pele e nos órgãos uma dor incomensurável, a conhecida dor que muitas vezes impedia-lhe de mover-se, sabia que sem superá-la seu destino seria nadar e morrer na praia. Mas como desvencilhar-se de um passado recente e retornar àquele que sempre foi e será o ideal? Como despir-se de uma capa que já lhe moldava a alma? Como retirar a máscara imposta e aceita? Como mergulhar novamente no propósito original? Já não dormia mas descobrira que precisava do sono, mestre do repouso e da comunhão de sua alma com o Pai. Sua alma sempre soube o que deveria fazer mas tecera para si a armadilha dos maus hábitos. Então passara a boicotar sua paz interior. Agora pedia licença para dormir horas e dias, para dormir o sono de quem desperta para dentro de si. Enfim.


A paz surge quando reflito no papel o que sinto.
Meu caderno é meu espelho.

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LucianaSilveira
 
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Enviado por Tópico
poesiadeneno
Publicado: 08/08/2009 01:03  Atualizado: 08/08/2009 01:03
Colaborador
Usuário desde: 27/06/2009
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Mensagens: 1405
 Re: Clariciana I
Um texto marcado pelo turbilhão dos sentimentos.

Muito bom.

Grato pela partilha.



Beijo