Todas as interrogações são legítimas e Deus não é, nem pode ser, propriedade de ninguém em particular, nem de todos em geral. Perguntar não ofende. E no perguntar está a humildade que é pressuposto de todo e qualquer princípio de conhecimento. Deus só pode ser Absoluto, com todos os atributos de grandeza e de bondade de que a linguagem humana é capaz. Não pode ser outra coisa, nem menos do que isso. Se eu admitisse (e não só admito como creio) que Deus pode existir, então eu estaria perante o problema, o verdadeiro problema da minha vida. Enquanto não tirasse a limpo uma resposta sobre as minhas suspeitas, dúvidas, probabilidades, por que haveria de dar de barato um assunto tão crucial? Por que haveria de arriscar a minha ombridade, rectidão, honestidade intelectual, quando era meu elementar dever tirar as dúvidas antes de afirmar? Não seria por qualquer temor de que Deus existisse e eu não soubesse quando podia haver formas de o saber. Seria por um imperativo racional de objectividade. Tanto o crente como o não crente não escapam à exigência da objectividade. No plano do discurso, do dizer e do formular, cada um pode ser subjectivo, quase sem limites. No plano da Fé e da Ciência os subjectivismos, quando se manifestam, carecem de algo mais do que de verosimilhança. É que Fé e Ciência, tantas vezes apresentadas como diferentes e inconciliáveis, são manifestação e expressão de conhecimento, ainda que limitado e imperfeito, como todo o conhecimento. As limitações das ciências e dos métodos científicos são muitas. As da fé não são menos. Há mistérios. As ciências também têm vindo a declarar alguns. Tentar ver contradições, ainda por cima insanáveis, entre fé e ciÊncia, pode ser um exercício como outro qualquer, certamente profícuo nas conclusões que permita alcançar. Teoricamente, todas as hipóteses podem e devem ser colocadas, investigadas e testadas, para bem do conhecimento e da sabedoria.
Em questionar, seja o que for, não estará mal algum. No responder e no afirmar é que pode.