Seu caleidoscópio caiu e partiu-se em mil pedaços espalhando pelo chão milhares de cores e formas.
E então ela descobriu que a vida não era tão colorida como o caleidoscópio que sempre usara.
Respirou fundo.
Chorou.
E foi um pranto tão sentido que se sentia em êxtase, ao mesmo tempo que doía a nova constatação era como se sentisse especial com essa nova descoberta.
A noite já retornava e uma lua que levitava no céu, iluminava clareando os sentidos e trazendo esperança. Uma esperança esperada mas sofrida...
Sentia-se envergonhada... não por ter cometido tantos erros durante toda sua existência, nem por ter olhado pelo caleidoscópio na tentativa de melhorar o mundo mas por ter fugido sempre do negro não percebendo que a fusão de todas as cores resulta na cor preta. Isso ela não podia ter ignorado. Era por isso essa dor imensa tardiamente sentida. Não poderia passar por cima, queimar etapa e ficar ilesa dessa constatação.
Sentia-se tremendamente egoísta...por muitas vezes tivera a chance de repartir a visão do caleidoscópio e não o fez porque era mais cômodo habitar seu ilusório e utópico mundinho. Como o Pequeno Príncipe solitário no seu asteróide.
Tivera, por alguns minutos, raiva de si mesma...decepção consigo por não ausentar-se de suas asas por um tempo. Ficar com os outros no chão. Não precisava ser por muito tempo, ela poderia ampliar seu campo de visão e retornaria ao seu mundo somente para renovar suas forças. Como o Pequeno Príncipe solitário no seu asteróide resolveu sair e conhecer outras coisas no mundo...