Contos : 

O Templo

 
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Do Templo, sabemos que era grandioso e sublime. A porta principal, desenhada por um arquitecto de nome desconhecido, estava voltada para poente,e era uma fonte de interesse, demasiado evidente.
Em 1877, Frederic Cornwell,falava de um deserto imenso, onde existia uma encruzilhada com uma bifurcação, e em cujo caminho que seguia para oeste era visível uma Pirâmide, de dimensões colossais. Algo de misterioso encerrava esta sua descrição de uma das muitas viagens que Cornwell fizera a África, mais precisamente,ao Egipto.
Nesse mesmo ano, morre F. Cornwell , de uma forma que podemos considerar desprezível: batera-se numa luta sem história, por uma mulher de comportamento duvidoso. Conta-se que antes de morrer, as suas últimas e derradeiras palavras foram:todos os caminhos são apenas a Luz de um único caminho que conduz ao Templo e à Pirâmide.
New York, (1917) - Truman Capote vagueia numa rua sombria, sem conseguir escrever algo de memorável no seu livro de contos, " Música para Camaleões".
Não muito longe do lugar onde se encontra, num quarto de hotel M. Monroe conversa sobre algo efémero, com Henry Miller.
A uma grande distância dali, em pleno deserto abrasador, junto ao que restava de uma antiga parede e não muito distante do Templo jaz um corpo. Permanece ali não se sabe como nem porquê. O seu rosto apresenta um olhar tão assustado, que dir-se-ia ter visto algo sobrenatural.
Os anciãos daquelas paragens dizem pertencer a F. Cornwell. Dizem, que o tempo tudo apaga: velhas recordações, conhecimentos e factos que não voltarão a repetir-se. Na planta da sua mão direita são visíveis alguns traços impressionantes, que fazem lembrar um caminho para um Templo e uma Pirâmide.
O seu corpo, foi enviado para o Cairo para investigações.
Muitos anos se passaram desde esse memorável momento, escrito a fogo sob o céu estrelado do deserto.
New York, (Março de 2008) - um homem vestido de negro entra na Biblioteca Municipal e pede de uma forma quase inaudível um livro ao bibliotecário.A resposta não se fez esperar:- aqui tem o seu livro,Sr. Cornwell.

Neno*

*Singela homenagem a Jorge Luís Borges
 
Autor
poesiadeneno
 
Texto
Data
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1871
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/08/2009 18:18  Atualizado: 01/08/2009 18:18
 Re: Contos Absurdos
Impressionante esse texto!
Nunca tinha me inteirado dessa verdade...

Parabens por essa beleza de leitura!
Beijos!
Rosa



Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 01/08/2009 19:14  Atualizado: 01/08/2009 19:14
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Localidade: Lisboa
Mensagens: 3731
 Re: Contos Absurdos
Neno,

Fiquei aqui a ler e reler...e as palavras para comentar não conseguem sair.

bjs
Eduarda


Enviado por Tópico
onedelicatebutterfly
Publicado: 01/08/2009 19:43  Atualizado: 01/08/2009 19:43
Participativo
Usuário desde: 26/07/2009
Localidade:
Mensagens: 31
 Re: Contos Absurdos
Belíssimo!
Beijinho!

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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/08/2009 10:23  Atualizado: 02/08/2009 10:23
 Re: Contos Absurdos
Muito bem escrito. Gosto destes contos absurdos, porque muito da vida reside no inexplicável e absurdo. Mas acredito em mundos paralelos e janelas dimensionais no Tempo. :0).

Vou levar e recomendo.

beijo azul


Enviado por Tópico
ROMMA
Publicado: 02/08/2009 19:06  Atualizado: 02/08/2009 19:06
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Localidade:
Mensagens: 2460
 Re: Contos Absurdos
Olá Neno!

Não sei se são absurdos estes contos! Provavelmente o pensador Jorge Luís Borges não achava! Alem disso, existem coisas dificeis de entender, de compreender, de decifrar...acrósticos??? :)) Algo transcendente, que não somos capazes de alcançar!!
Mas ele tem tb pensamentos mto interessantes, como este que eu adoro:

"Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti, mas viver sem amor acho impossível." :))

e ainda:
"A humanidade é infeliz por ter feito do trabalho um sacrifício e do amor um pecado"

esta ultima muito verdade, no hoje.

Um beijo para ti!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/08/2009 00:24  Atualizado: 03/08/2009 08:52
 Re: Contos Absurdos
"Ninguém poderá esquecer-lhe a cortesia;
Era a não procurada, a primeira
Forma de sua bondade, a verdadeira
Cifra de uma alma clara como o dia."

Elogio da sombra (J.L.Borges)
Feito para o filho do prefeito de Buenos Aires.

E Ficções de J.L. Borges.

Tenho os dois livros, os quais também os escaniei e coloquei em arquivos.
Coisas de seminário(Teologia)

Um bom escritor que faz a história literária não morre, não é verdae?

Abraço fraterno


Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 03/08/2009 00:38  Atualizado: 03/08/2009 00:38
Colaborador
Usuário desde: 02/04/2009
Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: Contos Absurdos
Absurda acaba por ser a nossa existência, tantas vezes a cair nos braços da ridícula insanidade.
Um abraçooo!
Abílio


Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 03/08/2009 01:50  Atualizado: 03/08/2009 01:50
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: Contos Absurdos
Absurdo e ao mesmo tempo fantástico, Neno!
Aqui está um belíssimo conto que dava um belo de um guião para um filme...

Gostei imenso!!

Beijo