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Um site de poesia à beira-mar plantado

 
 
Credo, um poema novo, vou já ler. Minha nossa, que coisa tão linda, que poema de amor tão forte, penetra na minha alma, como se noutro sítio fosse. Amor à primeira leitura. Apeteceu-me agarrar na fotografia vaga da escritora e possuí-la, já ali, com todas as forças psíquicas que tinha.

Cinquenta pessoas a achar que o parágrafo acima foi a sério. Outras cem a achar que foi irónico. Outras vinte a achar que foi uma calúnia, uma ofensa pessoal, e que este texto se dirige única e exclusivamente a elas. Quem me dera fazer amor com os seus egos, num orgasmo gigantesco como o tamanho dos amantes.

Quem me dera ter duzentas e cinquenta e seis imagens à disposição para espalhar por este poema sem ordem. Quem me dera ter vídeos e animações, para criar o ambiente de intensa paixão que quero viver com alguém.

Mas um dia, decidi expelir o meu espírito e levá-lo a passear. Surrealizei-me, inventando palavras que não existem, encarnando o escritor que não sou. Pisei terras desconhecidas em sapatos do tamanho de outro. Doeu, mas os meus pés encolheram. E quando voltei a mim, tinha os pés pequenos. E gostava de meter imagens nos meus poemas. E gostava que me comentassem os poemas, como se me amassem de uma forma absoluta e única. Também gostava de fazer tudo e mais alguma coisa e porra nenhuma também.

Tudo porque os pés encolheram tanto que me faziam tropeçar e cair. E eu nunca tinha caído antes. Antes, não percebia que tinha os pés grandes e equilibrados, calcanhares feios e robustos que faziam de mim pessoa simples e afável. Mas também posso ser estúpido, incrível, absolutamente espantoso na minha idiotice. Que será fantástica para mim, dependendo do tamanho dos meus sapatos.

A moral da história é: todos cometemos erros e devemos aceitar toda a gente como ela é.

Oi? Espera... Não é isso, coisa nenhuma! Tenho direito a odiar pessoas. Tenho direito a meter cascas de banana espalhadas por este texto, para que vocês possam todos cair na porcaria que as formigas fazem e não se vê. Tenho também o direito a ser odiado, o direito a ser desprezado e o direito sádico de gostar que me odeiem e me mandem uns tabefes na cara, sentindo o poder de outra pessoa que me domina com um chicote e a cara tapada. Não sei que tamanho de sapato teria de usar para isso, no entanto.

O meu objectivo é fazer-vos perder dois minutos da vossa vida a ler este texto que diz muito e não diz nada. Lição de auto-estima? Talvez. Moral e ética? Hmmmm... Sermão sobre a diversidade? Nunca tive jeito para padre.

Mas vá, se querem mesmo um propósito... Eu não tinha mais nada que fazer. Estava aqui sentado, a pensar numa forma de continuar a minha existência doentia e incómoda para a sociedade, afogado num oásis de auto-estima e um deserto de falta dela, pensando num amor que devia ter e não tenho, no dinheiro que gastaria se o tivesse, no livro que faria se não calçasse o 42.

 
Autor
AntonioCarvalho
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/07/2009 00:42  Atualizado: 22/07/2009 00:42
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
Jogo de palavras
misturadas com verdades
muitas vezes camufladas
...ah eu Li..não estava fazendo nada..
GOSTEI!!!

Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 22/07/2009 00:53  Atualizado: 22/07/2009 00:53
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado p/ antóniocarvalho
mmm...desencantado, companheiro?não fiques... e não calces os sapatos de ninguém.usas os teus.gosto da tua existencia genuína.abraço.

Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 22/07/2009 11:45  Atualizado: 22/07/2009 11:45
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8112
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
Concordo. Também deambulo aqui muito entre a tolerância, o desencanto e por vezes a raiva...

Enviado por Tópico
MariaDeCarvalho
Publicado: 18/03/2010 21:48  Atualizado: 18/03/2010 21:48
Da casa!
Usuário desde: 11/03/2009
Localidade: Suiça
Mensagens: 421
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
Acho que me fazias perder 15 minutos da minha vida, se caso não tivesse lido este texto,

O quê que achas que eu poderei fazer com um 36?

Até breve,
Maria


Enviado por Tópico
Avozita
Publicado: 18/03/2010 21:56  Atualizado: 18/03/2010 21:56
Colaborador
Usuário desde: 08/07/2009
Localidade: Casal de Cambra - Lisboa
Mensagens: 4549
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
Valeu a pena perder, ou terei ganho?
os dois minutos de leitura.
Entre trocadilhos de palavras e entrelinhas,
muito foi dito e bem.

Abraço
Antonieta


Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 18/03/2010 22:11  Atualizado: 18/03/2010 22:11
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
apesar de todos os meus defeitos
gostei de ler

abraço


Enviado por Tópico
MariaDeCarvalho
Publicado: 20/03/2010 20:59  Atualizado: 20/03/2010 20:59
Da casa!
Usuário desde: 11/03/2009
Localidade: Suiça
Mensagens: 421
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
Gosto de reler este texto.
Está muito bem escrito e muito cativante do princípio ao fim...

Não é fácil, muito bom...

Até breve,
Maria

Enviado por Tópico
fotograma
Publicado: 08/11/2012 02:04  Atualizado: 08/11/2012 02:04
Colaborador
Usuário desde: 16/10/2012
Localidade:
Mensagens: 1473
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
que texto bacana e tão atual

Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 08/11/2012 02:14  Atualizado: 08/11/2012 02:14
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: Um site de poesia à beira-mar plantado
kkkkkkk...
adorei esse oásis em número 42.
eu, com a vida em um canto qualquer, sem nada
para fazer... esbarrei nessa maravilha.
(obrigada) bjs