O amor são sonhos que ergues no coração por não teres os pés pousados na terra, imaginas ter um buraco no peito e buscas em todos os cantos na tentativa de o preencher, mas o buraco não o tens no peito, o buraco tens-no no corpo e é ele o próprio peito, é eternamente um lugar vazio, ele é céu e vale, por ele passam todas as coisas, mas ele em si é sempre coisa nenhuma, ausência apenas de tudo o resto, por isso o amor dos homens é inevitavelmente uma actividade disfuncional da mente, tentando preencher aquilo que nunca será preenchido, o verdadeiro amor é apenas olhar e ver passar e ser feliz assim, os que tentam encher o coração com os corações dos outros querem abastecer o céu de ar, atafulhar o vazio com silêncio, o que procuram é coisas que as mãos possam e queiram agarrar, mas para que quereria o peito as coisas das mãos?, aquilo que as mãos tocam o coração não almeja, aquilo que a cabeça sonha nada diz ao mundo que habita no peito, ele é sempre completo por si mesmo, como um olho que para ser pleno apenas precisa de olhar, perfeita visão mesmo que nada seja visto, ao coração basta olhar e ver tudo o que se mexe dentro dele, como corpos que se movem dentro de uma casa sem nunca derrubar ou manchar as paredes, assim é o coração, é ele o mais profundo amor, é a mais sólida parede que se ergue dentro do peito, as sombras e medos e fantasias da cabeça do homem nunca racham a muralha de ar e luz que vive no centro da alma do homem.
Não precisas de responder às tuas questões. Precisas é de questionar as tuas respostas.