Carta 5.
Mãe, não sei se continuo com as cartas. A senhora não mandou o dinheiro, por quê? Mãe, o pai antes de viajar para cá, dentro do avião, ele me disse: “filha, quando eu morrer coloque uma peruca loira em mim, prometa que vai colocar”. Mãe, eu não tinha dinheiro para por a peruca no pai. Manda o dinheiro pelo menos para por o cabelo loiro nele. Beijos!
Carta 6.
Mãe, arrumei dinheiro com o prefeito/médico aqui da cidade. Mãe, ele arrumou uma peruca bonita para o pai. Mas uma parte do pai continua lá no quintal; explico. Eu peguei o crânio dele e coloquei a peruca, deixei em cima da mesa, o crânio. Às vezes, acho que o pai quer falar algo comigo. Ele tem um olhar tão vazio, mãe. Conta-me mais sobre esse olhar. Mãe, manda dinheiro, eu quero ir embora.
Carta 7.
Mãe, aqui no Suriname, depois que a pessoa morre ninguém elogia. A senhora acredita que um dos pastores alemães — o que não comeu o cu o do pai — entrou na casa e derrubou o crânio. A cabeça do pai quebrou, o pai morreu mãe. Mãe, meu dinheiro acaba hoje. Por isso, esta será a última carta, caso a senhora não mande o dinheiro. Tudo no Suriname é caro, mãe, tudo, tudo…