Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.
fui uma escada construida ao longo do tempo que por aqui passei.nesta casa.neste sofá.encontrei-me na gaveta.uma gaveta fechada mas não trancada.dá acesso à cave.um anfiteatro.desci.encontro-me aqui neste espaço.sem medo.sem nada.ausente.um silencio roça os sapatos desta escada.esta cave.de vidro.não de espelho.degraus partidos.a fragilidade de ter medo.este é o espaço do suicida.do enforcado.lembro-me da corda.a corda do enforcado.também ela fazia parte deste cenário.o meu percurso para aqui chegar foi um pensamento. uma língua roxa.e o sangue.o sangue agora seco faz-me lembrar o sucedido.ainda este rosto.este pescoço esticado.o suicida ainda vive neste corpo.nesta cave de escadas de vidro frágil.dança a corda no tecto.todo o homem foi construido através deste suicida.deste corpo pesado.deste corpo morto.este transeunte pesado.depois da agonia a libertação.a minha verdadeira natureza.a natureza das coisas palpáveis e o que fora imaginado.liberto-as da corda.as mãos e o corpo.um ultimo cansaço.este momento fatigado depois de tanta ausência.o ar pesado.este regresso.compreendi enquanto viajava por este corpo que o tempo é superfluo neste espaço.nesta casa.não passa.melhor é não usa-lo.que capricho este de não usar cinto.neste corpo.neste refugio.apenas o robe.raramente olho para este espaço e duvido que seja apenas meu.outros habitam.há também um desenvolvimento colectivo.e usamos esta intelectualidade como elástico para com o pensamento.este cordão umbilical.pudera eu rasga-lo.desprender-me dele.este cordão umbilical cerebral.este quarto.o útero.a concha.é um caixão intelectual.não morro ainda.o suicídio do arquitecto.e esta casa sofre alterações.esta casa de emoções vivas.esta casa de canções mortas.esta ressaca de não dizer nada.esta ausência.um outro desafio é ser racionário para a possibilidade de desfrutar deste espaço sem pagar renda.ausência.é uma pedra profundamente abalada para alem de ser sofrimento.há luz.porque vivo passagens.porque faço constantemente viagens.e retomo o mesmo caminho até ao pórtico de origem.há dor no regresso.no real.o ser humilhado.o ser sodomizado. o ser enforcado.há também o prazer de viver um morto.é uma instituição de leveza do pensamento.é uma carga pesada de responsabilidade.e sobrevivência.esta pedra.o habito do homem comum é esta pedra.para sempre.